Ainda em abril, publiquei um texto sobre nossos desafios. Republico aqui, com uma observação inicial importante sobre nós, como ficamos nessa espera, confinados e diante de tantos absurdos.
Temos que preservar nosso espírito crítico, pensar que a todo momento a vida exige de nós uma presença, mesmo que os limites sejam ainda tão estreitos. Em algum dia nossa participação se dará na luta aberta por um país mais democrático, mais culto, mais justo, menos violento, não preconceituoso, - tomando esse sofrimento atual como exemplo de tudo que não pode mais se repetir.
Eis o texto anterior, creio que ainda plenamente válido.
"Pouco a pouco as notícias, as ameaças, as quedas, deixam de nos tocar. É como a construção de uma insensibilidade diante do mundo, a sensação de que nada muda. Tudo ruim, continuará ruim e é assim que vamos viver. A esperança é que sejamos conscientes desse processo desanimador e que, antes da desistência, cresça em nós a exigência. Queremos seriedade na política, na mídia e em nossa vida. Queremos que os líderes ou candidatos a líderes atuem com mais firmeza, sem maneirismos. Que assumam de verdade compromissos que amarrem a opinião pública em propósitos e ações de recuperação e atualização da democracia brasileira. O resto é o dia a dia enjoado, enebriante e enganador de factóides, fakes e agigantamento de pequenos ou falsos perigos que muitas vezes tomam para si nosso humor, nosso desespero, nosso ódio. Não podemos encostar o corpo e nem nossos sonhos. Temos que preservar nosso espírito crítico, lutar como pudermos, pensar que em algum momento a vida exigirá de nós uma presença aberta na luta por um país mais democrático, mais culto, mais justo, tomando esse sofrimento atual como exemplo de tudo que não pode mais se repetir.