terça-feira, 29 de março de 2011

Vida de Artista, CENSURA "ÉTICA"

Alertado pelo Newton Cannito, há coisa de um mês, abri um blog absurdo sobre documentários. Agora eles resolveram pegar no meu pé, por causa de meu filme "Vida de Artista" (Melhor Filme Festival do Fiulme Livre/2004). E com essa mania de "ética" nos documentários, visão castradora que andou entre nós.
Vejam em http://cinedocs.blogspot....com/
Eu sempre critiquei essa falsa moraliddade do tipo "não se pode filmar pessoas em situações degradantes", não pode isso, não pode aquilo. A sequência que ele usa PARA ME CRITICAR, a do copo dágua é uma das mais belas: ali eu mostro que sou cineasta, dou a água à mulher mas deixo a CAm sobre a mesa, filmando tudo. aLI EU SOU CIDADÃO, MAS NÃO ABRO MÃO DE SER CINEASTA.
Minha visão, como cineasta é que um documentarista deve filmar tudo.
Se meu olho vê, eu posso filmar.
Exibir depois é outra coisa: o fato está documentado, é preciso saber em que circunstãncias E QUANDO o material poderá ser exibido.
mAS FILMAR É FUNDAMENTAL.

segunda-feira, 21 de março de 2011

cinema de rua

Como resultado de meu trabalho na TV Cultura, entre 1972-74, como parte do grupo que criou o telejornalismo diário da TV, o "Hora da Notícia" (com Fernando Jordão, Vladimir Herzog, eu, Fernando Moraes, e muita gente boa)surgiu o movimento "Cinema de Rua". O mote era: pequenos filmes temáticos, focados em problemas sociais como habitação, miséria, transporte urbano, acidentes trabalho, política, etc. O motivo foi a inusitada busca de reportagens feitas por mim: organiz~ções da sociedade, ainda clandestinas (era ditadura...) buscavam cópias para discutir em grupos (sociedades amigos de bairros, clubes de mães, igrejas, sindicatos, grêmios, um monte de entidades que pegavam os filmes e não revelavam nunca "onde" exibiriam). O movimento cineclubista, em 1973 assumiu a distribuição desses filmezinhos e um grupo de jovens cineastas resolveu fazer outros, agora fora da TV. A distribuição era um sucesso impressionante,muita procura. O movimento ganhou o nome de Cinema de Rua, por causa de uma entrevista minha para a Revista da Cinemateca.
Pois bem, agora, para surpresa minha descobri um site chamado CINEMA DE RUA. Eu me comuniquei comn eles: é um grupo de jovens cineastas, inciando suas carreiras. Marquei com eles ( a pedido deles) e eles me disseram que não conheciam o movimento original "Cinema de Rua"... Foi uma ótima conversa, gravada por eles. E eles levaram cópias de filmes do movimento e me deixaram um DVD com filmes deles. Eis o que respondi para eles, por e-mail:

Kiko
Vi ontem o DVD com seus filmes.
São ensaios bonitos, uma busca poética da cidade.
Não gosto de fazer críticas, acho que vocês buscam seus próprios caminhos.
Eu comecei muito diferente, marcado pelas minhas opções políticas desde antes de 64 ( e depois, claro). E isso se reproduziu em toda minha obra, inclusive no movimento Cinema de Rua (1972-1976): um cinema sujo, tipo rascunho, brechtiniano, crítico. A realidade social sempre me incomodou, isso está presente em minha obra.
Eu ainda me sinto incomodado com a vida.
Desejo sucesso a vocês no caminho a que se propuseram.
Pode ser que esse olhar, mais de encantamento do que de crítica, seja o olhar do jovem de hoje, não sei.
Pelo menos é o de vocês.
Quanto ao nome "Cinema de Rua", acho que vocês é que devem decidir se desejam essa referência do passado: não há como fugir, pois o movimento "Cinema de Rua" faz parte da história do cinema brasileiro.
Um abraço
João Batista de Andrade

terça-feira, 15 de março de 2011

cinema brasileiro

15/mar/2011
Mensagem que enviei pela lista de debates do cinema brasileiro, tendo em vista o Encontro de Realizadores ( de cinema) no Rio, dia 19 próximo:
Caro Sevá, caros amigos
Infelizmente não poderei, como gostaria, participar desse encontro no RIo, como sempre participei desde início de carreira, incluindo o que propôs a criação da Ancine. Aliás, fui relator dessa proposta.
Acho que o que temos assistido nos últimos anos é um outro polo de nossos exageros.
E peço licença para, despretenciosamente, fazer pequenas observações fruto de minha experiência como homem de govêrno ( onde eu era, - como deveria ser, primeiro governo, depois cineasta e homem de cultura)
Primeiro exagêro é a idéia de que, como setor da cultura inserido politicamente nas administrações, poderiamos conduzir as coisas ao nosso gosto. Afinal nós é que vivemos o cinema enquanto realidade de produção e mercado.
Segundo exagêro ( e atual) a idéia de que os governos, usando algumas de nossas boas cabêças, podem governar sem a participação do setôr ( ou com mecanismos formais que não alteram, de fato, a política pretendida)
O primeiro exagêro se esgota rápido, nenhum governo "gosta" ( no sentido mais amplo, "não se dá bem", etc.) de ter em seu espaço setores que buscam soluções sem uma concreta mediação governamental. A política para cada setor da vida administrativa deve se casar, e bem, com a política governamental, ser assumida por ela. Posso dizer que isso aconteceu nos primeiros anos da Embrafilme (com certa ambiguidade mas boa para o cinema brasileiro). E também nos primeiros anos da ANCINE.
O segundo exagêro é o distanciamento do setor, com o govêrno decidindo por achar que as idéias de seus quadros são mais elevadas, mais puras e de visão estratégica mais moderna, prescindindo, pois, do próprio setôr. Eis o fermento da discórdia e da inoperância, também do recolhimento crítico e do isolamento. Nesse caso, quanto mais brilhantes e organizados forem esses quadros, mais a questão se agrava. Pois não se governa para o próprio governo. Governa-se para a sociedade, para o presente e o futuro tendo o passado como base e referência. E o desenvolvimento cultural de nossa sociedade como meta.
Creio, baseado nessas observações, que é hora de buscar esse consenso entre governo e cinema brasileiro: um projeto que, refletindo todas as nossas experiências passadas e presentes, busque o novo. E esse "novo" deverá estar marcado pela transparência e pela convicção de que podemos ter um cinema brasileiro moderno, diversificado, pluralista, tanto popular quanto cultural, revelador de grandes talentos, como sempre foi.
Uma só observação final: nenhuma entidade oficial da cultura brasileira deve ter o poder de subjugar a cultura e seus agentes, seus criadores. Por isso seu poder de decisão deve ser limitado ao essencial. É melhor uma relação mais livre da cultura com a sociedade, empresários, TVs, estados, prefeituras, associações, museus, ongs, institutos, do que uma relação subalterna diante de órgãos oficiais. Vivemos numa democracia há mais de 25 anos. E toda democracia deve se aprimorar a cada instante. E nesse processo, uma das questões fundamentais é a questão do poder (agravada entre nós pela hipertrofia do executivo, o que tem impedido que partidos políticos e parlamentares façam a democracia avançar mais rapidamente)
Um abraço
João Batista de Andrade