quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Garra do Cinema Brasileiro atual

Há muito tempo não vejo tão aceso o espírito de luta do Cinema Brasileiro.
Faz bem participar desse momento, acreditar num futuro menos injusto para nosso cinema.
Acreditar na possibilidade de despertar a sociedade para a importância histórica e atual do Cinema Brasileiro.
E acreditar na possibilidade de continuar fazendo filmes, seja para o cinema, seja para a TV.
É preciso saudar a garra com exibida nas primeiras reações, como o exemplo de cidadania do Cariri.
E a lucidez de tantos cineastas cujos textos tenho lido nessas listas, como esse agudo artigo do Newton.
Num periodo de um ano muitas coisas foram mudando, devagar, quebrando resistências.
É uma onda que cresce, ensina, muda.
Um abraço a todos
João Batista de Andrade



On 28, Feb2012, at 5:29 PM, cariri.filmes wrote:




REPASSO

Texto do site CULTURA E MERCADO... para reflexão


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Lei 12.485 é liberdade de escolha para o cidadão
Newton Cannito | terça-feira, 28 fevereiro 2012


A Lei 12.485/11 é um marco para a cultura e, até mesmo, para a democracia brasileira. A lei aprovada em 2011 contemplará o público aumentando a diversidade da programação da TV por assinatura e gerará milhares de empregos em todo mercado cultural brasileiro.

Ela conseguirá isso com, entre outras coisas, o mecanismo de estabelecer uma cota mínima para conteúdo nacional em horário nobre. A lei define que os canais tenham 3h30 de programação brasileira por semana em horário nobre, sendo a metade independente.
Essa lei é a maioridade de nossas políticas públicas de cultura e nos colocou em briga de gente grande.
A Operadora SKY, oriunda da megafusão entre SKY e DirecTV, que deu ao magnata Murdoch 95% do mercado de TV via satélite no Brasil, acaba de lançar uma ampla campanha que visa conscientizar o cidadão contra a lei.

Primeira observação: não precisamos ficar “bravinhos” com a SKY por atacar os produtores independentes e o conteúdo nacional. Debates como esse são naturais na democracia e fazem parte do jogo democrático. Na verdade, deveríamos mesmo é comemorar. Poucas vezes tivemos um momento como esse, onde as questões de cultura ganham atenção do cidadão. Produtores independentes de televisão, Associação de Roteiristas, o Congresso Brasileiro de Cinema, a Abraci, Apaci e outras entidades começam a se manifestar. É um momento único de tentar se comunicar com a sociedade.

Segunda observação: Nossa comunicação deve ser com a sociedade. Não apenas com a “classe audiovisual”. Muitas manifestações convocam a classe audiovisual. Mas é muito pouco. E a “classe” nem precisa ser convocada. O mínimo que temos que fazer é convocar é a militância de todos os produtores de cultura brasileiros. Realizadores de teatro, música, circo, artistas em geral serão favorecidos por ter finalmente espaço televisivo. Mas isso ainda é apenas a base inicial. A comunicação que temos que fazer deve ser voltada à sociedade, ao público. Temos que deixar claro que não estamos defendendo um interesse corporativo. Estamos ao lado do cidadão.
Vale a pena analisar a campanha da SKY.

Ela começa com: Você é a favor da liberdade na TV por assinatura?
Depois afirma que “isso é o inicio de uma grave intervenção nos meios de comunicação e que uma agência reguladora terá o poder de controlar o conteúdo”.

Além disso, em outros momentos afirma que o assinante será obrigado a ver filmes brasileiros.
Como defesa os realizadores em geral estão acostumados a afirmar coisas fundamentais como o fato do conteúdo nacional ser importante para reforçar o senso de identidade nacional e impulsionar o desenvolvimento da indústria do audiovisual.

Isso é verdade, mas é pouco. Não podemos contrapor nacionalismo à liberdade. Liberdade é fundamental.
Temos que avançar no debate e esclarecer a população. E temos que começar respondendo a pergunta: você é a favor da liberdade na TV por assinatura? Sim! Somos a favor, sempre fomos.
Não podemos dar a uma corporação privada o título de defensora da liberdade de escolha do cidadão. Liberdade empresarial não é, necessariamente, liberdade cidadã.

