quarta-feira, 18 de setembro de 2013

elogios de quem gosto...

Parabens, João! João Batista de AndradeVida bem vivida, doce de pessoa, tive a sorte de estar em seus trabalhos ao lado de Chico como assistente Helena BotelhoFelipe Ionescu Botelho Agora transito entre os botelhinhos e os filhotes rs dessa pessoa incrível que em breve lança seu livro,Confinados.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Chapada dos veadeiros, Goiás

Texto que encontrei agora. Escrevi há alguns anos, depois de uma viagem à maravilhosa Chapada dos veadeiros, em Goiiás:
TRILHAS REVERSAS

O sol parecia brincar com meus dedos. Eu girava o pequeno cristal em busca de algum efeito que pudesse me aliviar do desespero que corroía minha alma. A luz caprichosa escapava-me entre os dedos, buscava sua própria liberdade, alheia ao meu sofrimento, indiferente aos meus pedidos. Sim, a luz, a luz. Ergui a mão colocando o cristal diante dos olhos, seria bom que ela ferisse minhas pupilas, seria uma vitória em meio a tantas derrotas. Imaginava um arco luminoso, como se eu pudesse obrigar a luz a se dobrar, a render-se aos meus caprichos e sofrimentos. Quantos cristais, quantos pequenos reflexos fugidios pelo caminho! – tudo tão estranho, irreal, no entanto o corpo pesava um, dois, três bois campeiros. O chumbo engolido a vida inteira se alojava agora nos pés feridos, já que eu decidira caminhar a pé. Atirei longe o pequeno cristal, que percorreu o espaço como num grito de alegria, livre enfim de meus dedos, vitorioso, desenhando laços de luz pelo espaço encantado do cerrado ralo. Minha imaginação febril atirava cristais, uns após os outros, eu tinha então muitas mãos, como doida máquina de atirar silêncios e luzes, trançar seus brilhos fugidios, explodir de alegria e festa para os aplausos de alguma multidão inexistente. Indiferente a tudo o sol batia inclemente, ação que os cristais desdenhavam insidiosamente, refletindo luzes para todos os lados e até mesmo rumo ao próprio sol. Eu já não sabia onde estava, caminhava a esmo buscando algum sem fim que a planura se negava a dar, de tal modo tudo se modificava a cada passo, apesar de tudo continuar exatamente como eu iniciara e via em toda a caminhada. Nada muda, tudo muda, nada fica, tudo resta igual, nada voa, tudo despenca e salta, asas, asas, luz feito poeira, encantamento e morte.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Quem é João Batista de Andrade

Publicado no Grupo "Confinados em 06set13

QUEM É JOÃO BATISTA DE ANDRADE
“João Batista de Andrade é um desses autores latino-americanos que iluminam os acontecimentos” L.Navikova, crítica de cinema quando da premiação do filme "O homem que virou suco" como Melhor Filme no Festival Internacional de Moscou/1981

O escritor e cineasta João Batista de Andrade, doutor em Comunicações pela USP, nasceu em Ituiutaba (MG), em 1º de dezembro de 1939. iniciou sua carreira artística ainda estudante, na Escola Politécnica de USP, em 1963, onde fez parte do Grupo Kuatro de Cinema 
Como escritor seu primeiro livro publicado é Perdido no meio da rua (1989). Depois veio o juvenil A terra do Deus Dará (1991), os romances Um olé em Deus (1997) e O portal dos sonhos (2001) e sua tese de doutorado O povo fala (2002). Em 2013 publicou um novo infanto-juvenil, Sozitos, a lenda da Terra Ronca. 
No cinema, com 17 longas-metragens e inúmeros filmes para TV e circuitos alternativos, tem uma carreira nacional e internacionalmente premiada com títulos como os clássicos Doramundo (1978), Wilsinho Galileia (1978), O Homem que virou suco (1980), O país dos tenentes (1987), O tronco (1998), Vlado, trinta anos depois (2005), Veias e vinhos, uma história brasileira(2006). Seu primeiro filme é Liberdade de Imprensa (1967), que não chegou a circular publicamente, tendo sido apreendido pelos militares no Congresso da UNE em Ibiúna. Apesar da proibição, o filme foi visto por críticos, como Jean Claude Bernardet, que o considerou um marco no gênero, cunhando a expressão “Cinema de Intervenção”, que caracteriza o cinema do autor.
Na TV, João Batista de Andrade fez parte do grupo que criou o telejornalismo diário na TV Cultura de SP, o “Hora da Notícia”, dirigido por Fernando Pacheco Jordão e cujo editor era seu amigo Vlado (o jornalista Vladimir Herzog). Esse programa de grande significado na TV em épocas tão sombrias (de 1972 a 1975) foi liquidado pela perseguição militar com a prisão e assassinato de Herzog. Sobre Herzog, João Batista de Andrade realizou, em 2005, o filme Vlado, trinta anos depois.
João Batista de Andrade sempre teve presença marcante nas lutas pela cultura brasileira. Criou ou ajudou a criar inúmeras entidades culturais, como associações, festivais, produtoras de cinema e ONGs. Foi Secretário da Cultura do Estado de S. Paulo, autor da Lei da Cultura, o PROAC. Em 2012 foi nomeado Presidente da Fundação Memorial da América Latina.
eM 2013 LANÇA SEU QUARTO ROMANCE (sem contar os juvenis): "CONFINADOS", pela editora PRUMO

