sábado, 26 de junho de 2010

máquina de escrever

Olá.
Pode parecer (eu mesmo fico com essa sensação...) uma pretensão ou uma paranóia:
é uma observação sobre o filme "Flores Partidas" de Jim Jarmusch. O filme trata de uma busca de alguma coisa do passado, uma história prossivelmente vivida pelo personagem do Murray no passado, com uma mulher e um filho fruto dessa aventura. O lembrete dessa história é um texto escrito por alguma máquina de escrever antiga e, portanto seria importante, nessa volta ao passado, encontrar a máquina de escrever. Claro, nós estamos na era dos computadores.
Pois bem, o filme é de 2005 e o roteiro foi escrito em poucas semanas.
E meu filme "Rua seis sem número?" -- filmado em 2001 e exibido em Berlim em 2003, portanto dois anos antes do filme do Jim Jarmusch.
O filme começa com uma centena de máquinas velhas de escrever enfileiradas na poeira do chão de Brasília. E logo com um delírio de uma prensa esmagando uma máquina e um computador substituindo a que foi destruida.
De que trata o "Rua seis..."?- uma busca de uma história pessoal do personagem do Marco Ricca que recebeu uma mensagem, de um velho, para procurar uma tal mulher que, veremos depois, teria tido um caso com o Marco e um filho com ele (!!!). Onde o Marco esconde a mensagem: dentro de uma velha máquina de escrever dentre as várias que ele coleciona, com sua rebeldia anti-computadores (!!!!!!!!!!!!!!!)
Fico com esse enigma...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

filmes brasileiros

Tenho visto muitos filmes brasileiros, sempre com uma curiosidade grande. Há, sem dúvida, uma questão de gerações em nosso cinema. Em meu filme "Rua seis, sem número", tentei retratar um mundo sem ilusões: o personagem, incomodado com o mundo como está, extremamente insatisfeito,- mas ha essa altura (2001) sem a alternativa da utopia social-, se deliga do mundo real e tenta, não mudar o mundo, mas mudar sua própria história de vida, criando um passado para si próprio. O belo escritor português Agualusa escreveu, dois ou três anos depois, o livro "O vendedor de passados", com idéia bem semelhante. Pois bem, o que tenho visto em muitos filmes é o desencanto, a falta de sentido das vidas: personagens que perambulam, lutam por pequenas coisas, passam um sofrimento tristonho e silencioso. Não há lugar para eles no mundo. Ou o lugar a que podem almejar é irrisório. Sobre o belíssimo "Viajo por que preciso..." eu disse à Revista de Cinema que é claro ali: "na solidão, o que está fora de nós é paisagem". Há uma crise da intelectualidade, dos artistas, talvez uma crise de classe, como nos velhos tempos:numa sociedade emergente como a brasileira, qual nosso papel?- o que as classes emergentes enxergam em nós?- na verdade eestamos fora desse processo e sendo substituidos pela idéia das Casas Bahia: o importante é poder comprar, poder ter as coisas desejadas e isso é poder, é afirmação social.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Nouvelle Vgue

Nunca fui verdadeiramente fã da Nouvelle vague.
Era sim, vidrado no neo-realismo italiano, particularmente em sua vertente política.
Mas fui ver o filme "Godard e Truffaut, a Nouvelle Vague" e me emocionei bastante.
Por que alí vi, e me identifiuei demais com isso, dois cineastas lutando paara abrir os caminhos de seus cinemas e de afirmarem suas personalidades artísticas. Godard era um filhinho de papai, Truffaut mais classe média, o filme torna isso claro, nós, os espectadores, ficamos buscando ilações dessa sociologia improvisada. Mas nada disso marca os dois líderes da Nouvelle vague.
O que marca é a rigidez da busca de Godard, em contraste com seu cinema completamente quebrado e anti rigidez.
E a emoção de Truffaut diante do cinema dominante, justamente o cinema que julgavam quebrar com suas propostas iniciais.
O delicioso é ver que, ao final, nada disso importava, alí estavam dois grandes cineastas exercitando seus sonhos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