Temos que tomar um grande cuidado: não pode parecer que é cineastas x público. Já tivemos momentos que os cineastas foram assim, no passado. Isso passou. Mas parte pequena do público ainda vê os cineastas como gente chata que quer impor seus filmes ao público. Temos que mostrar que estamos noutra, faz tempo.

A SKY não pode se colocar como defensora do interesse público. E tratar os realizadores como se estivéssemos presos a interesses corporativos. Não é verdade.

Temos que ter claro que o principal objetivo da lei não é dar empregos para cineastas. Nisso a gente se vira. O principal objetivo da lei 12.485/11 é o cidadão, não a classe audiovisual. Ela serve principalmente para aumentar a diversidade de conteúdos para o cidadão comum. Queremos dar mais LIBERDADE DE ESCOLHA para o cidadão.

Queremos conteúdo brasileiro justamente para que o público tenha mais diversidade. Não queremos tirar esportes, nem nada. Isso já tem bastante. Queremos mais. Queremos, por exemplo, ver a TV paga fazendo ficção de qualidade, tal como faz a nossa maravilhosa TV aberta, aumentando a quantidade de entretenimento de qualidade disponível ao público.

Nosso objetivo é apenas impedir a imposição privada de apenas um tipo de conteúdo e aumentar a diversidade de opções para o público.

Lembrei-me agora das linhas de �¿??nibus. Se não tiver algum poder público organizando a rede de transporte (que tem operadores privados) os empresários do setor operam apenas as linhas mais rentáveis. Nesse caso, vastos setores da população ficariam desamparados, sem transporte.
A democracia é o poder da maioria, mas também o direito das minorias. Cabe ao Estado Democrático garantir que a diversidade de gostos e interesses seja contemplada. Se o mercado ficar sem regulação ele vai investir apenas na área mais rentável e prejudicar o interesse público. A TV, por exemplo, poderia produzir apenas transmissões esportivas que são mais rentáveis, pois tem menos investimentos, e não investir em dramaturgia. Isso prejudica o interesse do público.

Isso não é esquerdismo e/ou intervenção estatal à la Fidel Castro. Foi o PSDB que criou o modelo das agências reguladoras e o PT deu sequência. É natural no regime democrático.
Temos que ter a coragem de responder de frente a acusação da SKY: “isso é o início de uma grave intervenção nos meios de comunicação e que uma agência reguladora terá o poder de controlar o conteúdo”.

Sempre desviamos dessa questão, mas chegou a hora de debater claramente a diferença entre regulação e censura.

A censura é para excluir conteúdos. A regulação é para aumentar a diversidade de conteúdos. É oposto. A regulação serve para diminuir a censura privada. Muitos falam de censura estatal, mas poucos falam da censura privada, que acontece diariamente. A regulação é anti-censura.
Temos que discutir claramente com a sociedade que a democracia se faz com Estado forte. Com Estado fraco o interesse privado se impõe completamente e a população fica refém do interesse econ�¿??mico de pequenos grupos de biliardários. O Estado democrático forte tem que “tentar controlar” o interesse privado.

Eu digo “tentar controlar”, pois o fato é que o Estado no Brasil é fraco. A SKY diz que a Ancine vai “ter o poder de controlar o conteúdo”. Alguém realmente acredita nisso? Alguém acredita mesmo que a Ancine é assim tão poderosa? É apenas uma lei que diz que algo como 30 minutos diário deve ser de conteúdo nacional. É pouco para caramba. E a Ancine não escolhe qual conteúdo será. A TV escolhe. E todo o resto é “controlado” apenas pelo interesse comercial e é natural e saudável que seja assim. O Estado não vai ter esse poder todo. Vai apenas fazer uma pequena intervenção visando ao interesse público e ao aumento da diversidade. Convenhamos que é algo bem humilde. Não precisamos ter medo de defender um Estado forte na Politica de Comunicação do Brasil de hoje. Até porque o Estado é muito fraco no setor. Ele é todo controlado por interesses privados. Ter um pouquinho de regulação pública não vai ser assim tão ditatorial.

