quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

êxtase

Aprendi cedo a nadar, isso me dava uma sensação imensa de liberdade. No começo era tão pouca a água, o córrego das Almas em minha terra natal. Depois, os riscos maiores, ribeirões e o traiçoeiro Rio Tijuco que levou para sua eternidade dois amigos e alguns conhecidos. Com a adolescência, ah essas eram águas muito pequenas! o mergulho exigia agora uma coragem infinita, nadar sem usar os braços, na infinitude da vida. Densidade alguma, proteção zero, garantia nenhuma. Era me largar e voar espaço afora, no mar de minhas dúvidas. Nunca mais saí desse espanto, misto de dor e de êxtase.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O PAÍS DOS TENENTES

CANAL CURTA: ENCERRANDO ESSE EPISÓDIO, já postei aqui meu apoio. E recebi mensagem de correção enviada pelo diretor Julio Worcman. Agradeço. Como já disse, tenho paixão por esse meu filme, "O país dos tenentes", feito dois anos após o fim da ditadura e retrata, numa visão histórica, essa passagem e os 60 anos dos militares na política, desde a revolta do forte de copacabana, em 1922. O filme revela de como a absorção pelo estado corrompeu os tenentes. E o velho general Gui (PauloAutran) é o último deles, assistindo, nos anos 80, às mudanças e a volta da democracia. Durante a ditadura (resultante do golpe de 64) Gui é contratado por uma multinacional como relações públicas, com o intuito de facilitar os trâmites junto ao Governo Militar. Agora se sente podre, tomado por bichos, revivendo sua trajetória desde 22. À beira da morte, em plena passagem para a democracia, recusa-se a fazer o último serviço à multinacional, mas é substituido por seu filho que usa seu nome. O filme foi precoce demais. Em depoimento a "O Estado" disse que o filme revelava o fim de um ciclo revolucionário, tomado pela corrupção material e das idéias. Como se vê, o filme de 1987 se antecipa à queda do Muro de Berlim e à queda reveladora do falso e corrupto socialismo no leste europeu, -e assim foi visto na Europa: por essa leitura fui convidado para um giro na Alemanha, por seis cidades, com exibição do filme e debates com universitários.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

VIVER


Com meu desassossego
Nem eu me acostumo
De minha janela mergulho no escuro
Pensando ali encontrar a luz
De dia cultivo estrelinhas
Na copa das árvores
(Alguem plantou essas árvores)
Com meu desassossego, quem se acostuma?
Tiro a roupa, sou menino
Mergulho no córrego simples
... De minha infância colorida
Queria ficar ali para sempre
Submerso em minhas loucuras
Com meu desassossego
Sei que me desacostumo
Os dias passam tão lentos
E os anos parecem pirâmides humanas
(chegarei um dia ao céu que desejei)
Grito lá de cima, "quem está aí, em baixo?"
E reconheço minha voz amanhecida
Tomada de esperanças
Com meu desassossego vivo
No descontentamento sonho e cultivo
Pensando nas mãos de índios, incas, negros
Calos que inoculam de fé todas as sementes
Vivo sim, com ele
Com meu desassossego é que vivo
Com ele durmo e com ele amanheço

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

olhos de galinha

OLHOS DE GALINHA
Não se pode andar com olhos de galinha
Pelas ruas de nossas cidades
Nada de fugir, nada de buscar outros lados
Dos desencontros que vemos e que tememos
É preciso coragem para encarar, dois olhos bem abertos
Toda a rispidez com que nos respondem aos cumprimentos
Ah, pois a vida também escoa por bueiros entupidos
E pouco importa nosso passado!
Às vezes ergo os olhos, juntos, juntos, ...em busca de luz
Já que tantos absurdos se construíram feito muralhas
A impedir o sol e o entendimento
Do alto me atiro, feito pássaro enlouquecido
Faço rasantes sobre mares poluídos de promessas
E choro por tantos anos perdidos, minha juventude
Depois imagino as ruas como rios limpos
Faço parte da alegre piracema de tantos sonhos
Rio, gargalho, grito, sou palhaço dessas bobagens todas
Que ainda encantam as multidões
Há no entanto, cantos escuros dessa festa
Males que já não se escondem como antes
E que ostentam suas chagas para nosso olhar incauto
Nada de olhos de galinha! Grito a mim mesmo
E tenho sempre que rir de tanta ingenuidade ferida
Não, não se pode mesmo andar pelas ruas de meu tempo
Com olhos fugidios e díspares da galinha
Rejuvenesço nessa fúria de espanto e esperança
Já que o desespero é como o prato de mentiras
E jamais mata nossa fome
Ah cidade, pátria, escapa-me o seu sentido
Empacotado na bandeira dos desencontros!                                        

                          João Batista de Andrade 20\fev\2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

liberdade

Pessoas que prendem pássaros são livres. Exploradores são livres. Trabalhadores são livres para serem explorados. Mulheres são livres para serem violentadas. Muitas dessas pessoas precisam humilhar outras pessoas para manter elevada sua própria auto-estima. E muitos deles gostam de aprisionar algum ser vivente e assim se vingar das restrições humanas que ainda limitam seus poderes e violência.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Pássaro no asfalto e final de meu romance

Hoje é um dia de glória: salvei um pássaro, logo pela manhã. Saí de meu prédio para tomar um café no bar, vi aquele pequeno passarinho no meio da asfalto. Era um desses periquitos chamados "australianos", tenho uma pena danada, nascem em gaiolas, longe da liberdade que a natureza lhes prometeu. Pois no meio do caminho tinha o Homem. O bichinho, bobo, inexperiente, assustado. Fui para a rua, apesar... dos carros, uma moto quase matou o pássaro. Fui chegando devagar, levei a mão até ele e ele agarrou-se ao meu dedo. "É de um morador do prédio em frente", me disseram os policiais do Posto Policial. Fiquei sem saber o que fazer. Entregar o bichinho para seu "dono"? - Eu não consegui. Fiquei andando com ele sem saber como agir e ele mesmo agiu: voou para a praça em frente ao meu prédio, com muitas árvores. Boa sorte para ele, sei que vai ser difícil sobreviver. Mas ele tentará.
 
 
Meus amigos. Por que me emocionei tanto com a história do pássaro que tirei do asfalto. É que isso coincide, de forma espantosa, com o novo final de meu romance que revisei ontem para enviar para a editora. Isto é, escrevi isso no romance, ONTEM, o pássaro que, ao voar, exibia sua liberdade aos olhos do persnonagem principal. E HOJE, tão cedo, vivi essa situação, o pássaro que tirei do asfalto e que voa para sua liberdade, mesmo que problemática e difícil.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Poema lido por Abujamra

Poema meu, escrito de improviso no Facebook, é interpretado pelo grande Abujamra ao final do programa "Provocações" do inicio de fevereiro\2013. Uma honra para esse poetinha envergonhado e quase clandestino.
Vejam em:  http://tvcultura.cmais.com.br/provocacoes/poemas-e-textos/pgm-602-a-coisa-segue-05-02-2013-1