QUEM SOU EU

Eu e meu cinema

Como acontece muitas vezes, amanheci com o amontoado de perguntas sobre mim mesmo. Sou um sujeito difícil, auto-centrado e descontente. Descontente com a vida, com o mundo e comigo mesmo. Um traço marcante é a impaciência que me persegue pelo menos desde a adolescência. Uma impaciência que me impulsiona sempre para a frente quando ainda estou aprendendo o presente. Impaciência de ouvir, de ver, de esperar. Isso pode explicar muito de minha formação intelectual, cujos traços mais modernos foram plantados num só pulo, o mergulho nos livros e filmes e músicas logo que entrei na faculdade e onde percebi minha ignorância, o desconhecimento do que era considerado básico culturalmente: os clássicos da literatura, da música, o cinema moderno. Digeri tudo aquilo com muita voracidade e até hoje não sei bem o que ficou e o que expeli sem digestão alguma. Sempre tive uma imaginação delirante, ler sempre foi um exercício de persistência pois em pouco tempo minha imaginação voava por outros caminhos, como que instigada pela leitura mas deslocando-se dela. Isso explica o que sempre me intriga: a dificuldade de saber o que é mesmo que o livro está contando, como é a história. Ficava sempre um saber impressionista, o tom do texto, a linguagem, o clima da história contada. Dificilmente a trama. No cinema a mesma coisa, a mesmíssima coisa. Engraçado que só não acontecia isso com a música: passei a gostar dos clássicos e memorizava as músicas com facilidade, tendo dificuldade para gravar letras das músicas populares...
Meu cinema, acho, nasceu dessa inquietação e dessa impaciência, características que me distanciavam de todas as propostas, de todas as tendências, gostasse eu ou não delas. Era uma impaciência com o mundo, com as pessoas, com o próprio cinema. Acho que antes de falar da imaginação eu deveria falar do desejo. É verdade que minha imaginação é delirante, irrefreável. Mas acho que ela é conduzida pelo desejo. Sempre me senti mal no mundo e acho que por isso me tornei comunista, a esperança inconsciente de chegar a um mundo perfeito, não agressivo, igualitário, onde eu pudesse me sentir bem. E do mundo imperfeito para esse paraíso minha imaginação escapava sem controle. E minha impaciência registrava que tudo era devagar demais, que esse mundo confortável não chegaria jamais se dependesse dos outros. Acho que isso me levava a ser, além de impaciente, crítico com relação a tudo, às opiniões, às ações de todos. E me fazia vibrar com gestos longínquos, chegados a mim livres de suas próprias contradições, como a luta do povo vietnamita, dos cubanos. Ali sim, a ação era transformadora, vista assim pelos noticiários que só nos traziam o aparente, os fatos, a guerra, sem o cotidiano e as dificuldades terríveis daqueles povos em sair, eles também, do marasmo do cotidiano e da subserviência.
O cinema para mim, me parece agora, funcionava um tanto como um aguilhão sofisticado, usado para insuflar o real, faze-lo andar, questionar os erros de visão, - é preciso ver bem as coisas para acertar!-, provocar, questionar erros de interpretação e erros de táticas, de formulações políticas.
É importante dizer que eu não fazia isso calcado em qualquer manual, pois embora lesse com freqüência a literatura marxista, tinha com ela a mesma dificuldade que com os romances: saber exatamente o que os textos estavam dizendo. O que eu apreendia do marxismo era então fruto das leituras, das conversas, discussões, tudo isso elevado a um nível de tensão provocado por minha imaginação, como se de tudo aquilo eu só apreendesse o essencial, a dialética que me permitia perceber que no mundo nada é eternamente como se apresenta a cada instante, que é possível mudar e que essa mudança se dá dialeticamente, o novo questionando o velho em busca de uma síntese.
Me vejo hoje, como desde jovem, questionando quixotescamente o mundo com minha câmera e com meus gestos, com meu desejo de que tudo andasse e de que as pessoas entendessem melhor o mundo para muda-lo e que errassem menos, que acertassem.
Por isso não é um cinema tradicionalmente militante, de pregação de “minhas idéias”. Eu queria que todos tivessem suas idéias e que essas idéias servissem mesmo para mudar o mundo. Queria que as pessoas agissem, que as dissimulações fossem denunciadas, aclaradas, que os erros fossem expostos e banidos. Queria que minha câmera surpreendesse o mundo com suas revelações que despertassem a consciência e a crítica.
Teria assim, meu cinema documentário, um direcionamento didático?
Não acho. Nem Grierson nem Dziga Vertov. Nem o cinema da elite, revelador e belo mas que passava ao largo das mudanças do primeiro e nem o cinema de propaganda confiante de Dziga Vertov, com toda sua criatividade. A verdade é que gosto dos dois, mas não me sinto ligado a nenhum deles. Pois meu cinema desdenha dessas formas elaboradas, a conquista do espectador pelo espetáculo das coisas, incluindo aqui o próprio homem. É também um cinema que não crê que haja um “homem novo” no mundo. A rigor, sempre achei que havia sim, o “homem errado”, contra o qual era preciso lutar.
Por isso, por essa visão, QUE SÓ AGORA ASSINALO, de um “homem errado”, é que devo ter exercitado todo o tempo a desmistificação do olhar, do belo, das opiniões pessoais e públicas, da mídia. Basta ver em meus filmes, desde o “Liberdade de Imprensa” ( a desmistificação da imprensa livre), passando pelo “Migrantes” ( a desmistificação da opinião pública e da mídia), “Buraco da Comadre” ( a desmistificação da política), “Caso Norte” e “Wilsinho Galiléia” ( a desmistificação da violência), “O Caso Matteucci”(a desmistificação da justiça), etc.
Basta ver o gosto pelo cinema errático, sem acabamento, improvisado, desesperado atrás de uma revelação capaz de provocar a consciência. Basta ver alguns títulos que parecem desdenhar do sóbrio, do digno, da soberba elitista: “Buraco da Comadre”, “O homem que virou suco”, títulos que parecem desdenhar de si mesmos.
Pode ser que seja eu o “homem errado”.

João Batista de Andrade
25/junho/2007

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Confira os filmes do João Batista que serão exibidos durante o Festival

RETROSPECTIVA JOÃO BATISTA DE ANDRADE
15 programas / 20 títulos

1 - FILMES DE FICÇÃO

A- Ditadura e Abertura

Doramundo
O homem que virou suco
A próxima vítima
O tronco

B - A história

O país dos tenentes

C - Dilacerado/anos 60

Gamal
O filho da televisão

D- A retomada

O cego que gritava luz

E- O mundo sem ilusões

Rua seis sem número

H - O documentário substitui a ficção

Vlado. 30 anos depois

2 - DOCUMENTÁRIOS

A - HISTÓRIA / O INÍCIO

Greve!
Liberdade de imprensa
Portinari, um pintor de Brodósqui


B- Cinema de rua e televisão

Migrantes
Wilsinho Galiléia
O buraco da comadre
Restos

C - Falando de Cinema com Jean claude Bernardet

Paulicéia Fantástica

D- O cineasta e sua câmera

Travessia