Além disso, temos que ter claro que o Estado não quer acabar com o mercado. O empreendedorismo privado é uma força fundamental. A agência reguladora visa apenas evitar seus abusos. Nem sempre o “Estado” está certo. O Estado também é feito por seres humanos que podem errar e/ou defenderem apenas seus interesses privados. Mas também nem sempre o poder privado está certo. Ninguém é perfeito nesse jogo. Mas a briga entre os dois é vantajosa para quem realmente interessa: o PÚBLICO. A população. O Cidadão. O cidadão só tem a ganhar com essa briga, pois poderá ir opinando em suas brechas e intervindo. Se o Estado neutralizar o privado ou o privado neutralizar o Estado entramos na ditatura. Seja a ditadura do Estado, seja a ditadura das corporações privadas.

Além disso, um dado final: o fato é que o público de TV paga quer conteúdo nacional. Em especial de ficção. O Canal Viva, por exemplo, que reexibe as novelas da Globo tem dado ótimos índices de audiência. Eu estou convencido que um dos motivos da TV paga ter demorado tanto para emplacar no Brasil foi à ausência de conteúdo nacional e regional. Todos falavam do preço da assinatura, mas isso é parte da verdade. Basta ver o altíssimo índice de pessoas que assinavam TV paga apenas para assistir TV aberta com sinal melhor e de pessoas que assinavam TV paga e desistiam, pois não gostam de sitcoms americanas. A TV paga americana foi implantada com uma politica de criação de canais independentes, como Discovery e HBO. A TV paga brasileira foi apenas com canais ligados à mesma programadora, com pouca diversidade de proprietários de canais, e sem produção local e independente. Foi assim que se afastou do público e temos baixíssimos índices de assinantes.

Hoje temos a oportunidade de recomeçar. A população subiu seu poder aquisitivo e está dando uma nova chance para TV por assinatura. Mas vai querer conteúdo nacional. Torço para que a SKY e outras empresas do setor foquem em realmente conquistar o público e percebam o potencial da produção cultural brasileira para ajudá-las nisso. Mas se eles não perceberem azar. Vamos seguir em frente e mostrar ao PÚBLICO, ao espectador que essa Lei visa melhorar a qualidade e a diversidade sua programação! Nesse sentido considero louvável a iniciativa do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC) de entrar em contato com Associações de Defesa do Consumidor. Isso é fundamental e é isso o caminho que devemos seguir.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

burocracia X cultura

Vocês querem cultura? - toma verba! - Você pegou verba? - toma problemas!
Dá pena ver velhos batalhadores de ONGs às voltas com a rigidez absurda dos controles de despesas. Tenho ouvido muitas pessoas rezando para nunca mais receberem apoios governamentais: ficam, depois, anos às voltas com essa rigidez burocrática que transforma todos em bandidos, enquanto os bandidos de fato estão soltos numa boa por aí. Estaria esgotado o modelo de parcerias na política cultural? - ou o que se passa é simplesmente a lógica apavorada dos funcionários que temem aprovar qualquer coisa e serem, eles, cobrados depois? - Não seria bastante uma análise do resultado, se o projeto foi realizado ou não, se foi realizado com bom ou mal aproveitamento? A verdade é que tudo isso vai destruindo nossa politica cultural, transformando ativistas culturais e artistas em burocratas apavorados. O Estado, de parceiro, incentivador, torna-se algoz.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