Sobre o "CONFINADOS"

FB 08Set13

Ontem, Salão do Jornalista escritor: no debate entre Fernando Morais e Ricardo Ramos Filho, a âncora Regina Echeverria comentou o lançamento de meu livro "Confinados" a partir da ideia do de focar pessoas confinadas em suas casas, sem entender o que se passa quando a cidade está tomada por bandidos ( que podiam ser também as manifestações, observo). Regina observou que essa é uma situação que vivemos em muitos momentos de nossa história. Acho boa observação. A situação criada no romance pode refletir momentos como o golpe de estado de 1964, o AI-5, o assassinato de Vladimir Herzog, etc. E mesmo situações já em plena democracia, como o Plano Collor, a tomada das cidades pelos bandidos (situação usada no romance) e agora, as passeatas.

ficção e realidade na literatura

FB 08Set13

Excelente o Salão do Jornalista Escritor, no Memorial da América Latina nesse final de semana. Entre outras coisas discutiu-se muito de onde vem as idéias e a relação entre o que se inventa na ficção com a realidade. Já entre os jornalistas que se recusam à ficção, como Fernando Morais, a vida é considerada mais rica do que a ficção. Não concordo plenamente com essa visão. De um lado porque tudo se faz através de palavras. E cada leitor deve decifrar o que as palavras dizem. Por outro lado, qualquer tentativa de aprisionar a realidade em palavras é vã. Na introdução de meu livro "Confinados" eu digo:" A realidade é fugidia, engana sempre os que sonham em aprisioná-la. O real aqui são as palavras. A relação entre as palavras e a vida real é tarefa do leitor"


domingo, 8 de setembro de 2013

Romance CONFINADOS

TRECHO DE APRESENTAÇÃO DO ROMANCE "CONFINADOS", de João Batista de Andrade:
"Você, como um leitor especial deste romance, pode mudar tudo. 
Vá até o fim e confira!
Proponha, mude, mesmo para que seja para que tudo continue como está.
Pois se uma pessoa pode mudar uma história, abre-se uma nova chance para a vida.
Quem sabe uma pessoa possa, com um gesto, uma opinião, mudar o mundo?"

Lançamento meu romance CONFINADOS

LANÇAMENTO DE MEU QUARTO ROMANCE ( FORA OS JUVENÍS):

CONFINADOS, Memórias de um Tempo sem Saídas
Editora Prumo

Dia 23 de Setembro ( segunda feira) a partir das 19 horas.
Shopping Paulista
Livraria SARAIVA

Sobre o romance CONFINADOS (na contracapa do livro):
Tiros, tiros, ataques, ônibus queimados, arrastões, mortes, ameaças.
Num momento em que a cidade é tomada pela violência, os personagens aqui, confinados em suas casas e em suas próprias lógicas, perdem-se em seus labirintos de medo, dúvidas, solidão. E até mesmo no excesso de certezas, subitamente impotentes diante de tantas perguntas.
Eis aqui o retrato de um reino do desconhecido, com suas figuras carismáticas e estranhas que agem nas penumbras para que não vejamos seus rostos. Sombras poderosas que nos dominam e fogem à nossa capacidade de compreensão. Demônios que nos confinam à prisão em nosso próprio medo e na falta de saídas para a vida. 
Um mergulho radical nas estranhezas desse mundo, desse país e de suas megacidades.




quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Escrever, segundo Th Adorno

Boa indicação de Marcia Tiburi no Twitter (04Set13)

SOBRE Th ADORNO: 
De acordo com o filósofo, não há nada melhor no exercício da escrita do que manter, a cada idéia, a cada vocábulo, uma "insistência desconfiada". A atenção de quem escreve deveria voltar-se aos objetivos que pretende alcançar e, simultaneamente, à sua própria maneira de ver o real, tendo a humildade de reconhecer que "não é fácil distinguir sem maiores considerações entre a vontade de escrever de maneira densa e adequada à profundidade do objeto, a tentação de ser incomum e o desmazelo pretensioso". Para Adorno, a "força" e a "plenitude" da técnica de escrever "beneficiam-se precisamente dos pensamentos reprimidos".

Todo esse esforço não tem por finalidade apenas construir algo agradável, mas um conjunto de idéias relevantes e profundas: "(...) Quem não quer fazer concessão alguma à estupidez do senso comum, tem que se precaver para não enfeitar estilisticamente pensamentos em si mesmo banais."

Recomenda que o escritor deve ser tímido e deve aventurar-se, buscar a originalidade de seus pensamentos e da forma de expressá-los. Em um mundo degradado pelo poder econômico, no qual as ideologias exercem uma força sobre os homens e "a mentira soa como verdade e a verdade como mentira" (fragmento 71), o escritor não deve temer a constatação de que ele é um sobrevivente encurralado por forças que mercantilizam a cultura e todas as relações sociais.

Pelo fato de a inocência ter sido banida de todas as relações é que o bom texto deve preservar as qualidades de um mundo marcado pela lucidez e pela beleza. O gesto de escrever, de olharmos nossa própria imagem refletida nas palavras, não deve admitir qualquer concessão à facilidade, mesmo correndo o risco de nos tornarmos incompreendidos.

Para Adorno "o talento talvez nada mais seja do que a fúria sublimada de um modo feliz" (fragmento 72).