terça-feira, 12 de maio de 2020

Tempo de nos prepararmos

Ainda em abril, publiquei um texto sobre nossos desafios. Republico aqui, com uma observação inicial importante sobre nós, como ficamos nessa espera, confinados e diante de tantos absurdos.
Temos que preservar nosso espírito crítico, pensar que a todo momento a vida exige de nós uma presença, mesmo que os limites sejam ainda tão estreitos. Em algum dia nossa participação se dará na luta aberta por um país mais democrático, mais culto, mais justo, menos violento, não preconceituoso, - tomando esse sofrimento atual como exemplo de tudo que não pode mais se repetir.
Eis o texto anterior, creio que ainda plenamente válido.
"Pouco a pouco as notícias, as ameaças, as quedas, deixam de nos tocar. É como a construção de uma insensibilidade diante do mundo, a sensação de que nada muda. Tudo ruim, continuará ruim e é assim que vamos viver. A esperança é que sejamos conscientes desse processo desanimador e que, antes da desistência, cresça em nós a exigência. Queremos seriedade na política, na mídia e em nossa vida. Queremos que os líderes ou candidatos a líderes atuem com mais firmeza, sem maneirismos. Que assumam de verdade compromissos que amarrem a opinião pública em propósitos e ações de recuperação e atualização da democracia brasileira. O resto é o dia a dia enjoado, enebriante e enganador de factóides, fakes e agigantamento de pequenos ou falsos perigos que muitas vezes tomam para si nosso humor, nosso desespero, nosso ódio. Não podemos encostar o corpo e nem nossos sonhos. Temos que preservar nosso espírito crítico, lutar como pudermos, pensar que em algum momento a vida exigirá de nós uma presença aberta na luta por um país mais democrático, mais culto, mais justo, tomando esse sofrimento atual como exemplo de tudo que não pode mais se repetir.


quinta-feira, 23 de abril de 2020

seguir lutando

Pouco a pouco as notícias, as ameaças, as quedas, deixam de nos tocar. É como a construção de uma insensibilidade diante do mundo, a sensação de que nada muda. Tudo ruim, continuará ruim e é assim que vamos viver. A esperança é que sejamos conscientes desse processo desanimador e que, antes da desistência, cresça em nós a exigência. Queremos seriedade na política, na mídia e em nossa vida. Queremos que os líderes ou candidatos a líderes atuem com mais firmeza, sem maneirismos. Que assumam de verdade compromissos que amarrem a opinião pública em propósitos e ações de recuperação e atualização da democracia brasileira. O resto é o dia a dia enjoado, enebriante e enganador de factóides, fakes e agigantamento de pequenos ou falsos perigos que muitas vezes tomam para si nosso humor, nosso desespero, nosso ódio.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Dúvida

Não sei se ficou
Ou se vou.
Não sei se vou ou se fico.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