cinema brasileiro X cinema norte-americano

Vi, pelo Canal Brasil, um programa sobre as possibilidades e problemas do cinema brasileiro atual. Falas do Paulo Emílio, Calil, Manoel Rangel. Será que entendi mal?- alguém disse que erramos, que a luta não deveria ser contra o cinema norte-americano pois as pesquisas mostram: quando subimos eles sobem também! - a coisa não é assim. Não estamos mais no tempo do "abaixo o imperialismo" mas é preciso sim lutar contra o poder econômico e político do cinema norte-americano que é capaz de nos sufocar a todo instante e foi capaz de criar, entre nós, brasileiros, seus próprios defensores, divulgadores tão ardorosos que sentem dificuldade de falar do... digamos assim... "cinema" brasileiro. Há sim uma batalha também no campo ideológico e estético: o cinema norte-americano massifica a idéia de que seu cinema é O CINEMA, com sua violência, idolatria, efeitos especiais, super-produções. E a politica brasileira de cinema atual esquece isso, esquece que essa batalha é fundamental: as cinematografias devem se impor ao seu público, em seus paises, com sua originalidade, quebrar essa impoosição que semnpre nos joga para o desimportante, para o trivial, para a bobagem dos filmes sem cara e sem coração que buscam o público da pior maneira possível: tentando se apresentar pior do que ele.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

cinema brasileiro

artigo lúcido do Marcos Manhães.
Política de Cinema erra absurdamente achando que pondo dinheiro nas produtoras que fizeram um sucesso garantem outro sucesso.


Assunto: [CINEBRASIL] ANCINE:renda do cinema brasileiro encolhe 30% em 2011

Responder A: cinemabrasil@cinemabrasil.org.br

Como tínhamos afirmado, quem fez 143 ou 141 milhões de espectadores
foi o cinema em geral, não o cinema brasileiro, como foi dado
no jornal O GLOBO e nas redes sociais. VEJAM ABAIXO EM #####.

A ANCINE agora dá os dados oficiais. 143,9 milhões de espectadores
para os filmes de todas as nações, em cinemas do nosso país (onde
historicamente entre 80 e 85% de filmes norte-americanos, ela não
deu este detalhe). Destes, em 2011, apenas 12% (DOZE POR CENTO !)
foi ocupação com filmes brasileiros, menos de 18 milhões de
espectadores, com uma renda 30% abaixo da renda dos filmes
brasileiros em 2010.

Algo precisa ser feito urgentemente. Antes era o filme brasileiro
de produção independente (sem que o agente econômico seja a TV),
que precisava ser salvo, MAS AGORA, é o cinema brasileiro em geral
que precisa ser salvo. A renda encolheu 30%. Isso é grave.

Também não é fornecido oficialmente que, dentro destes
cerca de 12% de ocupação do cinema brasileiro no mercado de
distribuição em salas de exibição comerciais, predominam (no
que tange a bilheteria) - até última informação que temos - aí
cerca de 90% de filmes feitos com coprodução ou algum tipo de
contrato determinante com a TV. O que resulta em reservar ao
filme independente apenas cerca de 1% do mercado de salas.

Quando a ANCINE foi criada, a ocupação beirava os 10% e numa
proporção majoritária de filmes de produção independente(da TV).
HOJE, NEM COM A FORÇA DA TV, a bilheteria está crescendo, mas
sim despencando 30% de um ano para outro. Em 2003 teve um pico
acima de 20% mas foi caindo de novo. NO QUE a TV está errando
nas suas parcerias com as equipes brasileiras, roteirisas e
diretores que se filiam às produtoras inDEPENDENTES ?

É PRECISO VER ISSO.

Resumo da Ópera:
A ocupação cresceu em 10 anos 2 pontos percentuais, ou seja
de cerca de 10 para cerca de 12%. De 2010 para 2011 caiu 30%.

NO QUE, os editais públicos, ao apostarem como têm apostado,
em filmes ditos "de mercado" TÊM ERRADO SOLENEMENTE, não
garantindo que o mercado de filmes brasileiros se expanda,
ao contrário, gerando uma queda expressiva como a de 2011?

A resposta está em filmes como DIVÃ, CILADA.COM, AVENTURAS
DE AGAMENON, DE PERNAS PARA O AR, SE EU FOSSE VOCÊ 10, são
vários os exemplos de filmes assim em que os editais têm
colocado dinheiro PÚBLICO. O Público até ainda vai, mas ele
não se encanta com filmes que sempre lhe dão MAIS DO MESMO.

