terça-feira, 27 de agosto de 2013

RUTH ESCOBAR VIVE!

FB 27Ago2013

Lamento muito ter acreditado em FALSA NOTÍCIA sobre Ruth Escobar. Esclareço: li a noticia enviei mensagens pedindo confirmação. Abri o Google e lá estavam alguns posts confirmando. Que absurdo! - desrespeito à Ruth e à família.
Mas aproveito para saudar a Ruth:
Ruth Escobar sempre foi uma pessoa essencial para o teatro brasileiro e também para o desenvolvimento de uma política cultural. Quando eleita deputada, preparou um inesquecível seminário sobre as políticas culturais pelo mundo. Um seminário que abriu nossos olhos ara as possibilidades modernas de participação do Estado na produção cultural. Pessoalmente tive contato com ela ainda em 1963 quando me iniciava no cinema, com Francisco Ramalho e nosso grupo KUATRO, na escola Politécnica. Filmamos seu TPN, Teatro Popular Nacional, um caminhão bau aberto de lado onde apresentava a peça "O auto do novilho roubado, de Ariano Suassuna ( com o engraçado Ary Toledo, que ficava fazendo caretas para nós, chamando a atenção da filmagem para ele...). O filme era produzido pela Ruth. Na campanha de Franco Montoro Governador, em 82, estivemos juntos e chegamos, os dois e mais o Fernando Morais, a sermos indicados pelas entidades de artistas para a Secretaria de Cultura do Estado de SP, coisa que não deu certo. Curiosidade é a participação dela em meu filme "O homem que virou suco", como uma madame que abriga mendigos. Importante foi reunião feita em sua casa entre intelectuais e TANCREDO NEVES, em plena campanha para presidente em 1984, na abertura política, o fim da ditadura militar. Eu mesmo é que falei em nome de todos. Um encontro importante e inesquecível. Devo agradecer a ela o apoio, quando fui nomeado Secretário da Cultura do Estado de SP em 2005. Por causa do plano Collor eu havia me afastado de SP por 12 nos e o apoio dela, com um coquetel em sua casa foi importante para recompor minha base de apoio na área cultural.

Minhas desculpas a todos, particularmente à Ruth e familiares.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Fora do eixo: debate bom

FB 19Ago2013

Aurelio Michiles João Batista de Andrade Tirando tudo e os noves fora, o "CINEMA INDEPENDENTE", também recebe $$$ do governo, do estado ou subsidiado ou como queiram denomina-lo, e mesmo assim não conheço nenhum filme que tenha o lacre oficialesco partidário ou governamental. Temos que tomar cuidado com essa questão...fico com impressão que acharam um "bode espiatório" para desqualificar, criaram "seres teratológicos"... iguais aqueles que "comunistas comem crianças"e "recebem o ouro de moscou".

João Batista de Andrade Michiles, os diretores não formam nenhuma comunidade. E nem aceitam trabalhar por qualquer comunidade ou por qualquer espírito comunitário. Recebem como qualquer artista. Depender do estado é sempre ruim. Mas vou dizer uma coisa: muitos dos meus filmes foram feitos sem dinheiro do estado e eu nunca fiquei aqui pregando isso como modelo. Eu também não gosto dessa onda raivosa e em meu texto deixei minha visão do por quê disso, tanto pelo clima de guerra midiática em que vivemos ( de todos os lados, sem inocentes) e pela super-exposição do FDE ( que, ligado ao governo, acabou se oferecendo como prato)

 E o cinema independente foi se estruturando como uma longa luta dos cineastas entre nós e com a sociedade, justificando uma intervenção estatal capaz de ajudar a viabilizá-lo. O problema é a democracia precária que temos. Todos os grupos poderiam receber esses investimentos, dentro de uma política clara e democrática, coisa que não acontece com ninguém. Se quer saber, lamento que o próprio cinema independente tenha se distanciado do cinema comercial que existia antes e, assim, tenha se desenvolvido nessa dependência terrível. Como eu disse, o Estado é a pior escolha!

