sábado, 26 de novembro de 2011

problemas reais

Bom dia, amigos. Recebi hoje uma mensagem pessoal relatando o problema de quase 2.000 pessoas ameaçadas de morte por esse Brasil-afora, por denunciarem crimes, abusos, extração ilegal de madeira, invasão de terras indígenas, etc. Pensando nos problemas que me afligem nesses dias, me senti um tanto mesquinho. Isso é bom, não é ruim. Prefiro viver e conviver com as questões reais desse nosso mundo. Pode ser que não me deem dinheiro para filmar, mas sempre me darão assunto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

complementando desabafo

Quero aqui saudar o cinema brasileiro tanto por seus filmes, seus talentos, quanto perla luta de todos pela nossa existência como cineastas. Devo minha carreira a esse cinema, fiz e faço parte dele. Peço que não leiam meu desabafo nem como "jogar a toalha" nem como negação do atual cinema brasileiro. Desabafos como o meu muitos e muitos cineastas, de todas as idades, poderiam fazer. Não quero também diminuir o que já disse achando que o texto está direcionado a pessoas ou a instituições. Há um vazio na política cultural brasileira. E também um messianismo militante de alguns dirigentes que pensam saber mais do cinema brasileiro do que os próprios cineastas. Dirigentes que decidiram que a partir de agora o cinema deve ser medido apenas pela bilheteria, sem riscos, sem propostas: quem deu certo leva tudo. É de um primarismo absurdo. Ainda mais entre nós, onde todos os recursos, seja para filmes absolutamente e só comerciais, seja para os absolutamente experimentais.
QUE SE CULTIVE TUDO, COMERCIAIS, MEIO COMERCIAIS, AUTORAIS, EXPERIMENTAIS! cada um na sua esteira, sem eutanásia e sem esse darwinismo cultural!

Sobre jogar toalha: nada disso. Há decisões esperadas (certamente já tomadas mas não divulgadas) e devo esperar. E há muita luta pela frente, tenho recebido muitos apoios e promessas, buscando recursos para meu novo projeto, o "Vila dos Confins", adaptação do maravilhoso romance de Mário Palmério.
E eu mesmo preciso pensar que por todo lado, mesmo nas instituições, federais e aqui mesmo em SP, há pensamentos discordantes e idéias de mudanças.
E há também a esperança enorme de que a lei que abriu as TVs para a produção independente entre mesmo em vigor, que isso abra bastante o mercado de trabalho e a possibilidade de um grande diálogo de nosso cinema com o povo brasileiro através das telinhas.
É preciso lutar.

desabafo

Recebi mensagens muito amigas. Algumas me perguntam qual a dificuldade. Eu sempre me pergunto se o minha vida é o cinema ou se o cinema é que é minha vida. Quem pertence a quem. A resposta poderia me ajudar a suportar a dificuldade em retomar minha carreira, depois de tantos filmes, tanta história, tanta luta, tantos prêmios, tantas homenagens. Tenho me mantido sereno, racional, tenho procurado falar com amigos. Mas tenho denunciado também a política de exclusão e a eutanásia cultural. "Novos" valores pedem "novos" cineastas. Serão mesmo "novos"?- por trás de tudo há uma luta cega pelo poder. E pelos recursos. Na Europa, os cineastas podem dizer que morrerão filmando. Não no Brasil. Aqui somos descartáveis. Venho vivendo esse desrespeito desde os anos 90, fazendo filmes na marra, na contramão, com escassos recursos e apoios. Há dez anos não ganho um só edital de produção e se não parei é por que comecei minha vida de cineasta assim, fazendo filmes na pura loucura, sem dinheiro. Assim fiz o "Rua Seis sem Número " (Berlim/2002) "Vida de Artista" (Melhor filme Fest. Mostra Filme Livre Rio/2004), "Veias e Vinhos" 2006, "Vlado, 30 anos depois"( 2005). Mas chega um momento em que é preciso voar mais, sair das pequenas produções, voltar ao meu ciclo virtuoso dos anos 80 com "Doramundo" (Melhor filme Gramado/78), "O homem que virou suco" (Melhor Filme Moscou/81), "A próxima Vítima" (vários prêmios1983), "Céu Aberto" (Melhor filme Office Catolic/1985 e muitos outros prêmios), "O País dos Tenentes" (Melhor filme Festval do Rio/1987 e muiiiitos prêmios). É o ciclo de filmes que seguiram a história do Brasil da ditadura à abertura. É isso. Me danei em 90, com o plano Collor, perdi o filme de ficção que faria sobre o Vlado (Vladimir Herzog. Me auto-exilei em Goiás, voltei em 2002, fui Secretário da Cultura de SP, elaborei e implantei a Lei da Cultura, o PROAC que injeta milhões de reais todos os anos na produção cultural desse estado. Saí da Secretaria da Cultura pensando em voltar à minha carreira de cineasta. É difícil. Como já disse, o desrespeito é enorme: há dez anos não ganho um só edital nem estadual nem federal. E posso garantir: os projetos são bons e tenho toda a minha carreira como aval. Olha, eu gosto de muita coisa na vida: gosto de cinema, gosto de escrever, gosto de desenhar, gosto de mato ( tenho paixão pelo cerrado e conheço ali as frutas, as plantas, os animais). Não pertenço ao cinema e nenhum laço covarde vai me prender a a essa cadeia de insensatez e covardia. Pois o descarte dos veteranos é mesmo uma eutanásia cultural que denuncio. Daqui a poucos dias completo meus 72 anos, quase 50 deles dedicados ao cinema e à luta do cinema brasileiro. Sou ainda um garoto em todos os sentidos: fisica e mentalmente. E vou procurar minha vida em algum prazer de viver, fora dessa perigosa irracionalidade que, infelizmente, não tenho conseguido mudar.
. Se for assim, ficarão minhas obras, meus livros, meus textos, a memória de minhas lutas, as entidades e festivais que criei ou ajudei a criar, minha presença um tanto fantasmagórica pela história dos últimos 50 anos do cinema brasileiro e de nossa política cultural. O QUE NINGUÉM PODERÁ FAZER É ME IMPEDIR DE PENSAR E SER CRÍTICO, EXPOR MINHA INSATISFAÇÃO COM O MUNDO EM QUE VIVEMOS

