sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

cinema nacional?

Não gosto dessa ambígua denominação, "cinema nacional". Ambígüa porque ao mesmo tempo que nos afirma, nos joga na lama do famoso "abacaxi nacional". É uma coisa antiga, getulista. Sou brasileiro, faço cinema, sou universal. Assim, tolero apenas que digam "cinema brasileiro".

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ainda o globo Repórter

Sempre encontro estudos sobre meus filmes no Gl Repórter (nos áureos anos de 1970, quando o Gl Repórter era um programa de cineastas).
Eis agora um breve resumo que me enche de orgulho, como um presente de aniversário, texto produzido na PUC-Rio, nesse ano de 2011:

www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2011
Departamento de Comunicação Social

CASO NORTE E O HOMEM QUE VIROU SUCO: OS CINEMAS

DOCUMENTAL E FICCIONAL NOS ANOS 1970 E A TEMÁTICA DA

MIGRAÇÃO NORDESTINA

Aluna: Ana Beatriz Dias Rangel Kling

Orientadora: Andréa França

Introdução

A proposta é mostrar que o cinema documentário e o ficcional, na década de setenta e

início dos anos oitenta, têm preocupações temáticas semelhantes quando abordam

criticamente o fluxo migratório mais freqüente no Brasil do século XX, o sentido Nordeste-

São Paulo, e as mazelas dos retirantes que tentam não ser engolidos pelo ritmo da metrópole e

seu alto custo de vida. Através dos filmes de João Batista de Andrade, o objetivo é discutir a

difícil sobrevivência desses solitários trabalhadores que se vêem distantes de seus referenciais

culturais quando chegam nas grandes metrópoles. Além disso, analisar sua posição subalterna

com relação aos habitantes da região Sudeste do país. A temática da migração em ambos os

filmes –

Caso norte (1977) e O homem que virou suco (1980) – desemboca inevitavelmente


no discurso de que a pobreza e a condição de vida precária não são superadas com a mudança

para a capital paulista e, como conseqüência, a violência na relação com o outro passa a ser a

única alternativa para aqueles que um dia sonharam com uma vida melhor.


Objetivos

A

nalisar os pontos de convergência entre o cinema ficcional e o documentário que


fazem do problema da migração nordestina, nos anos setenta, a questão central de suas

histórias, além de destrinchar os procedimentos cinematográficos (posição e movimentos de

câmera, dos personagens, gestos, diálogos, etc.) utilizados para evidenciar a situação

subalterna do nordestino ou nortista com relação aos oriundos das regiões Sul e Sudeste do

país. Mostrar como o cinema de cunho político-social esteve presente na época em que o

mercado cinematográfico estava em baixa e também como João Batista de Andrade construiu

com seus filmes um discurso de


etnocídio – destruição de uma cultura – praticado pelas


regiões mais ricas do país, diante das quais o migrante não encontra alternativa senão o

desespero e a miséria.


Metodologia

Através da leitura e análise de jornais da época, entrevistas com cineastas, artigos e

dissertações sobre o Programa

Globo Repórter – da Rede Globo de televisão – na década de


setenta, pode-se perceber que dois documentários dirigidos por João Batista de Andrade para

o ainda hoje popular programa merecem atenção especial;


Caso Norte e o censurado Wilsinho


Galilélia


, que tratam, em linhas gerais, da pobreza e da falta de acesso dos migrantes


nordestinos, que vão para a cidade de São Paulo, à educação, ao sistema de saúde, ao

saneamento básico, à moradia decente. A partir do destaque dado pela imprensa da época a

estes dois documentários – como o jornal


O Globo e a revista Filme Cultura –, a pesquisa


pôde perceber que o filme seguinte do mesmo diretor teria todas as condições para arrebatar a

crítica, os festivais de cinema e foi isso que aconteceu. O filme seguinte de João Batista seria

o vencedor do Festival de Gramado em 1981. Trata-se de


O homem que virou suco, longametragem


protagonizado por José Dumont que conta a história de Deraldo, um nordestino que

vai para São Paulo, mas sem sonhar com uma vida melhor. Deraldo é um poeta que se

encontra na classe trabalhadora e sabe disso; é um dos milhares de nordestinos “esmagados”


Departamento de Comunicação Social

pela metrópole mas consciente de sua condição e com vontade de mudá-la. As proximidades

com o documentário para TV,

Caso Norte, são muitas e a proposta é analisá-las.


A partir dessa percepção, fez-se necessário encontrar as seqüências-chave em ambos

os filmes em que a subalternização do nordestino diante dos cidadãos da metrópole paulista se

faz presente; e como o cineasta explora cinematograficamente essa situação de fragilidade. O

processo de análise tem como método fundamental a separação das diferentes seqüências dos

filmes em blocos – divididos de acordo com o desenrolar das narrativas – e a descrição crítica

destes.


Conclusão

A ânsia de João Batista de Andrade por justiça social num país como o Brasil do final

dos anos setenta se manifesta em vários de seus filmes, tanto documentários como ficção.

