domingo, 8 de janeiro de 2017

ESTADO DAS COISAS



ESTADO DAS COISAS
(para Ana)

Como?
Se das entranhas dessa terra 
Saltam anjos e demônios domesticados
Capazes de medir distâncias verbais
E num lance de destreza assustadora
Calcular o número de letras de suas frases
E o volume de cada uma de suas idéias

Se o deus da carnificina cerebral
Já ocupou a parte maior desse pensar
E a fome de verdades e sentidos
Já não passa de um cardápio burocrático
Os fins das ações humanas já nada valem
Sufocados por tantas regras e siglas
Fantasmas de assustar crianças
E imobilizar os mais pensantes.

Alma minha, rebelde, livre
Espanto que me conduziu pela vida
Desejos, sonhos, utopias
Agarro-me a essa lembrança o quanto posso
Enquanto o corpo se vai aos poucos
Sendo arrastado pela morna inutilidade
Dos dias em que vivemos.

Ah sim, mesmos nesses dias
Planto sementes com meus espantos
Quebrando medos e certezas
Em busca de parceiros da utopia

Sonho com as manhãs de sol
Festejando a liberdade e a dignidade humanas!