Aurelio Michiles João Batista de Andrade Como sempre tens a voz da ponderação, mas quando dei como exemplo o "cinema independente" foi para mostrar que todos nós dependemos de "alguem" (estado, banco, empresa privada ou...). E estou incomodado com esta onda aonde muitos encontram-se surfando sem mesmo ter aprofundado nos fatos, e mesmo assim inflam e repercutem preconceitos contra este ou aquele, assim como no cinema já aconteceu em se transformar (injustamente) um (a) cineasta como "ser teratológico", e a revista "veja" tem sido a ponta de lança destas abjetas distorcidas informações.

João Batista de Andrade Um parceiro tipo polvo, que nos abraça, nos envolve, é também injusto e revoltante e também presa de interesses que tanto podem ser bons quanto péssimos. Um estado indefinido quanto à cultura num país também indefinido, pois já não somos o país das cachoeiras, nem do samba, nem da carne (em todos os sentidos) e nem nos firmamos como um país da vanguarda artística nem dos bons exemplos republicanos\democráticos. Tudo por fazer!- e os jovens nas ruas tem sido, apesar de tudo, um alento nesse sentido

domingo, 18 de agosto de 2013

Fora do eixo: fora da sociedade e dentro do governo

FB 18Ago2013

Fora do Eixo, enquanto grupo de jovens com suas idealizações, criando seus falanstérios, tudo bem. Eu os conheço e, apesar de uma visão crítica, mantenho uma relação aberta com eles. O que aconteceu é que a participação no Roda Viva os expôs demasiado, somando-se à exposição de seu líder ao lado de governantes e políticos da mesma área do governo. Querendo ou não o FDE virou projeto político carimbado, sujeito às intempéries da política brasileira. E sujeito a adesões e recusas, opções que há algum tempo parecem impossíveis de exercer com tranquilidade, tal a radicalização das posições na sociedade. Tudo piora quando exibem a visão anti-profissionais, colocando os artistas como burgueses que só pensam nos cachês e não na arte. Aliás, qual a cultura, a arte, criadas no movimento? Pois parece que a "cultura" criada é apenas a forma de organização comunitária, o que nem todo mundo deseja ( já que, não se tratando de uma revolução, aderir a uma comunidade é, em grande parte, se isolar do mundo real das atividades humanas). As ações do grupo também entram em choque quando pautadas na política cultural e nos incentivos fiscais, onde transitam com aparente facilidade e com uma aritmética estranha, de multiplicação dos meios e criação de moeda própria. Num momento de tamanha politização e radicalizações, uma proposta como essa, que poderia ser apenas um nicho, passa a ser identificada como a proposta oficial. Eu mesmo pergunto se não houve esse desejo, mesmo que ingênuo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"Hora da Notícia", "Migrantes", "Restos, "Vlado"

Quem quiser ver meu filme "Migrantes" (Melhor Filme Jornada de Documentários, Bahia 1973) e originalmente feito para nosso programa "HORA DA NOTÍCIA" (tv Cultura, entre 1972-1975) que tinha Fernando Pacheco Jordão como direto, Vladimir Herzog como editor e eu como "repórter especial"
Achei essa postagem de boa pirataria no Youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=cRu06H45eE4


O "Hora da Notícia" contava com talentos imprescindíveis como o Fernando Morais, o Marquito, o Anthony Christo, o Georges Bourdokan, o Gabriel Romeiro, éramos um grupo e tanto... expulsos da TV em 1974 por um interventor nomeado pela direção da TV Cultura. Ainda era Médici o ditador.