Importa pensar aqui de que modo a questão social e econômica da migração nordestina para

os grandes centros urbanos, especificamente na década de setenta, aparece na TV e no cinema

da época. Mais do que isso, o interesse do artigo é analisar filmes que, para além de fazerem a

crítica ao regime conservador-desenvolvimentista do regime militar, inovaram nos seus

procedimentos audiovisuais. Assim, a conclusão a que se chega é a de que o artista – neste

caso, cineasta – expõe sua opinião e suas crenças através de recursos audiovisuais que

mobilizam ou não os espectadores. O que importa, na análise dos filmes, é a forma pela qual o

cineasta hierarquiza as mazelas que crê atingir o outro, o

povo. O debate provocado a partir


das questões expostas nos filmes de João Batista de Andrade se sobrepõe à discussão, da

época, sobre os problemas do Brasil (analfabetismo, desigualdade social, etc.) e as

possibilidades, viáveis ou não, de mobilização social.

sábado, 26 de novembro de 2011

problemas reais

Bom dia, amigos. Recebi hoje uma mensagem pessoal relatando o problema de quase 2.000 pessoas ameaçadas de morte por esse Brasil-afora, por denunciarem crimes, abusos, extração ilegal de madeira, invasão de terras indígenas, etc. Pensando nos problemas que me afligem nesses dias, me senti um tanto mesquinho. Isso é bom, não é ruim. Prefiro viver e conviver com as questões reais desse nosso mundo. Pode ser que não me deem dinheiro para filmar, mas sempre me darão assunto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

complementando desabafo

Quero aqui saudar o cinema brasileiro tanto por seus filmes, seus talentos, quanto perla luta de todos pela nossa existência como cineastas. Devo minha carreira a esse cinema, fiz e faço parte dele. Peço que não leiam meu desabafo nem como "jogar a toalha" nem como negação do atual cinema brasileiro. Desabafos como o meu muitos e muitos cineastas, de todas as idades, poderiam fazer. Não quero também diminuir o que já disse achando que o texto está direcionado a pessoas ou a instituições. Há um vazio na política cultural brasileira. E também um messianismo militante de alguns dirigentes que pensam saber mais do cinema brasileiro do que os próprios cineastas. Dirigentes que decidiram que a partir de agora o cinema deve ser medido apenas pela bilheteria, sem riscos, sem propostas: quem deu certo leva tudo. É de um primarismo absurdo. Ainda mais entre nós, onde todos os recursos, seja para filmes absolutamente e só comerciais, seja para os absolutamente experimentais.
QUE SE CULTIVE TUDO, COMERCIAIS, MEIO COMERCIAIS, AUTORAIS, EXPERIMENTAIS! cada um na sua esteira, sem eutanásia e sem esse darwinismo cultural!

Sobre jogar toalha: nada disso. Há decisões esperadas (certamente já tomadas mas não divulgadas) e devo esperar. E há muita luta pela frente, tenho recebido muitos apoios e promessas, buscando recursos para meu novo projeto, o "Vila dos Confins", adaptação do maravilhoso romance de Mário Palmério.
E eu mesmo preciso pensar que por todo lado, mesmo nas instituições, federais e aqui mesmo em SP, há pensamentos discordantes e idéias de mudanças.
E há também a esperança enorme de que a lei que abriu as TVs para a produção independente entre mesmo em vigor, que isso abra bastante o mercado de trabalho e a possibilidade de um grande diálogo de nosso cinema com o povo brasileiro através das telinhas.
É preciso lutar.

desabafo

Recebi mensagens muito amigas. Algumas me perguntam qual a dificuldade. Eu sempre me pergunto se o minha vida é o cinema ou se o cinema é que é minha vida. Quem pertence a quem. A resposta poderia me ajudar a suportar a dificuldade em retomar minha carreira, depois de tantos filmes, tanta história, tanta luta, tantos prêmios, tantas homenagens. Tenho me mantido sereno, racional, tenho procurado falar com amigos. Mas tenho denunciado também a política de exclusão e a eutanásia cultural. "Novos" valores pedem "novos" cineastas. Serão mesmo "novos"?- por trás de tudo há uma luta cega pelo poder. E pelos recursos. Na Europa, os cineastas podem dizer que morrerão filmando. Não no Brasil. Aqui somos descartáveis. Venho vivendo esse desrespeito desde os anos 90, fazendo filmes na marra, na contramão, com escassos recursos e apoios. Há dez anos não ganho um só edital de produção e se não parei é por que comecei minha vida de cineasta assim, fazendo filmes na pura loucura, sem dinheiro. Assim fiz o "Rua Seis sem Número " (Berlim/2002) "Vida de Artista" (Melhor filme Fest. Mostra Filme Livre Rio/2004), "Veias e Vinhos" 2006, "Vlado, 30 anos depois"( 2005). Mas chega um momento em que é preciso voar mais, sair das pequenas produções, voltar ao meu ciclo virtuoso dos anos 80 com "Doramundo" (Melhor filme Gramado/78), "O homem que virou suco" (Melhor Filme Moscou/81), "A próxima Vítima" (vários prêmios1983), "Céu Aberto" (Melhor filme Office Catolic/1985 e muitos outros prêmios), "O País dos Tenentes" (Melhor filme Festval do Rio/1987 e muiiiitos prêmios). É o ciclo de filmes que seguiram a história do Brasil da ditadura à abertura. É isso. Me danei em 90, com o plano Collor, perdi o filme de ficção que faria sobre o Vlado (Vladimir Herzog. Me auto-exilei em Goiás, voltei em 2002, fui Secretário da Cultura de SP, elaborei e implantei a Lei da Cultura, o PROAC que injeta milhões de reais todos os anos na produção cultural desse estado. Saí da Secretaria da Cultura pensando em voltar à minha carreira de cineasta. É difícil. Como já disse, o desrespeito é enorme: há dez anos não ganho um só edital nem estadual nem federal. E posso garantir: os projetos são bons e tenho toda a minha carreira como aval. Olha, eu gosto de muita coisa na vida: gosto de cinema, gosto de escrever, gosto de desenhar, gosto de mato ( tenho paixão pelo cerrado e conheço ali as frutas, as plantas, os animais). Não pertenço ao cinema e nenhum laço covarde vai me prender a a essa cadeia de insensatez e covardia. Pois o descarte dos veteranos é mesmo uma eutanásia cultural que denuncio. Daqui a poucos dias completo meus 72 anos, quase 50 deles dedicados ao cinema e à luta do cinema brasileiro. Sou ainda um garoto em todos os sentidos: fisica e mentalmente. E vou procurar minha vida em algum prazer de viver, fora dessa perigosa irracionalidade que, infelizmente, não tenho conseguido mudar.
. Se for assim, ficarão minhas obras, meus livros, meus textos, a memória de minhas lutas, as entidades e festivais que criei ou ajudei a criar, minha presença um tanto fantasmagórica pela história dos últimos 50 anos do cinema brasileiro e de nossa política cultural. O QUE NINGUÉM PODERÁ FAZER É ME IMPEDIR DE PENSAR E SER CRÍTICO, EXPOR MINHA INSATISFAÇÃO COM O MUNDO EM QUE VIVEMOS