Não adianta o FSA priorizar empresas que já fizeram mais
de 1 milhão de espectadores, porque isso não tem garantido
nada, nunca garantiu em lugar nenhum do mundo. É mais do
que sabido que la nos EUA, mesmo os grandes estúdios como
SONY, DISNEY, FOX, etc, produzem 90 fracassos para cada
10 sucessos. Fazem cerca de 400 a 600 filmes por ano nos
grandes estúdios (os indies fazem entre 1000 a 1500)
e só um em cada 10 conquista o público. E conquista na
hora em que oferece a ele aquilo DO QUE ELE PRECISA,
que é *aquilo que ele ainda não tem*. As pesquisas que
as distribuidoras e financiadoras do cinema brasileiro
fazem estão MAL FORMATADAS; é preciso ter coragem e
sabedoria para elas admitirem isso, mas estão. O que
se tem de AFERIR não é "o que mais você gosta?", mas
"o que você não tem visto que gostaria de ver?", e,
diga-se de passagem, NEM ISSO será garantia de coisa
alguma.

"APOSTAR NO TALENTO DE PROFISSIONAIS DO CINEMA, tanto
de roteiristas (na escolha de bons roteiros, por que
não procurar roteiros prontos de profissionais
experientes num banco de roteiros?) como de DIRETORES
(que podem ser roteiristas, sem pruridos corporativistas,
pelamordedeus), quando apresentam projetos independentes
e SE DAR AO DIREITO DE ERRAR" - deve antes tarde do que
nunca ser o lema das financiadoras (editais, produtoras
"industriais", patrocinadores diretos, etc) no BRASIL.

Nos países desenvolvidos, como EUA, França, é assim.
Na França, há algum tempo atrás, havia uma FILA,
acreditem se quiserem, e todo projeto era financiado
pelo Estado, na ordem cronológica. Nem se quer isso.

A SUGESTÃO:
DAR ao cineasta brasileiro a chance de fazer o seu
filme. Ao iniciante a chance de fazer o seu curta,
sem julgamentos subjetivos de se isso vai ser bom
ou mal para o público ou para a crítica. Deixa o cara
fazer, e o público e a crítica vai aprová-lo ou não.

Ao veterano, àquele que fez muito curta (e curta em
35 mm ou câmera profissional HDCAM algo assim, com
equipe mínima com DRT, registro profissional, com
CPB, CRT obtido na ANCINE, tudo, para que mostre
que o cara conhece o babado, a "indústria", que sabe
lidar com a engrenagem do Cinema), DAR LHE CRÉDITO,
pois é um profissional de credibilidade que não é
digno de crédito nem do Estado.

E não falo só de veterano em curtas, mas de veterano
em longas também. Quantos deles estão reclamando de não
estarem encontrando apoio para fazerem o filme deles?
Nélson Pereira do Santos não o único. Olhem pros lados.

O público é quem melhor aponta se o cara está lhe
dando aquilo que ele precisa. Testes de público, com
o público *do filme*, e um ajuste fino, se necessário
antes do lançamento nas salas. Um bom método. Ou,
se o grande público rejeitar, lançar só para um gueto
ou nem lançar, assumir o prejuízo como os americanos.
Em cada 10, um conquista o público; 9 são "flops".

HOJE, como já disse Roberto Farias, todo o benefício
vai para o DISTRIBUIDOR ESTRANGEIRO (que recebe 70%
de desconto na transferência de divisas, se investir
NO FILME QUE ELE QUER) e para as EMPRESAS DE OUTROS
RAMOS FORA DO CINEMA (Estatais do petróleo, disso e
daquilo, e grandes empresas privadas, recebendo de
100 a 125% do que investiu de seu imposto, de volta
numa peça de publicidade para a marca delas, que é
o filme em que elas decidiram investir) e o CINEASTA
é tratado como se não soubesse nada de nada, com
editais e contratos draconianos, sempre duvidando da
sua capacidade de filmar, de poder acertar com o seu
público. ESTE É UM ERRO BÁSICO, QUESTÃO DE FUNDO QUE
FOI ABANDONADA, a partir das diversas oportunidades
pulverizadas com glamurizações e purpurinizações em
co-produções atraentes, que pelo menos têm cumprido
a missão de dar empregos ao setor, MAS, por tremendo
equívoco, o de não valorizar O ERRO do profissional,
tem se furtado de conhecer o ACERTO do profissional
em algumas de suas obras. Só errando é que se acerta.
INVESTINDO NO CINEASTA, OU NA DUPLA DIRETOR/ROTEIRISTA
é que vamos reverter este jogo.