Os apresentadores eram os maravilhosos Nemércio Nogueira e Fábio Peres. Depois da intervenção eu e o Fernando Jordão fomos convidados pela Globo. Ele para o JN e eu para criar o setor de Especiais em SP (principalmente Globo Repórter, mas muitos outros programas). Vlado foi convidado, em 1975 para refazer o programa e aí entram novos, como o Markum. Isso bastou para que começasse a perseguição ao Vlado, até o seu assassinato no DOI-CODI em out\1975

meu FILME "RESTOS", branco e preto, mudo, 10 minutos, proibido em 1975.
Quem quiser ver, apesar da degradação da imagem. Foi o último filme que mostrei e discuti com meu amigo Vlado (Vladmir Herzog) em 1975, uns dois meses antes de seu assassinato no DOI-CODI. Discuti com ele algumas cenas, não cedi, mas guardo esse momento com muita emoção. O filme foi apreendido e proibido pela censura da ditadura militar ainda em 1975.

Revista Brasileiros

Artista político essencial

João Batista de Andrade, cineasta que também é o atual diretor do Memorial da América Latina, quer tornar o espaço ainda mais democrático. A seguir, ele fala sobre mais esse desafio



César Alves

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Integração - O novo diretor do Memorial e a escultura de Oscar Niemeyer que simboliza a união dos povos latino-americanos
A trajetória do cineasta e escritor João Batista de Andrade é do tipo que pode despertar no entrevistador uma espécie de “medo do repórter diante da fonte”. Um tipo de receio de que sua pesquisa possa ter deixado algo passar, devido ao tamanho e variedade de suas colaborações para a cultura e política brasileiras desde os anos 1960 – ou ainda de encontrar o entrevistado em um momento de indisposição, compreensível depois de décadas concedendo entrevistas. Tal impressão, no entanto, desaparece assim que se chega a sua sala no segundo andar do prédio administrativo da Fundação Memorial da América Latina, instituição dirigida por ele desde setembro do ano passado. É de forma calorosa que ele recebe a reportagem da Brasileiros para falar sobre os projetos e a nova cara que pretende dar ao Memorial. “O cinema e a política são parte de minha vida desde que vim para São Paulo. Foram anos de luta e a direção da Fundação é mais uma volta na minha carreira, que pretendo abraçar com a mesma disposição.”
Polo irradiador da produção artística e cultural da América Latina, o Memorial nasceu de um projeto cultural desenvolvido pelo sociólogo Darcy Ribeiro, com a missão de promover a integração entre os povos do continente. Inaugurado em 18 de março de 1989 com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, tornou-se um dos principais cartões-postais de São Paulo, com destaque para a escultura Mão, instalada na Praça Cívica, também conhecida como Praça do Sol, onde também estão localizados o Salão dos Atos, a Galeria Marta Traba e a Biblioteca Latino-americana Victor Civita. Fundação de direito público, sem fins lucrativos, mantida pelo Governo do Estado, o Memorial é referência na realização de eventos, reunindo grandes nomes do cenário artístico, político, cultural e literário do País e de seus vizinhos.
Apesar da boa fama que o Memorial já carrega, João Batista pretende popularizar ainda mais o espaço. “A Fundação vem cumprindo bem sua missão, mantendo o ideal proposto por Darcy Ribeiro. Por outro lado, o espaço parece ter ganhado uma carga de elitização. A minha gestão busca acabar com essas barreiras e trazer o cidadão comum para cá. O Memorial é voltado para a confraternização entre as Américas, está localizado na cidade de São Paulo e pertence a seus cidadãos, mas muitos nem sabem da disponibilidade dessa estrutura. Nossa intenção é devolver o Memorial para o povo de São Paulo.”
Novo Memorial