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pressão das TVs

Para se entender melhor a pressão das grandes emissoras de Tv contra a regulação que abre espaços para o cinema brasileiro (produção independente),acho imprescindível ler artigo da Carta Maior sobre pressão das TVs contra qualquer regulação:
http://​observatoriodaimprensa.com.​br/news/view/​_dez_fatos_que_a_grande_imp​rensa_esconde_da_sociedade

O artigo mostra como em todos os paises "exemplares" sob o ponto de vista de democracia (França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal, etc.) tem muito mais regulação do que se propõe fazer aqui.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

oposição e TV

Tenho pedido aos meus amigos ( e às vezes companheiros de muitos anos) que não se deixem levar pelos argumentos de sempre das TVs para manterem o Cinema Brasileiro fora das telinhas. "Liberdade de expressão", "liberdade de escolha pelo espectador", deus do céu., E a nossa liberdade de expressão em nosso próprio país? - e desde quando o telespectador teve "liberdade" para escolher qualquer coisa?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

abertura nas TVS

Nem abriu ainda e as poderosas TVs se movimentam para, na regulamentação da lei 12.485, inviabilizar o ingresso do cinema brasileiro, da produção independente, nas TVs.
Aqui, do alto da Mantiqueira ("Serra que chora", nalguma lingua indígena daqui), recuperando-me de uma pneumonia, vou acompanhando a movimentação quase febril de cineastas para ocuparem esse espaço aberto pela lei.
É um momento difícil, eu chamaria de "avanço do atraso" ou "modernização conservadora" na sociedade brasileira.
Não há exatamente uma abertura para o futuro, mas um remendo do passado, um pequeno furo por onde podemos passar se forçarmos, espremidos até o limite de nossa capacidade.
Mas eu já fiz bons trabalhos na TV Cultura, governamental, em plena ditadura.
E na maior TV brasileira,na época apoiadora da ditadura...
Tem moleza não, no mundo da cultura...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

OcupeSampa

Tenho seguido e filmado esse movimento de jovens sob o Viaduto do Chá, seguindo o que tem acontecido no mundo, principalmente Estados Unidos. Há um sentimento juvenil ali, anti-capitalista, retomando em muito o movimento estudantil de 68.
Hoje postei no Facebook ( vejam em "joão Batista Andrade") o seguinte texto:

Olá amigos. Facilidade de comunicação via redes sociais pode gerar equívocos. Facilidade nenhuma gera movimentos, revoluções. Ouvi na aula livre sob o Viaduto do Chá uma frase que acho equivocada e perigosa: que alguém tem que se expor ao perigo para ser seguido. É, na verdade, a teoria do foco: um grupo age e a sociedade segue, gerando a revolução. É uma simplificação e gera o perigo de sacrifícios inúteis. Penso que quando isso parece ter dado certo é porque as condições estavam maduras para isso na sociedade. É preciso "feeling" político, militância e capacidade de análise para agir.


