sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

cinema nacional?

Não gosto dessa ambígua denominação, "cinema nacional". Ambígüa porque ao mesmo tempo que nos afirma, nos joga na lama do famoso "abacaxi nacional". É uma coisa antiga, getulista. Sou brasileiro, faço cinema, sou universal. Assim, tolero apenas que digam "cinema brasileiro".

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ainda o globo Repórter

Sempre encontro estudos sobre meus filmes no Gl Repórter (nos áureos anos de 1970, quando o Gl Repórter era um programa de cineastas).
Eis agora um breve resumo que me enche de orgulho, como um presente de aniversário, texto produzido na PUC-Rio, nesse ano de 2011:

www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2011
Departamento de Comunicação Social

CASO NORTE E O HOMEM QUE VIROU SUCO: OS CINEMAS

DOCUMENTAL E FICCIONAL NOS ANOS 1970 E A TEMÁTICA DA

MIGRAÇÃO NORDESTINA

Aluna: Ana Beatriz Dias Rangel Kling

Orientadora: Andréa França

Introdução

A proposta é mostrar que o cinema documentário e o ficcional, na década de setenta e

início dos anos oitenta, têm preocupações temáticas semelhantes quando abordam

criticamente o fluxo migratório mais freqüente no Brasil do século XX, o sentido Nordeste-

São Paulo, e as mazelas dos retirantes que tentam não ser engolidos pelo ritmo da metrópole e

seu alto custo de vida. Através dos filmes de João Batista de Andrade, o objetivo é discutir a

difícil sobrevivência desses solitários trabalhadores que se vêem distantes de seus referenciais

culturais quando chegam nas grandes metrópoles. Além disso, analisar sua posição subalterna

com relação aos habitantes da região Sudeste do país. A temática da migração em ambos os

filmes –

Caso norte (1977) e O homem que virou suco (1980) – desemboca inevitavelmente


no discurso de que a pobreza e a condição de vida precária não são superadas com a mudança

para a capital paulista e, como conseqüência, a violência na relação com o outro passa a ser a

única alternativa para aqueles que um dia sonharam com uma vida melhor.


Objetivos

A

nalisar os pontos de convergência entre o cinema ficcional e o documentário que


fazem do problema da migração nordestina, nos anos setenta, a questão central de suas

histórias, além de destrinchar os procedimentos cinematográficos (posição e movimentos de

câmera, dos personagens, gestos, diálogos, etc.) utilizados para evidenciar a situação

subalterna do nordestino ou nortista com relação aos oriundos das regiões Sul e Sudeste do

país. Mostrar como o cinema de cunho político-social esteve presente na época em que o

mercado cinematográfico estava em baixa e também como João Batista de Andrade construiu

com seus filmes um discurso de


etnocídio – destruição de uma cultura – praticado pelas


regiões mais ricas do país, diante das quais o migrante não encontra alternativa senão o

desespero e a miséria.


Metodologia

Através da leitura e análise de jornais da época, entrevistas com cineastas, artigos e

dissertações sobre o Programa

Globo Repórter – da Rede Globo de televisão – na década de


setenta, pode-se perceber que dois documentários dirigidos por João Batista de Andrade para

o ainda hoje popular programa merecem atenção especial;


Caso Norte e o censurado Wilsinho


Galilélia


, que tratam, em linhas gerais, da pobreza e da falta de acesso dos migrantes


nordestinos, que vão para a cidade de São Paulo, à educação, ao sistema de saúde, ao

saneamento básico, à moradia decente. A partir do destaque dado pela imprensa da época a

estes dois documentários – como o jornal


O Globo e a revista Filme Cultura –, a pesquisa


pôde perceber que o filme seguinte do mesmo diretor teria todas as condições para arrebatar a

crítica, os festivais de cinema e foi isso que aconteceu. O filme seguinte de João Batista seria

o vencedor do Festival de Gramado em 1981. Trata-se de


O homem que virou suco, longametragem


protagonizado por José Dumont que conta a história de Deraldo, um nordestino que

vai para São Paulo, mas sem sonhar com uma vida melhor. Deraldo é um poeta que se

encontra na classe trabalhadora e sabe disso; é um dos milhares de nordestinos “esmagados”


Departamento de Comunicação Social

pela metrópole mas consciente de sua condição e com vontade de mudá-la. As proximidades

com o documentário para TV,

Caso Norte, são muitas e a proposta é analisá-las.


A partir dessa percepção, fez-se necessário encontrar as seqüências-chave em ambos

os filmes em que a subalternização do nordestino diante dos cidadãos da metrópole paulista se

faz presente; e como o cineasta explora cinematograficamente essa situação de fragilidade. O

processo de análise tem como método fundamental a separação das diferentes seqüências dos

filmes em blocos – divididos de acordo com o desenrolar das narrativas – e a descrição crítica

destes.


Conclusão

A ânsia de João Batista de Andrade por justiça social num país como o Brasil do final

dos anos setenta se manifesta em vários de seus filmes, tanto documentários como ficção.

Importa pensar aqui de que modo a questão social e econômica da migração nordestina para

os grandes centros urbanos, especificamente na década de setenta, aparece na TV e no cinema

da época. Mais do que isso, o interesse do artigo é analisar filmes que, para além de fazerem a

crítica ao regime conservador-desenvolvimentista do regime militar, inovaram nos seus

procedimentos audiovisuais. Assim, a conclusão a que se chega é a de que o artista – neste

caso, cineasta – expõe sua opinião e suas crenças através de recursos audiovisuais que

mobilizam ou não os espectadores. O que importa, na análise dos filmes, é a forma pela qual o

cineasta hierarquiza as mazelas que crê atingir o outro, o

povo. O debate provocado a partir


das questões expostas nos filmes de João Batista de Andrade se sobrepõe à discussão, da

época, sobre os problemas do Brasil (analfabetismo, desigualdade social, etc.) e as

possibilidades, viáveis ou não, de mobilização social.