segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Chapada dos veadeiros, Goiás

Texto que encontrei agora. Escrevi há alguns anos, depois de uma viagem à maravilhosa Chapada dos veadeiros, em Goiiás:
TRILHAS REVERSAS

O sol parecia brincar com meus dedos. Eu girava o pequeno cristal em busca de algum efeito que pudesse me aliviar do desespero que corroía minha alma. A luz caprichosa escapava-me entre os dedos, buscava sua própria liberdade, alheia ao meu sofrimento, indiferente aos meus pedidos. Sim, a luz, a luz. Ergui a mão colocando o cristal diante dos olhos, seria bom que ela ferisse minhas pupilas, seria uma vitória em meio a tantas derrotas. Imaginava um arco luminoso, como se eu pudesse obrigar a luz a se dobrar, a render-se aos meus caprichos e sofrimentos. Quantos cristais, quantos pequenos reflexos fugidios pelo caminho! – tudo tão estranho, irreal, no entanto o corpo pesava um, dois, três bois campeiros. O chumbo engolido a vida inteira se alojava agora nos pés feridos, já que eu decidira caminhar a pé. Atirei longe o pequeno cristal, que percorreu o espaço como num grito de alegria, livre enfim de meus dedos, vitorioso, desenhando laços de luz pelo espaço encantado do cerrado ralo. Minha imaginação febril atirava cristais, uns após os outros, eu tinha então muitas mãos, como doida máquina de atirar silêncios e luzes, trançar seus brilhos fugidios, explodir de alegria e festa para os aplausos de alguma multidão inexistente. Indiferente a tudo o sol batia inclemente, ação que os cristais desdenhavam insidiosamente, refletindo luzes para todos os lados e até mesmo rumo ao próprio sol. Eu já não sabia onde estava, caminhava a esmo buscando algum sem fim que a planura se negava a dar, de tal modo tudo se modificava a cada passo, apesar de tudo continuar exatamente como eu iniciara e via em toda a caminhada. Nada muda, tudo muda, nada fica, tudo resta igual, nada voa, tudo despenca e salta, asas, asas, luz feito poeira, encantamento e morte.

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