Obs: O professor ( aliás numa excelente exposição) citou o caso dos 4 jovens negros norte-americanos que resolveram ocupar uma mesa de brancos num restaurante, - e também a mulher negra que ocupou banco de brancos em ônibus,iniciando a revolução negra nos Estados Unidos.
O que o Prof esqueceu de dizer é quantas vezes isso foi tentado e quantos morreram ou foram presos ou massacrados por esse tipo de ação, antes de uma ou duas darem certo.

domingo, 30 de outubro de 2011

Céu Aberto

Achei esse artigo justamente no Portal Tancredo Neves, o reconhecimento de meu filme "Céu Aberto":
Em: http://www.tancredo-neves.org.br/filmes

CÉU ABERTO
Direção e roteiro: João Batista Andrade. Distribuição: Continental Home Vídeo. Produção: Raiz Produções. 1985. 78´

Um dos melhores documentários políticos já realizados no país, Céu Aberto ressalta a euforia que tomou conta do País com a campanha pelas Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves à Presidência da República, seguida da consternação nacional com a doença e morte do estadista mineiro. Sob o título inspirado numa frase de Tancredo, "Ninguém conspira em céu aberto”, o filme registra a oração de populares diante do Incor, em São Paulo, a leitura dos boletins médicos, a multidão nas ruas para dar o último adeus ao líder e seu enterro em São João del-Rei. Um dos momentos mais curiosos é a entrevista do general Newton Cruz, o “Nini”, comandante militar do Planalto e símbolo da truculência do regime militar, que justifica a repressão que liderou contra manifestantes a favor das eleições diretas, em Brasília. O filme apresenta depoimentos de políticos como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e Ulysses Guimarães; jornalistas, artistas e a historiadora Lucila Neves, sobrinha de Tancredo. Céu Aberto foi indicado como Melhor Filme ao Kikito de Ouro, do Festival de Gramado, e premiado no Fest-Rio, Prêmio OCIC (Office Catholic International du Cinema), Festival de Caxambu e Festival de Aveiro, em Portugal.

sábado, 29 de outubro de 2011

homenagem em Campinas

Foi emocionante a homenagem que recebi da CAM Municipal de Campinas. A surpresa foi descobrir o autor da proposta: O vereador Francisco "politizador" dos Santos. Eu o filmei em 1985 para o doc/longa CÉU ABERTO sobre a morte de Tancredo Neves e a passagem do regime militar para a democracia. Francisco era um andarilho, com uma bandeira nacional. Seu depoimento é revelador da esperança popular de que o sacrifício de Tancredo gerasse uma política renovada, popular e a liberdade.

Vejam trecho do filkme em

www.youtube.com/watch?v=ghXWURcYvpo

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

artigo sobre meu filme GUITARRA CONTRA VIOLA

Por acaso, achei hoje na internet um artigo belíssimo sobre o Globo Repórter ( no nosso tempo, de cineastas, anos 70), artigo centrado em meu doc "Guitarra contra Viola", de 1976 sobre a idéia de progresso numa pequena cidade do interior. O artigo (leiam que vale a pena) está na REVISTA DOMÍNIOS DA IMAGEM nº4. Pelo Google, coloquem isso mais meu nome, aparece a revista para ser lida como um livro mesmo:
No Google: Revista Dominios da Imagem nº4 João Batista de Andrade
http://pt.calameo.com/read/00080604088e181ba4400

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Homenagem

Estarei sendo homenageado pela CAM Municipal de Campinas dia 27 próximo
É sempre bom ser homenageado.
E melhor ainda agora, quando busco ´patrocínios para meu novo longa, o "Vila dos Confins"
(veja em www.viladosconfinsofilme.blogspot.com)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nova parceria

O projeto de filme "Vila dos Confins" ganhou agora uma parceria de peso.
Silvana Torres, da Agência Mark Up, cuida agora da promoção do projeto junto a patrocinadores, buscando os imprescindíveis apoios dos empresários e suas empresas ao projeto.
"Vila dos Confins" está registrado na ANCINE e habilitado a captar recursos utilisando as leis de incentivo cultural: o artigo 1A da Lei do Audiovisual, que permite descontar 100% do investimento no Imposto de Renda devido pelas empresas ou pessoas físicas.,
Para conhecerem melhor a nova parceira Silvana Torres, vejam (no Youtube)essa entrevista concedida por ela ao jornalista Heródoto Barbeiro:
http://www.youtube.com/watch?v=Ry6MegOfeD8
(copie e cole)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

novo livro

novo livro
Dei as últimas pinceladas em meu novo texto, um romance. E enviei ao editor, que me pede 40 dias para ler e opinar. Voltei à literatura, depois de quase dez anos sem publicar nada ( devo ter uns 5 livros publicados).
Gosto de escrever. A escrita me toma totalmente, sonho com a história, durmo e acordo com os problemas estéticos e narrativos a resolver.
O novo romance, daqui a alguns dias posso dar o nome, fala de mim, de minha geração, do país, das dificuldades políticas de minha geração.
É uma atualização minha. Eu preciso sempre, no cinema ou na literatura, falar de mionha geração, dos problemas sociais e políticos, das dificuldades políticas de cada momento.
Espero que o romance funcione.

terça-feira, 29 de março de 2011

Vida de Artista, CENSURA "ÉTICA"