Sob essa perspectiva democrática, foi lançado em março o Novo Memorial – a cerimônia ocorreu em meio às comemorações dos 24 anos da instituição, com uma programação nitidamente popular, composta por shows e espetáculos gratuitos, previstos para acontecer até este mês de abril. A abertura foi marcada pela apresentação de Alceu Valença, que confirmou a receptividade do evento junto à população – cerca de três mil pessoas estiveram na Praça Cívica só no primeiro fim de semana. O VI Festival Ibero-Americano também integrou o evento e homenageou o ator Lima Duarte, que deu prosseguimento às comemorações com o monólogo A Língua de Deus.
Além da grade de atraentes programações culturais, o projeto de João Batista inclui mudanças estruturais na casa, como a instalação de um parque infantil, aparelhos de ginástica, feira de artesanato e, mais para frente, a construção de uma ciclovia.
Entre abril e maio, as atividades culturais continuam com apresentações da Banda Sinfônica do Estado, Encontro de Corais e Sarau no Memorial, com poetas populares da cena hip hop. A série de simpósios e debates também permanece, assim como os cursos de pintura e fotografia. O Memorial participa ainda do projeto Brasil Estampa 2013, promovendo a intervenção gráfica coletiva O Humano no Urbano, que propõe a criação de um grande painel.
O Memorial também passou a abrigar o ECOCINE – Festival de Cinema Ambiental e Direitos Humanos, que, neste ano, chega à 20a edição. No final deste mês de abril, está prevista a abertura da mostra coletiva Primeiro de Maio, composta de fotografias, desenhos, pinturas e intervenções em torno do Dia do Trabalho e do Trabalhador. “Os eventos tradicionais, como o Festival de Cinema Latino-americano, idealizado por mim que, neste ano, chega à 8a edição, aliados a uma maior participação popular e uma série de atividades pretendem intensificar nossas relações com a América Latina”, afirma João Batista.
Mineiro de Ituiutaba, ele veio a São Paulo em 1959 para estudar Engenharia. “São Paulo foi um divisor de águas, no sentido que, na época, eu já tinha consciência e o ímpeto de meu papel político e artístico. Mas aqui me dei conta de que, apesar de já ter formação, me faltava informação. Assim, em um curto período de tempo, passei a pesquisar e a ler tudo que chegava às minhas mãos, fosse literatura, história, cinema, filosofia, política e cultura geral.”
Militante do PCB e parte de um grupo chamado Escola Psicorrealista, João Batista descobriu o cinema em 1963, quando ainda era estudante de Engenharia na Escola Politécnica da USP – ele abandonou o curso no ano seguinte. Se a situação política atrapalhou – em 1964, ocorreu o golpe militar –, os planos do estudante deram carga extra ao cineasta. “Sempre tive ciência da importância do audiovisual como instrumento político e é isso que pauta a minha obra, seja na ficção, seja nos documentários.”
E foi justamente com o documentário Liberdade de Imprensa (1967) que João Batista inaugurou uma de suas marcas: o “Cinema de Intervenção”. A obra reflete o conturbado momento do Brasil nos anos 1960, foi apreendida pelo Exército, mas iniciou uma série de outros filmes que deu voz ao povo para discutir os problemas do País – a maioria exibida no programa A Hora da Notícia, dirigido por Vladimir Herzog na TV Cultura. “Herzog e eu tínhamos consciência de que não queríamos aderir à luta armada. Esses filmes e reportagens de A Hora da Notícia refletem nossa luta por vias democráticas. O que eu tinha em mente era que, se o Estado naquela época tirava da população o direito de discutir a realidade, essas reportagens funcionavam como uma forma de dar voz ao povo”, afirma o diretor.
A partir daí, João Batista dirigiu importantes títulos da cinematografia brasileira, como Doramundo (1978), O Homem que Virou Suco (1980), A Próxima Vítima (1983), O País dos Tenentes (1987), Vlado, Trinta Anos Depois(2005), entre outros.
Sua participação política inclui a coordenação da Comissão de Cultura da campanha de Franco Montoro, em 1982, e o cargo de secretário de Cultura do Estado de São Paulo, entre 2005 e 2007. Sobre o engajamento político de artistas, João Batista apenas diz: “Quanto aos outros, não sei. Para mim, é essencial”.