PCB UM POUCO DE HISTÓRIA E POLÊMICA

Facebook  15Dez2017


Não vou deixar passar batido. Há 50 anos se realizava nas proximidades da Represa Billings, em São Paulo, na mais completa clandestinidade, o 6o. congresso do PCB. A reunião ocorreu em condições dramáticas, porque o Cenimar - serviço de inteligência da Marinha - havia infiltrado um agente entre os delegados de Pernambuco, que foi interceptado no Rio de Janeiro. O local do Congresso, na mata fechada, foi construído especificamente para isso, num esforço comandado por Dinarco Reis, responsável pela organização. Foi preciso fazer uma barragem para obter água para os banheiros; na cozinha, um forno de padaria, porque qualquer compra feita nas cidades próximas despertaria suspeitas, ainda mais porque o Jornal do Brasil havia noticiado que o Congresso estava em curso. Na véspera de começar, Salomão Malina, responsável pela auto-defesa, foi desativar uma granada defeituosa, que explodiu muito próximo da árvore que o protegia, lhe arrancou os dedos da mão direita e perfurou seu pulmão. Foi internado em coma, clandestinamente, operado de emergência e removido do hospital entre a vida e a morte. Mesmo nessas condições, o Congresso foi realizado concluído em segurança. Aprovou uma resolução política que orientou a atuação dos comunistas até a conquista de democracia e a legalização do PCB. A política de frente democrática -- "o centro da nossa tática é unir, organizar e mobilizar a classe operária e demais forças antiditatoriais na luta pela redemocratização do país" - apostava na resistência de massas, na participação nas eleições e na aliança com os liberais para derrotar a ditadura, rechaçando a luta armada como um instrumento eficaz de resistência ao regime. Foi a linha justa, a luta certa, cujo coroamento se deu por etapas, numa longa transição. Passou pelas vitórias eleitorais de 1974 e 1978, pela anistia em 1979, pela vitoria da oposição em 1982 e a eleição de Tancredo Neves, em 1985. Nesse processo, houve violenta repressão ao PCB, com prisões em massa em 1975, que culminaram na morte de Vladimir Herzog, depois do sequestro e desaparecimento de muitos dirigentes, entre os quais Orlando Bomfim, Luiz Maranhão, David Capistrano, João Massena, Itau Jose Veloso, Célio Guedes, Jose Montenegro de Lima, Jose Roman, Elson Costa, Valter Ribeiro, Hiran de Lima Pereira e Jayme Miranda. Mesmo depois da anistia, a perseguição prosseguiu. Coincidentemente, no dia 13 de dezembro de 1982, ou seja, há 35 anos, 89 dirigentes e militantes do ZoCB foram presos na Praça Dom Jose Gaspar, no centro de São Paulo, durante a abertura do 7o. Congresso, que foi interrompido, mas foi ali que se conquistou a legalidade, pois todos os participantes logo foram libertados. Apesar de processados com base na Lei de Seguranca Nacional, nunca fomos condenados ( eu era um dos delegados eleitos pelo Rio de Janeiro) , pois o julgamento foi suspenso e, logo depois, no dia 8 de maio de 1985, o PCB foi legalizado.
Comentários
Paulo Santa Rosa Parabéns por mais esse resgate de uma história que nos dá orgulho!
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Zébeto Fernandes Azedo e seus grandes documentários da luta democrática
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Hilario Antonio Gonçalves Azedo está nos devendo um livro sobre esse período da luta democrática e de como os comunistas do PCB participaram dessa luta.
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Dionary Sarmento Régis Muito bom esse escriba !!!
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Tibério Canuto Queiroz PortelaAdministrador do grupo O PCB soube resistir à aventura armada. Foi o artesão da unidade na resistência democrática.
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Paulo Bacha Em dezembro de 1982, a tentativa de realizar o VII Congresso do partido no auditório da Editora Novos Rumos, que editava o jornal, foi reprimida por agentes da Polícia Federal, que prenderam 67 pessoas, mais tarde processadas pela Lei de Segurança Nacional. Na ocasião, a redação do jornal também foi invadida e seus arquivos foram apreendidos.
Em 1983, Giocondo Dias, então secretário-geral do PCB, lançou em Brasília a campanha nacional pela legalização do partido e a Voz da Unidade. Nunca resistimos a luta armada sabíamos que está via não daria certo. Só isto.
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Altamir Tojal É mesmo pra não deixar passar batido. Acho que a memória da resistência à ditadura foi colonizada por uma facção e passou a ser instrumentalizada como narrativa a favor de um projeto político desvinculado do compromisso democrático.
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Fernando China Belo resgate!
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Ricardo Azêdo L Montes O q aconteceu c o agente do Cenimar?
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Lucia Luiz Pinto Saudades de Orlando...
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Marcia Brayner Lembro quando tocaram a campainha lá de casa, duas amigas da minha mãe, com caras de velório. Logo senti que algo não estava bem. Meu pai estava viajando e minha irmã e eu estávamos sozinhas em casa....foi dolorido e tivemos muito medo.
A espera no Tuquinha foi angustiante...finalmente minha mãe apareceu...
Dia estranho.
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João Batista de Andrade Quanta história, seriedade, consciência. PARTICIPEI de duas conferências estaduais clandestinas. Numa delas, em Campinas, 1966, Prestes e Marighela divergiam sobre o caminho. Ficamos com o caminho da luta democratica.
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Paulo Henrique Maciel Luiz Carlos Azedo, antes de tudo parabéns pelo registro., como sempre bem escrito. Por favor, ponha a janela compartilhar, pretendo divulgar e imprimir com os comentários. Em outra queda de congresso do PCB, no caso, o VIII Congresso, já referi a isso, acompanhei o interrogatório de Abelardo Caminha, na PF do Recife e de Júlio César Ramalho, na PF de João Pessoa, quando, já disse várias vezes, não apenas vi o "ouro" de Moscou, como o recebi 1 Copeque, a título de "honorários".
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Fernando De Castro Lopes Por favor, coloque para compartilhar, Luiz Carlos Azedo!
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Nelson Matheus Historia deve e tem que ser lembrada e incorporada as nossa memória.Parabens Azedo pela lembrança
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Bruno Andreoni Qual o considerado autêntico? O PPS ou o partido da refundação, aquele do Horácio Macedo? Haveria outras perguntas, mas não posso deixar de escrever que entre Astrogildo Pereira, Otávio Brandão e mesmo Apolônio de Carvalho e os que chegaram ao poder (Lula e PT) há sobretudo um abismo moral, que desqualifica o apoio a PT, PC do B e outros sócios no poder. Eles traíram a memória dos fundadores do partido.
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Jose Carlos Salvagni Por essa e outras, Luiz Carlos Azedo, lamento o desaparecimento do Partidão, que nos deixou expostos aos irresponsáveis libelus e outros do gênero, aglomerados no PT, que causaram tantos estragos como estamos vendo à Democracia, à gestão pública, aos valores democráticos. Seguir o exemplo italiano, com o PPS, não parece ter sido boa coisa para o País.
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Luiz Carlos Azedo O Dinarquinho participará de um evento hoje no Museu do Palacio do Catete, sobre o 6o. Congresso. Ele era do trabalho especial e participou da preparação do Congresso. Imperdível!!! Pena que estou em Brasília!
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Nelson Tavares Filho caro Azedo: por não ter a opção "compartilhar" copio e cito seu nome, mas não deixarei escapar o registro histórico. Abraço.
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Joaquim Moura Azedo, vocês já eram democráticos nesse tempo, há 50 anos, em que militavam no PCB?
Ou pretendiam nos impor uma ditadura como nos países comunistas?
E por que essa fixação nos "operários"? 