Alertado pelo Newton Cannito, há coisa de um mês, abri um blog absurdo sobre documentários. Agora eles resolveram pegar no meu pé, por causa de meu filme "Vida de Artista" (Melhor Filme Festival do Fiulme Livre/2004). E com essa mania de "ética" nos documentários, visão castradora que andou entre nós.
Vejam em http://cinedocs.blogspot....com/
Eu sempre critiquei essa falsa moraliddade do tipo "não se pode filmar pessoas em situações degradantes", não pode isso, não pode aquilo. A sequência que ele usa PARA ME CRITICAR, a do copo dágua é uma das mais belas: ali eu mostro que sou cineasta, dou a água à mulher mas deixo a CAm sobre a mesa, filmando tudo. aLI EU SOU CIDADÃO, MAS NÃO ABRO MÃO DE SER CINEASTA.
Minha visão, como cineasta é que um documentarista deve filmar tudo.
Se meu olho vê, eu posso filmar.
Exibir depois é outra coisa: o fato está documentado, é preciso saber em que circunstãncias E QUANDO o material poderá ser exibido.
mAS FILMAR É FUNDAMENTAL.

segunda-feira, 21 de março de 2011

cinema de rua

Como resultado de meu trabalho na TV Cultura, entre 1972-74, como parte do grupo que criou o telejornalismo diário da TV, o "Hora da Notícia" (com Fernando Jordão, Vladimir Herzog, eu, Fernando Moraes, e muita gente boa)surgiu o movimento "Cinema de Rua". O mote era: pequenos filmes temáticos, focados em problemas sociais como habitação, miséria, transporte urbano, acidentes trabalho, política, etc. O motivo foi a inusitada busca de reportagens feitas por mim: organiz~ções da sociedade, ainda clandestinas (era ditadura...) buscavam cópias para discutir em grupos (sociedades amigos de bairros, clubes de mães, igrejas, sindicatos, grêmios, um monte de entidades que pegavam os filmes e não revelavam nunca "onde" exibiriam). O movimento cineclubista, em 1973 assumiu a distribuição desses filmezinhos e um grupo de jovens cineastas resolveu fazer outros, agora fora da TV. A distribuição era um sucesso impressionante,muita procura. O movimento ganhou o nome de Cinema de Rua, por causa de uma entrevista minha para a Revista da Cinemateca.
Pois bem, agora, para surpresa minha descobri um site chamado CINEMA DE RUA. Eu me comuniquei comn eles: é um grupo de jovens cineastas, inciando suas carreiras. Marquei com eles ( a pedido deles) e eles me disseram que não conheciam o movimento original "Cinema de Rua"... Foi uma ótima conversa, gravada por eles. E eles levaram cópias de filmes do movimento e me deixaram um DVD com filmes deles. Eis o que respondi para eles, por e-mail:

Kiko
Vi ontem o DVD com seus filmes.
São ensaios bonitos, uma busca poética da cidade.
Não gosto de fazer críticas, acho que vocês buscam seus próprios caminhos.
Eu comecei muito diferente, marcado pelas minhas opções políticas desde antes de 64 ( e depois, claro). E isso se reproduziu em toda minha obra, inclusive no movimento Cinema de Rua (1972-1976): um cinema sujo, tipo rascunho, brechtiniano, crítico. A realidade social sempre me incomodou, isso está presente em minha obra.
Eu ainda me sinto incomodado com a vida.
Desejo sucesso a vocês no caminho a que se propuseram.
Pode ser que esse olhar, mais de encantamento do que de crítica, seja o olhar do jovem de hoje, não sei.
Pelo menos é o de vocês.
Quanto ao nome "Cinema de Rua", acho que vocês é que devem decidir se desejam essa referência do passado: não há como fugir, pois o movimento "Cinema de Rua" faz parte da história do cinema brasileiro.
Um abraço
João Batista de Andrade

terça-feira, 15 de março de 2011

cinema brasileiro

15/mar/2011
Mensagem que enviei pela lista de debates do cinema brasileiro, tendo em vista o Encontro de Realizadores ( de cinema) no Rio, dia 19 próximo:
Caro Sevá, caros amigos
Infelizmente não poderei, como gostaria, participar desse encontro no RIo, como sempre participei desde início de carreira, incluindo o que propôs a criação da Ancine. Aliás, fui relator dessa proposta.
Acho que o que temos assistido nos últimos anos é um outro polo de nossos exageros.
E peço licença para, despretenciosamente, fazer pequenas observações fruto de minha experiência como homem de govêrno ( onde eu era, - como deveria ser, primeiro governo, depois cineasta e homem de cultura)
Primeiro exagêro é a idéia de que, como setor da cultura inserido politicamente nas administrações, poderiamos conduzir as coisas ao nosso gosto. Afinal nós é que vivemos o cinema enquanto realidade de produção e mercado.
Segundo exagêro ( e atual) a idéia de que os governos, usando algumas de nossas boas cabêças, podem governar sem a participação do setôr ( ou com mecanismos formais que não alteram, de fato, a política pretendida)
O primeiro exagêro se esgota rápido, nenhum governo "gosta" ( no sentido mais amplo, "não se dá bem", etc.) de ter em seu espaço setores que buscam soluções sem uma concreta mediação governamental. A política para cada setor da vida administrativa deve se casar, e bem, com a política governamental, ser assumida por ela. Posso dizer que isso aconteceu nos primeiros anos da Embrafilme (com certa ambiguidade mas boa para o cinema brasileiro). E também nos primeiros anos da ANCINE.
O segundo exagêro é o distanciamento do setor, com o govêrno decidindo por achar que as idéias de seus quadros são mais elevadas, mais puras e de visão estratégica mais moderna, prescindindo, pois, do próprio setôr. Eis o fermento da discórdia e da inoperância, também do recolhimento crítico e do isolamento. Nesse caso, quanto mais brilhantes e organizados forem esses quadros, mais a questão se agrava. Pois não se governa para o próprio governo. Governa-se para a sociedade, para o presente e o futuro tendo o passado como base e referência. E o desenvolvimento cultural de nossa sociedade como meta.
Creio, baseado nessas observações, que é hora de buscar esse consenso entre governo e cinema brasileiro: um projeto que, refletindo todas as nossas experiências passadas e presentes, busque o novo. E esse "novo" deverá estar marcado pela transparência e pela convicção de que podemos ter um cinema brasileiro moderno, diversificado, pluralista, tanto popular quanto cultural, revelador de grandes talentos, como sempre foi.
Uma só observação final: nenhuma entidade oficial da cultura brasileira deve ter o poder de subjugar a cultura e seus agentes, seus criadores. Por isso seu poder de decisão deve ser limitado ao essencial. É melhor uma relação mais livre da cultura com a sociedade, empresários, TVs, estados, prefeituras, associações, museus, ongs, institutos, do que uma relação subalterna diante de órgãos oficiais. Vivemos numa democracia há mais de 25 anos. E toda democracia deve se aprimorar a cada instante. E nesse processo, uma das questões fundamentais é a questão do poder (agravada entre nós pela hipertrofia do executivo, o que tem impedido que partidos políticos e parlamentares façam a democracia avançar mais rapidamente)
Um abraço
João Batista de Andrade