domingo, 11 de agosto de 2013

Texto emocionante sobre meu filme WILSINHO GALILÉIA

Estadão on line  24Junho2002

A surpressa da crítica quando foi exibido, pela primeira vez, meu filme WILSINHO GALILÉIA, em minha Mostra no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil em SP) emm 2002. O filme ia ser exibido em duas partes, dois programas de O GLOBO REPÓRTER mas foi proibido pelos militares: o censor que ficava na Globo proibiu, a Globo mandou para o Dep. Censurta do Rio, que proibiu tembém. Dalí para a Censura federal, em Brasília, que confirmou a proibição. A GLOBO ENVIOU PARA O GOVERNO, PALÁCIO DO PLANALTO ( o "Presidente" era o General Costa e Silva) que confirmou a proibição pelo Porta Voz (Militar): "Esse filme não vai passar nas casas de família do Brasil". Só 24 anos depois, em 2002, o filme foi visto no Brasil. E depois foi convidado "hors concours" para inúmeros festivais internacionais, sempre como homenagem.


Segunda-feira, 24 de Junho de 2002, 16:39 | Online

"Wilsinho Galiléia" é destaque de mostra no CCBB

O impactante documentário de João Batista de Andrade, censurado na década de 70, reconstitui a tragédia de um jovem marginal da favela Galiléia
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Wilsinho Galiléia passa a dividir
com Cabra Marcado para Morrer (apesar do atraso de duas
décadas), o posto de melhor longa documental brasileiro. O filme
de Eduardo Coutinho correu mundo, emocionou grandes platéias,
recebeu diversos e importantes prêmios em festivais nacionais e
internacionais. Já o longa-metragem de João Batista de Andrade,
melhor título da retrospectiva que o CCBB dedica ao realizador
mineiro-paulista, teve de esperar 24 anos para ganhar o merecido
reconhecimento.

A tragédia de Wilsinho Galiléia foi reconstituída em
1978 para o Globo Repórter, notável e histórico programa da
Rede Globo. E que - registre-se - pouco tem a ver com as
edições atuais, dedicadas obsessivamente a temas do mundo animal
e vegetal e à obesidade humana. Interditado pela censura do
governo Geisel, o filme caiu no limbo. Batista, claro, não se
cansava de lembrar em contatos com jornalistas e estudantes, que
realizara documentário de fôlego sobre um jovem marginal
paulista. Só que ninguém conhecia o filme. Nem o programava.

Em 2000, Amir Labaki, curador do festival É Tudo
Verdade, promoveu enquete com 40 críticos, pesquisadores e
realizadores de cinema em busca dos "dez melhores documentários
brasileiros de todos os tempos". Os primeiros classificados
foram Cabra Marcado Para Morrer, Di Glauber e Ilha
das Flores. Nenhuma menção foi feita a Wilsinho Galiléia.
Ficava, assim, comprovado que nem a linha de frente da pesquisa
e difusão do documentário brasileiro conhecia o filme de
Batista.

Pois em abril, o festival É Tudo Verdade fez
justiça. Programou Wilsinho Galiléia na excelente retrospectiva
Cinema na TV - Globo Shell Especial e Globo Repórter.
Quando a sessão terminou, o público estava surpreso. Vinte e
quatro anos depois, o longa de Batista, um documentário que
reconstitui a tragédia do marginal Wilson Paulino da Silva,
gritava sua incômoda atualidade.

Impacto - Em 1977 - portanto um ano antes de Wilsinho
Galiléia - Batista realizara, para o mesmo Globo Repórter,
O Caso Norte, documentário que investigava e reconstituía
crime cometido pelo vigia José Joaquim Santana. Nordestino
humilde, Santana chegara a São Paulo e se empregara, sem nenhum
treinamento específico, na função de guardador do patrimônio
alheio. Acabou matando José Antônio Moura. Ao longo de 38
minutos, o cineasta mergulhou nas causas sociais da
criminalidade. O resultado causou impacto e foi exibido pela
Rede Globo.

Já os 62 minutos de Wilsinho Galiléia foram interditados
pela censura. A história do garoto magricela, que cresceu na
favela Galiléia, na periferia da maior metrópole brasileira,
resultou em relato tão revelador das entranhas da estrutura
social brasileira, que o jeito foi interditá-lo por inteiro. Não
se exigia um corte aqui, outro ali. Era a obra, em sua
integridade, que incomodava. E incomoda até hoje.