Por que vocês gostariam de ver o Brasil governado por "operários"?
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João Batista de Andrade Boa pergunta para que se possa esclarecer algumas particularidades do PCB e de sua historia. A questão democrática.
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Tibério Canuto Queiroz PortelaAdministrador do grupo Joaquim Moura Você deveria conhecer um pouco mais de história. Desde a Declaração de Março de 1958 o PCB, quando a formulação da "ditadura do proletariado" desaparece de suas resoluções. A partir daí inicia sua conversão para entender a democracia como...Ver mais
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Jose Carlos Salvagni De fato, pelo que sei, o famoso discurso de Kruchev de 1956 foi um divisor de águas entre os que pregavam os métodos do stalinismo, que ele denunciou, e entre os que passaram a gradativamente a repudia-los, como foi o caso do PCB (e do PCI que geraria a idéia de eurocomunismo).
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Hilario Antonio Gonçalves O amigo Tibério Canuto Queiroz Portela está correto, em parte, quando interpreta a trajetória do PCB com o olhar de 2017. Mas a resolução de março de 1958, embora significativa, não representou uma ruptura completa com o passado. Da mesma forma, a Resolução Política do Sexto Congresso do PCB foi revolucionária, ao colocar no centro da sua tática a construção de uma frente democrática como caminho para derrotar a ditadura. E rechaça a luta armada como forma de luta. Essa guinada foi, contudo, incompleta, pois estávamos ainda em 1967. A URRS ainda era vista como modelo, e o socialismo Soviético exercia em nós forte influência. Em minha modesta opinião, concepções leninistas, insurecionais e até stalinistas ainda persistiam no texto. A luta pela democracia era vista ainda como parte da Revolução Nacional-Democrática. E esta última abriria o caminho para a revolução socialista. A classe operária desempenharia o papel de vanguarda durante as duas etapas da revolução brasileira. Estávamos muito longe da idéia de democracia como valor universal, que vinha sendo construída pelo PCI e outros.
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Joaquim Moura Agradeço a atenção e o esclarecimento, Azedo e Tibério.
Tinha ideia de que o PCB ia abandonando as ilusões marxistas-leninistas de "ditadura do proletariado" já naquela época, e acompanhei o processo até o Partidão abandonar a sigla histórica e adotar 
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Tibério Canuto Queiroz PortelaAdministrador do grupo Hilario Antonio Gonçalves, por isso disse iniciou a ruptura. Não temos divergências
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Luiz Carlos Azedo Para quem não sabe, o PCB sofreu um cerco e tentativa de aniquilamento em 1975, logo após a vitória eleitoral do MDB em 1974, da qual foi um dos artífices. A propósito, recentemente, tomamos conhecimento de que Severino Teodoro Mello, colaborou com os órgãos de segurança após ser preso em data incerta. Era um dos remanescentes do levante de 1935 no Recife e, após as quedas, em Moscou, era responsável pelo trabalho de documentação e fronteiras ( pelas rotas, passaportes e recursos). Sempre negou as acusações, até comprovação, razão pela qual foi afastado do PPS por decisão de sua direção. http://blogdoazedo.blogspot.com.br/.../por-quem-os-sinos...
“Nunca se vence uma guerra lutando sozinho Cê sabe que a gente precisa entrar em contato”, Raul Seixas ...
BLOGDOAZEDO.BLOGSPOT.PE
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Carlos Alberto TorresAdministrador do grupo Com honra, faço parte dessa tradição. O PCB prestou uma contribuição fundamental, não apenas como força da luta pela redemocratização, mas, sobretudo, na esquerda, pela sua firme adesão à concepção de que qualquer sistema social e político, para que po...Ver mais
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João Batista de Andrade No início dos anos 1970, nós, os militantes, fomos instruídos a entrar para o MDB, ainda a oposição criada e permitida pela ditadura mas que contava com quadros fundamentais da socialdemocracia histórica brasileira (PSD), como o próprio Ulisses Guimarães. O objetivo era, ao lado de Ulisses e outros líderes, transformar o MDB de fato em oposição ao regime. Deu certo!!!!
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Fernando Luiz Herkenhoff Vieira Deu certo, para derrotar o regime militar. Por vias muitos tortas a "esquerda revolucionária" não reformista assumiu o poder. Ao que tudo indica deu errado. Uma outra frente ampla agora faz-se necessária para superá--la.
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