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Passarinho

Muitas vezes tomamos decisões que parecem intempestivas e até mesmo justificadas por razões menores, momentâneas. Aconteceu isso comigo há quase trinta anos, da mesma forma que hoje, na saída do PPS. Eu vivia ainda sob a noite da ditadura, num crise agura que corroia meus próprios princípios. Sempre fui militante, desde 1963, mas os anos 1966-1969 foram terríveis: avesso a drogas e contra a luta-armada, via meus amigos se afundarem nas duas vertentes de nosso desespêro, com perdas muitas vezes irreparáveis. Eu não cedia, mas fui me afundando numa crise pessoal terrível. Como tinha uma boa ligação com o Grupo Oficina e o Zé Celso, acabei me juntando a eles na época da peça "Gracias Senhor". Admiro profundamente o Zé e o Oficina, mas meu caminho era outro e eu acabei levando para lá apenas o meu desespêro. Eu havia filmado a peça, contando com a câmera maravilhosa do Jorge Bodanzki, que havia fotografado meu longa "Gamal", em 1968. Doei todo o material para o Zé Celso e avisei que estava de saída. Parecia uma coisa triste, mas nada disso: saí do teatro e andava ali pela Bela Vista feito um passarinho, livre dessa ligação que, apenas por erro meu, era na verdade uma prisão que nem ajudava o Oficina nem a mim mesmo.
Aí está. Tenho o Zé Celso como amigo e mais admiração ainda pelo Oficina.
Salve Zé!

domingo, 9 de janeiro de 2011

saida PPS-2

Repercussões boas e ruins de minha saída do PPS. Confesso que ainda sinto falta desse vínculo partidário, mesmo sabendo que ele já não correspondia mais ao que eu esperava. Foi uma decisão pessoal curtida por vários meses e anunciada para o Roberto Freire num encontro municipal em SP. Não há nenhuma sub-intenção, nem tenho quqalquer projeto político decorrente dessa decisão. Simplesmente queria ficar fora daa estrutura partidária. O desafio é continuar com as ligações po´líticas, os amigos, fazer parte de uma corrente, certamente maior do que o PPS, que procura um novo sentido para a esquerda no Brasil e no mundo.
Eis mensagem que enviei ao agora deputado Stepan, ao Ivan e ao amigo Almeida, da Fundação Pedroso Horta:
Caros Stepan, Almeida, Ivan, Claudio

Fiquei feliz com suas palavras de compreensão quando o mais fácil seria o de julgamento.
Disse hoje ao Almeida que tranquilizasse os companheiros: não estou fazendo barganhas, não tenho nenhum pojeto decorrente desse meu pedido de afastamento.
Simplesmente achei que era hora de tomar uma decisão ( eu já havia comunicado isso,m iformalmente ao Roberto Freire num enconto municipal em SP).
O que eu penso está no trexto de meu blog que alguém reproduziu e que vi no final dessas mensagens.
Nada mais.
Se há ai alguma coisa a discutir, sem dúvida é a ligação dos intelectuais com o partido.
Tenho mesmo uma miltância inegável de quase 50 anos e sempre fui fiel ao partido, desde o velho e querido partidão até hoje.
Só agora vi as ilações estranhas de companheiros a respeito de minha conduta. Tomo isso não por maldade mas desinformação. Nunca fui privilegiado com financiamentos, caixas, nada, sempre tive que lutar contra, nadar contra a maré. E não é atôa que meus filmes sempre foram os mais ( bem mais!) baratos da produção autoral de minha geração. E se sou um dos cineastas com mais filmes na carreira é porque nunca cedi à essa dificuldade emuitas e muitas vezes filmei sem dinheiro algum, como recentemente o filme "Vlado 30 anos depois", que sem dúvida alguma marcou os 30 anos da morte de nosso companheiro e meu amigo pessoal Vladimir Herzog: não tive nem um centavo de patrocínio. E tantos outros filmes. "O homem que virou suco " custou 80 mil dólares na ´época, quando meus contemporâneos faziam filmes de 300/500 mil dólares...
Outra coisa: sempre soube, em minha vida, que a dificuldade de apoios estava em minhas idéias,minha teimosia, meu espírito crítico e não numa eventual filiação partidária. Podem me pintar de ouro, eu serei sempre visto como chumbo. E sempre tive que me carregar sozinho, com todo esse peso de minhas opções políticas.
Muito obrigado a todos,especialmente a vocês, Stepan, Almeida, Ivan, pelo tom das mensagens.
Quero manter essa ligação de sempre com o partido, com vocês.
Um grande abraço.
E sucesso, Stepan,no Parlamento!
João Batista de Andrade