Wilson Paulino da Silva tinha 15 anos quando começou a
participar dos primeiros assaltos à mão armada. Morreu aos 18,
com currículo criminal recheado de acusações: 20 assassinatos e
perto de 500 assaltos. O filme promove seca anatomia da exclusão
social à brasileira. A mãe de Wilsinho vê todos os filhos
abraçados pelo crime. Os depoimentos dela são de arrepiar.

O caso de Ramiro, irmão caçula de Wilsinho (aos 13 anos,
já é visto pela imprensa sensacionalista como o herdeiro do mano
assassinado) deixa o espectador sem lugar na cadeira. As
reconstituições com atores são exatas.

O filme Wilsinho Galiléia (as imagens foram captadas em
16 mm) nunca apela para o sentimentalismo barato. Nos leva,
sempre, à reflexão. Ver o filme e ler o artigo Elias,
Maluco?, do historiador José Murilo de Carvalho (publicado no
jornal O Globo do dia 18) é preparar-se para melhor
compreender este Brasil dilacerado pela violência urbana. Um
Brasil que vê grande parte de seus filhos abraçar o crime, por
falta de melhor opção. 

CRISE DEVORADORA

FB 29Julho2013

A sociedade, quando sem rumo, é voraz e nada ética quando cria mitos para depois os destruir. Além disso, mitos vivos ocupam demasiadamente os espaços e limita a visão daqueles que os mitificam. Como a sociedade é um organismo vivo, em algum momento precisará se livrar desse mitos e de suas limitações. E o faz sem se perguntar se é justa ou não. Faz por que precisa fazer. Precisa abrir espaços para os descontentes. Os adeptos sofrerão ou lutarão, muitas vezes com ódio aos que os questionam. De que lado ficar?- não é pergunta de fácil resposta. A defesa é importante, para que a substituição incorpore o substituído. O novo deve nascer como um avanço e não como uma vingança.

Minha CAM BH e Vlado Herzog

FB 10Ago2013


Vocês conhecem essa Câmera? - é uma câmera de guerra, um bloco pesado. Eu filmei com ela usando a lente 10mm e filmando sempre com a CAM muito próxima do objeto ou da pessoa, sempre há foco. O filme "Restos" ( que foi proibido) é de 1975 eVlado (Vladimir Herzog) viu a primeira edição e palpitou bem, aproveitei. Curioso é que, 30 anos depois filmei sobre ele o "Vlado, trinta anos depois" usando uma mini-dv e filmando da mesma forma, com a câmera na mão e muito próximo das coisas e das pessoas...

Democracia Direta?


FB 11Ago2013

DEMOCRACIA DIRETA?
Estou gostando.
Pois o fato é que as representações políticas como estão hoje já não satisfazem. Os representantes acabam representando a si mesmos e às suas agremiações (interesses e ideologias).
Já disse que temia a ideia original, esse tipo de governo sem intermediários em sua relação com a sociedade: a manipulação é grande e as decisões abertas, tipo assembleias, constrangem as oposições.
Mas vejo agora essa possibilidade, mantendo a sociedade mobilizada e alimentando uma discussão permanente sobre as idéias e comportamentos das manifestações como portadores das mudanças desejadas pela sociedade.
Isso cria uma transição, mantendo os partidos, os parlamentos mas submetendo-os a esse crivo de participação popular independente.
No Rio, por exemplo, apenas 12 manifestantes ficaram na Câmara e os vereadores discutem com eles as propostas do movimento. Por que?- porque estão amparados pelos milhões de manifestantes ( e os políticos já perceberam que reprimir é pior para eles).

