domingo, 11 de agosto de 2013

Texto emocionante sobre meu filme WILSINHO GALILÉIA

Estadão on line  24Junho2002

A surpressa da crítica quando foi exibido, pela primeira vez, meu filme WILSINHO GALILÉIA, em minha Mostra no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil em SP) emm 2002. O filme ia ser exibido em duas partes, dois programas de O GLOBO REPÓRTER mas foi proibido pelos militares: o censor que ficava na Globo proibiu, a Globo mandou para o Dep. Censurta do Rio, que proibiu tembém. Dalí para a Censura federal, em Brasília, que confirmou a proibição. A GLOBO ENVIOU PARA O GOVERNO, PALÁCIO DO PLANALTO ( o "Presidente" era o General Costa e Silva) que confirmou a proibição pelo Porta Voz (Militar): "Esse filme não vai passar nas casas de família do Brasil". Só 24 anos depois, em 2002, o filme foi visto no Brasil. E depois foi convidado "hors concours" para inúmeros festivais internacionais, sempre como homenagem.


Segunda-feira, 24 de Junho de 2002, 16:39 | Online

"Wilsinho Galiléia" é destaque de mostra no CCBB

O impactante documentário de João Batista de Andrade, censurado na década de 70, reconstitui a tragédia de um jovem marginal da favela Galiléia
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Wilsinho Galiléia passa a dividir
com Cabra Marcado para Morrer (apesar do atraso de duas
décadas), o posto de melhor longa documental brasileiro. O filme
de Eduardo Coutinho correu mundo, emocionou grandes platéias,
recebeu diversos e importantes prêmios em festivais nacionais e
internacionais. Já o longa-metragem de João Batista de Andrade,
melhor título da retrospectiva que o CCBB dedica ao realizador
mineiro-paulista, teve de esperar 24 anos para ganhar o merecido
reconhecimento.

A tragédia de Wilsinho Galiléia foi reconstituída em
1978 para o Globo Repórter, notável e histórico programa da
Rede Globo. E que - registre-se - pouco tem a ver com as
edições atuais, dedicadas obsessivamente a temas do mundo animal
e vegetal e à obesidade humana. Interditado pela censura do
governo Geisel, o filme caiu no limbo. Batista, claro, não se
cansava de lembrar em contatos com jornalistas e estudantes, que
realizara documentário de fôlego sobre um jovem marginal
paulista. Só que ninguém conhecia o filme. Nem o programava.

Em 2000, Amir Labaki, curador do festival É Tudo
Verdade, promoveu enquete com 40 críticos, pesquisadores e
realizadores de cinema em busca dos "dez melhores documentários
brasileiros de todos os tempos". Os primeiros classificados
foram Cabra Marcado Para Morrer, Di Glauber e Ilha
das Flores. Nenhuma menção foi feita a Wilsinho Galiléia.
Ficava, assim, comprovado que nem a linha de frente da pesquisa
e difusão do documentário brasileiro conhecia o filme de
Batista.

Pois em abril, o festival É Tudo Verdade fez
justiça. Programou Wilsinho Galiléia na excelente retrospectiva
Cinema na TV - Globo Shell Especial e Globo Repórter.
Quando a sessão terminou, o público estava surpreso. Vinte e
quatro anos depois, o longa de Batista, um documentário que
reconstitui a tragédia do marginal Wilson Paulino da Silva,
gritava sua incômoda atualidade.

Impacto - Em 1977 - portanto um ano antes de Wilsinho
Galiléia - Batista realizara, para o mesmo Globo Repórter,
O Caso Norte, documentário que investigava e reconstituía
crime cometido pelo vigia José Joaquim Santana. Nordestino
humilde, Santana chegara a São Paulo e se empregara, sem nenhum
treinamento específico, na função de guardador do patrimônio
alheio. Acabou matando José Antônio Moura. Ao longo de 38
minutos, o cineasta mergulhou nas causas sociais da
criminalidade. O resultado causou impacto e foi exibido pela
Rede Globo.

Já os 62 minutos de Wilsinho Galiléia foram interditados
pela censura. A história do garoto magricela, que cresceu na
favela Galiléia, na periferia da maior metrópole brasileira,
resultou em relato tão revelador das entranhas da estrutura
social brasileira, que o jeito foi interditá-lo por inteiro. Não
se exigia um corte aqui, outro ali. Era a obra, em sua
integridade, que incomodava. E incomoda até hoje.

Wilson Paulino da Silva tinha 15 anos quando começou a
participar dos primeiros assaltos à mão armada. Morreu aos 18,
com currículo criminal recheado de acusações: 20 assassinatos e
perto de 500 assaltos. O filme promove seca anatomia da exclusão
social à brasileira. A mãe de Wilsinho vê todos os filhos
abraçados pelo crime. Os depoimentos dela são de arrepiar.

O caso de Ramiro, irmão caçula de Wilsinho (aos 13 anos,
já é visto pela imprensa sensacionalista como o herdeiro do mano
assassinado) deixa o espectador sem lugar na cadeira. As
reconstituições com atores são exatas.

O filme Wilsinho Galiléia (as imagens foram captadas em
16 mm) nunca apela para o sentimentalismo barato. Nos leva,
sempre, à reflexão. Ver o filme e ler o artigo Elias,
Maluco?, do historiador José Murilo de Carvalho (publicado no
jornal O Globo do dia 18) é preparar-se para melhor
compreender este Brasil dilacerado pela violência urbana. Um
Brasil que vê grande parte de seus filhos abraçar o crime, por
falta de melhor opção. 

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