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

desligamento do PPS

Tomei hoje uma decisão difícil para mim: me desliguei do PPS. Eu estava filiado a esse partido que surgiu, como sucessor do velho partidão, o PCB, de que fui militante desde estudante ( 1963) e dirigente na clandestinidade, durante a ditadura militar. Ser "partido" faz parte, portanto de minha forma de ser, de minha disciplina militante. Mas isso foi perdendo sentido, com o tempo, com a volta da democracia. Não quero criticar o PPS, tenho lá muitos amigos e admiro muito o Roberto Freire, grande líder nacional, uma referência. Eu o conheci em sua candidatura a presidência, que apoiei, já que ele representava o sonho de minha geração de comunistas: um partido não golpista, fazendo política não na clandestinidade, mas à luz do dia. Foi uma campanha memorável, nós todos sentimos que haveria espaço para uma esquerda reformista e ddemocrática no Brasil. Isso estava ensaiado na tentativa de refazer o partido (ainda PCB) no final dos anos 70, ainda antes da anistia e logo ddepois do assassinato de Vlado (Vladimir Herzog) e de Manoel Fiel Filho, ambos ligados ao partido. Nessa época, sob a liderança de intelectuais como Gildo Marçal Brandão, Davi Capistrano (eu participei, fui dirigente na clandestinidade)tentamos recriar opartido como um partido aberto para a política, um partido não golpista, não autoritário. Esse sonho, que caminhava bem, se desfez justamente com a anistia, a volta dos velhos líderes comunistas. Com excessões valiosas, como Armênio Guedes, Marco Antonio Coelho, esses dirigentes nos trataram como traidores, anti-soviéticos ( pois fazíamos críticas ao "socialismo real" e à chamada "ditadura do proletariaddo"). O PPS sucedeu o partidão, que, a partir daí não tinha mais espaço na socieddade brasileira sob a democracia.
Me desliguei agora, não vejo mais sentido nessa militãncia. Como já disse aqui mesmo nesse blog, é difícil para artistas e intelectuais militarem em partidos políticos na democracia. Nós não somos nada dentro da lógica partidária, nada mesmo.
Quero me manter como amigo, ajudar, apoiar e esperar apoios, mas agora ccomo independdente.
É uma decisão difícil, mexe com praticamente 50 anos de minha vida.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cineasta preso no Irã

Meus amigos, O cineasta Jafar Panahi é o novo perseguido no Irã, tomado pelo fanatismo religioso que nada mais é do que instrumento de um poder ditatorial que pretende se eternizar no poder pisando sobre seu próprio povo.
Reproduzo aqui carta do cineasta e texto de minha mensagem distribuida pela internet.
A carta foi conseguida pelo cineasta Silvio Tendler com tradução feita por Ana Luiza Baesso:
"Julgar-nos é julgar todo o cinema social iraniano"


Ilmo. Sr. Juiz, permita-me apresentar minha defesa em duas partes distintas.

Primeira parte: o que se diz

Nos últimos dias, revi vários de meus filmes preferidos da história do cinema, embora grande parte de minha coleção tenha sido confiscada durante o ataque à minha residência, ocorrido na noite de 19 de fevereiro de 2009. Na verdade, o Sr. Rassoulof e eu estávamos rodando um filme do gênero social e artístico quando as forças que alegavam fazer parte do Ministério da Defesa, sem apresentar nenhum mandado de busca oficial, a um só tempo nos prenderam, bem como a todos os nossos colaboradores, e confiscaram todos os meus filmes, que nunca me foram restituídos posteriormente. A única alusão feita a esses filmes foi a do juiz de instrução do processo: "Por que essa coleção de filmes obscenos?"

Gostaria de esclarecer que aprendi meu ofício de cineasta inspirado por esses mesmos filmes que o juiz chamava de “obscenos”. E, acredite, não sou capaz de entender como um adjetivo como esse possa ser atribuído a tais filmes, assim como sou incapaz de compreender como se pode chamar de “delito de opinião” a atividade pela qual hoje querem me julgar. Julgam-me, na verdade, por um filme que ainda não tinha nem o seu primeiro terço rodado quando fui preso. O senhor certamente conhece a expressão que diz que pronunciar apenas metade da frase "não existe nenhum deus além do grande Deus” é sinônimo de blasfêmia. Então, como se pode julgar um filme antes mesmo que ele esteja pronto?