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

IMPRENSA

DESCONFIAR DA IMPRENSA, MESMO QUE ESTEJAM AGREDINDO NOSSOS ADVERSÁRIOS. SOU MINEIRO, DESCONFIO QUANDO ME ELOGIAM!
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Para Inês

Facebook 02Ago13
A uma pessoa que admiro muito: Laranjas, ah, são muitos mesmo, Inês. Bananas somos todos nós diante dessa confusão que ajudamos a crescer com nosso viés partidarista: tudo do outro é ruim, tudo do meu é bom. Se falam mal de qualquer coisa do meu, corremos a falar mal de alguma coisa do outro. veja se em meus textos eu faço isso!
Veja, em meus textos se algum dia defendi a condenação de Dirceu, Genuino, mesmo que eu seja crítico à atuação deles e de outros políticos. Há uma justiça no país e sei que ela erra muito, mas, como todos nós, tem tentado acertar. Eu analiso sim, a política, os desafios e as incompreensões, as imensas dificuldades que devemos superar. E a fragilidade dos partidos. Não gosto é da postura de partidos que se julgam totalizantes, que só eles são a verdade e a salvação e que quem está contra ou crítico a eles são reacionários ou vendidos á direita. Isso é o lamentável "ame-o ou deixe-o" da ditadura militar. E nem gosto da paranóia dirigida pelo viés partidário, do tipo: não se queixem pois assim estarão entregando o país para a direita, - stalinismo puro!
Estou com aqueles que querem a superação de nossas deficiências. E estamos vendo, as convicções de todos, partidos e políticos, instituições, são tão frágeis, apesar da arrogância, que bastou meia duzia de moleques questionando nas ruas para tudo desmoronar!!!!!


Denúncias: Eu evito sistematicamente ficar aqui reproduzindo denúncias que parecem brotar feito pragas à primeira chuva. Pois aqui todos dizem desconfiar da imprensa, MAS NÃO QUANDO ELA ATACA SEUS INIMIGOS. Eu não fico demonizando a Imprensa, mas desconfio dela, mesmo sabendo que ela é necessária.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Hanna Arendt e Wilsinho Galileia

Facebook 01/Ago/13
]
Hanna Arendt. Fui ver o filme ontem. Não gostei muito do filme. É bom, mas falta ânimo. Mas é importante. Sua tese de banalidade do mal é moderna e ainda mal digerida. O nazista Eichmann, segundo ela, era julgado como pessoa humana e a dimensão de seus crimes contrastava com a mediocridade do acusado. Eichmann não era o mal como sempre foi pintado, demoníaco. Não, era fruto da ação de um indivíduo que recusava sua própria humanidade, colocando-se a serviço de um sistema opressor que negava a humanidade aos seus oprimidos. Trago a idéia para hoje, o julgamento do massacre de Carandiru. Ali o sistema não é julgado e as dezenas de funcionários dessa burocracia repressora são condenados a dezenas de anos de prisão. O sistema sai livre. Lembrou-me também meu próprio filme "Wilsinho Galiléia" (1978, Globo, -proibido pelos militares), onde eu quis expor o sistema e não o indivíduo. Esclareço que não eximi o Wilsinho de suas culpas, tanto que o filme se inicia com um plano do ator (Eudes) que representava o Wilsinho ( morto alguns dias antes da filmagem). Ali Wilsinho exibe um leve sorriso de ironia e desdem, ouvindo a fala de um delegado (em off) contando breves histórias da violência inaudita (e real) do bandido em assaltos e assassinatos cruéis. Mas o filme depois se pergunta: o que levou um menino de 9 anos, preso por roubar uma fruta na feira, a esse terrível bandido? - Na verdade eu quis buscar a origem do mal. Miséria, falta de perspectiva e inúmeras passagens pelos terríveis centros de menores, onde, além da opressão, os instrutores não sabiam o que fazer com o menino preso. Não é por acaso que os militares (Palácio do Planalto mesmo) proibiram o filme que, longa, seria exibido em dois programas do Globo Repórter em 1978.
(desenho feito em 1978 pelo amigo Reginaldo Paiva, depois da proibição do filme)