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pressão das TVs

Para se entender melhor a pressão das grandes emissoras de Tv contra a regulação que abre espaços para o cinema brasileiro (produção independente),acho imprescindível ler artigo da Carta Maior sobre pressão das TVs contra qualquer regulação:
http://​observatoriodaimprensa.com.​br/news/view/​_dez_fatos_que_a_grande_imp​rensa_esconde_da_sociedade

O artigo mostra como em todos os paises "exemplares" sob o ponto de vista de democracia (França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal, etc.) tem muito mais regulação do que se propõe fazer aqui.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

oposição e TV

Tenho pedido aos meus amigos ( e às vezes companheiros de muitos anos) que não se deixem levar pelos argumentos de sempre das TVs para manterem o Cinema Brasileiro fora das telinhas. "Liberdade de expressão", "liberdade de escolha pelo espectador", deus do céu., E a nossa liberdade de expressão em nosso próprio país? - e desde quando o telespectador teve "liberdade" para escolher qualquer coisa?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

abertura nas TVS

Nem abriu ainda e as poderosas TVs se movimentam para, na regulamentação da lei 12.485, inviabilizar o ingresso do cinema brasileiro, da produção independente, nas TVs.
Aqui, do alto da Mantiqueira ("Serra que chora", nalguma lingua indígena daqui), recuperando-me de uma pneumonia, vou acompanhando a movimentação quase febril de cineastas para ocuparem esse espaço aberto pela lei.
É um momento difícil, eu chamaria de "avanço do atraso" ou "modernização conservadora" na sociedade brasileira.
Não há exatamente uma abertura para o futuro, mas um remendo do passado, um pequeno furo por onde podemos passar se forçarmos, espremidos até o limite de nossa capacidade.
Mas eu já fiz bons trabalhos na TV Cultura, governamental, em plena ditadura.
E na maior TV brasileira,na época apoiadora da ditadura...
Tem moleza não, no mundo da cultura...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

OcupeSampa

Tenho seguido e filmado esse movimento de jovens sob o Viaduto do Chá, seguindo o que tem acontecido no mundo, principalmente Estados Unidos. Há um sentimento juvenil ali, anti-capitalista, retomando em muito o movimento estudantil de 68.
Hoje postei no Facebook ( vejam em "joão Batista Andrade") o seguinte texto:

Olá amigos. Facilidade de comunicação via redes sociais pode gerar equívocos. Facilidade nenhuma gera movimentos, revoluções. Ouvi na aula livre sob o Viaduto do Chá uma frase que acho equivocada e perigosa: que alguém tem que se expor ao perigo para ser seguido. É, na verdade, a teoria do foco: um grupo age e a sociedade segue, gerando a revolução. É uma simplificação e gera o perigo de sacrifícios inúteis. Penso que quando isso parece ter dado certo é porque as condições estavam maduras para isso na sociedade. É preciso "feeling" político, militância e capacidade de análise para agir.


Obs: O professor ( aliás numa excelente exposição) citou o caso dos 4 jovens negros norte-americanos que resolveram ocupar uma mesa de brancos num restaurante, - e também a mulher negra que ocupou banco de brancos em ônibus,iniciando a revolução negra nos Estados Unidos.
O que o Prof esqueceu de dizer é quantas vezes isso foi tentado e quantos morreram ou foram presos ou massacrados por esse tipo de ação, antes de uma ou duas darem certo.