Não sou capaz de entender nem a obscenidade dos filmes da História do cinema nem a acusação que é proferida contra mim. Julgar-nos é julgar todo o cinema engajado, social e humanitário iraniano; o cinema que pretende se posicionar para além do Bem e do Mal, o cinema que não julga e que não se põe a serviço do poder e do dinheiro, mas que dá o melhor de si para apresentar uma imagem realista da sociedade.

Acusam-me de ter desejado promover o espírito de tumulto e de revolta. No entanto, ao longo de toda a minha carreira de cineasta, sempre me declarei um cineasta social e não político, dotado de preocupações sociais e não políticas. Nunca desejei atuar como um juiz ou um procurador; não sou cineasta para julgar, mas para fazer enxergar; não pretendo decidir pelos outros nem prescrever-lhes o que quer que seja. Permita-me repetir minha intenção de posicionar meu cinema para além do Bem e do Mal. Esse tipo de engajamento sempre custou caro a meus colaboradores e a mim mesmo. Sofremos os prejuízos da censura, mas é a primeira vez que se condena e prende um cineasta para impedi-lo de fazer seu filme. Também pela primeira vez é feita uma perquisição na casa do referido cineasta e sua família é ameaçada enquanto ele passa uma “estadia” na prisão.

Acusam-me de ter participado de manifestações. A presença de câmeras era vetada durante essas reuniões, mas não se pode proibir que cineastas participem delas. Minha responsabilidade enquanto cineasta é observar para, um dia, manifestar o que vi.

Acusam-nos de ter começado as filmagens sem solicitar a autorização do governo. Devo esclarecer que não existe nenhuma lei promulgada pelo Parlamento que se refira a tais autorizações. Na verdade, existem apenas circulares interministeriais, que mudam à medida que mudam os vice-ministros.

Acusam-nos de ter começado as filmagens sem apresentar o roteiro aos atores do filme. Nosso modo de fazer cinema, que recruta principalmente atores não profissionais, adota essa prática costumeiramente. Tal acusação me parece muito mais um produto do humor deslocado do que do setor jurídico.

Acusam-me de ter assinado petições. De fato, assinei uma petição na qual 37 dos nossos mais importantes cineastas declaravam sua inquietação quanto à situação do país. Infelizmente, em vez de ouvir esses artistas, acusam-nos de traição; e, no entanto, os signatários dessa petição são justamente as pessoas que sempre reagiram primeiro às injustiças do mundo todo. Como desejam que eles permaneçam indiferentes ao que acontece dentro de seu próprio país?

Acusam-me de ter fomentado manifestações no festival de Montreal; essa acusação não se baseia em lógica alguma, já que, enquanto diretor do júri, eu estava em Montreal havia apenas duas horas quando as manifestações começaram. Sem conhecer ninguém na cidade, como eu poderia ter organizado tais eventos? Talvez não se faça um esforço para lembrar mas, durante esse período, nossos compatriotas se reuniam a fim de manifestar suas exigências.

Acusam-me de ter participado de entrevistas com as mídias de língua persa de fora do meu país. Mas não existe nenhuma lei proibindo tal ato.

Segunda parte : o que eu digo

O artista representa o espírito observador e analista da sociedade à qual ele pertence. Ele observa, analisa e procura apresentar o resultado disso em forma de obra de arte. Como se pode acusar e incriminar quem quer que seja em função de seu espírito e de sua maneira de enxergar as coisas? Tornar os artistas improdutivos e estéreis é sinônimo de destruir todas as formas de pensamento e de criatividade. O ataque efetuado à minha residência e a minha prisão e a de meus colaboradores representam o ataque do poder contra todos os artistas do país.

A mensagem transmitida por essa série de ações me parece bem clara e triste: quem não pensa como nós se arrependerá…

Finalmente, gostaria também de lembrar ao Tribunal outra ironia que diz respeito a mim: o espaço dedicado a meus prêmios internacionais no museu de cinema de Teerã é maior que minha cela penitenciária.

Seja lá como for, eu, Jafar Panahi , declaro solenemente que, apesar dos maus-tratos que ultimamente tenho sofrido de meu próprio país, sou iraniano e quero viver e trabalhar no Irã. Amo meu país e já paguei o preço por esse amor. No entanto, tenho outra declaração a acrescentar à primeira: sendo meus filmes provas irrefutáveis disso, eu declaro acreditar profundamente na observância das leis “dos outros”, da diferença, do respeito mútuo e da tolerância - a tolerância que me impede de julgar e de odiar. Não sou tomado de ódio nem mesmo pelos meus interrogadores, porque reconheço minha responsabilidade para com as gerações futuras.

A História com “H” maiúsculo é muito paciente; as pequenas histórias passam diante dela sem se dar conta de sua insignificância. De minha parte, preocupo-me com essas gerações futuras. Nosso país está muito vulnerável e somente a instauração do Estado de direito para todos, sem nenhuma consideração étnica, religiosa ou política, pode nos preservar do perigo bem real de um futuro próximo caótico e fatal. Em minha opinião, a tolerância é a única solução realista e honorável a esse perigo iminente.

Com meus sinceros respeitos, Ilmo. Sr. Juiz
Jafar Panahi, Cineasta Iraniano