sábado, 11 de novembro de 2017

O tempo

O tempo
(para Márcio Vilela, in memoriam)

A vida passa feito filmes
Projetam-se em meu peito nu
Fotogramas cortam feito navalhas
Garras de predadores, dentes afiados
Da inevitável memória.

Salto adiante, como laço capturando pensamentos
Da infância, os amigos, pai, mãe, irmãos, irmãs
Avó Clementina, avô Alfredo, tios longínquos
De um sofrimento que vem de tão longe.

Salto para o que apunhala entre ossos, o coração
Digo que vão indo embora os mais queridos
E que a cada morto dedicarei também o mesmo sentimento.

Ah solidão! Vivo cercado de amores e amigos
E no entanto doem tanto os que se foram
Mãe, Pai, irmã, amigos, eram tantos.


(Márcio foi quem me encontrou na rua, em pleno golpe de estado\1964 e me escondeu em seu apartamento em SP. Posso dizer que me salvou da violência dos militares daquele momento)