Achar que distribuidoras estrangeiras escolhem melhor
filmes é uma ingenuidade. Há distribuidoras brasileiras
que acertam, como a Downtown, mas que às vezes também
erram feio, priorizando o sucesso de mais de 1 milhão
para colocar na carteira dela, e conseguir sobreviver
em meio a critérios equivocados na raiz do problema.

As distribuidoras brasileiras precisam ERRAR MAIS.
E as estrangeiras, *se quisessem mesmo o bem do cinema
brasileiro*, aplicavam aqui o que suas matrizes aplicam
lá: apostariam em quantidade, para descobrir qualidade.

Não é uma crítica à ANCINE, mas uma avaliação GERAL, de
um PARADIGMA errado que assola o cinema brasileiro, nas
estatais e similares como no financiamento de longas da
RIOFILME, editais públicos de toda natureza, e o crivo
de empresas privadas sobre filmes, de acordo com seus
interesses empresariais e previsões erradas de sucesso.

Justificam que o ano de 2011 foi atípico porque não
ocorreram os fenômenos de público, como o TROPA DE
ELITE 2 e NOSSO LAR, de em 2010, ou TROPA DE ELITE e
DOIS FILHOS DE FRANCISCO em outros anos. Mas então o
resultado do mercado não é fruto de um planejamento?
É fruto de existirem fenômenos? É disso que falo aqui.
O Tropa de Elite, o primeiro, era um BO no início,
apostaram nele, e ele trazia o que o povo não tinha
ainda experimentado, daí explodiu. Outro fenômeno
parecido foi o primeiro TAINÁ. Foram os primeiros
filmes do padre Marcelo Rossi. Não dá para prever
o que o público vai gostar. Gostou do Nosso Lar,
mas nem tanto dos outros que "embarcaram no filão".


O Brasil precisa produzir 200 filmes por ano, mas
filmes dos quais as financiadoras e distribuidoras não
"têm garantias" de sucesso, PORQUE NUNCA TERÃO, isso
já se comprovou ser uma falácia, gente. Precisa se
abrir à CORAGEM, ao TALENTO, à EXPERIÊNCIA do Cineasta
Brasileiro que quer fazer uma PRODUÇÃO INDEPENDENTE,
sem crivos artísticos de profissionais da TV ou de
profissionais do Velho Cinema ou do Cinema Novo.
Claro, destoando aqui um pouco do Santeiro, que
prega que TODOS os filmes devem ser feitos, concordo
que haverá sempre uma SELEÇÃO, por conta da escassez
de RECURSOS FINANCEIROS, mas nunca com o critério
equivocado que tem pautado FSAs e congêneres, de
se "MEDIR" o tamanho da "garantia de sucesso". ISSO
NÃO EXISTE. Empresas que fizeram MILHÕES de ingressos
no passado, como a produtora do Barreto, não emplacam
sucessos no presente. Isso não quer dizer que se
Bruno Barreto apresentar um projeto de filme, não
deva ser levado a sério. Não é isso. Deve, ele é
um cineasta independente, e se fizer com a produtora
do pai, pouco importa, deve ser financiado sim. O
QUE ESTÁ ERRADO é dar uma nota lá em cima "porque
a produtora é do Barreto", ou do Fernando Meirelles
ou deste ou daquele produtor que em certo momento
fez mais de um milhão de espectadores. ENFIM, fiquem
com a matéria da UNIVERSO ON LINE - UOL e confiram
os dados oficiais. E rebatam, se puderem.

Grande Abraço. Sorte para nós!

Marcos Manhães Marins