quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

intelectuais e partidos

É muito difícil a convivência de intelectuais e artistas nos partidos políticos. Tenho, ia dizer suportado achei exagerado, -tenho vivido esse dilema há algum tempo. Políticos profissionais agem de forma corporativa, com filas de adesões, cada líder com sua turma e sua fidelidade ao chefe. Se o chefe sobe, sobem alguns da fila. Se o chefe cai, caem alguns, o chefe sempre ajeita vagas com outros chefes mais ou menos amigos. Intelectuais e artistas servem, assim, de buchas de canhão. Enaltecidos nos discursos, nas publicações, usados nas eleições. O problema para mim é a crença de que sozinho menos ainda posso fazer. Mas o fazer que ando fazendo tem se tornado uma carga pesada, com desgastes perigosos para minha carreira e minha própria independência intelectual e artística. Por exemplo, pus minha cara para bater em carta ao meio cultural contra a adesão à candidata Dilma, - e afirmei que assinaria um documento pró-Serra. Muitos e muitos amigos se manifestaram, respeitaram minha posição e decisão mas, em contatos pessoais alertavam para a excessiva coragem que poderia me prejudicar e muito na carreira. Afinal, sou cineasta, essa é a paixão primeira. Pois bem, nenhuma palavra de agradecimento de quem quer que seja, nenhum comentário positivo, nem um toque do próprio José Serra ( o que, aliás, é seu "jeito de ser", me dizem outros amigos). Isso me coloca então uma questão a ser resolvida. Tenho feito o que posso pelo partido que apoio, por ter acreditado em sua mínima ligação com meu passado pcbista. Mas vejo que essa ligação é tênue demais.
Valerá a pena tanto desgaste?
Ou,-com meu espaço próprio, meu nome. minha história-, vale mais a pena ser outsider e manter mais vivo ainda meu espírito crítico?^
Eis a questão

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

socialismo? -2

REPERCUTIU BEM A OUSADIA DE MEU TEXTO NA POSTAGEM ANTERIOR.
A idéia é propor que o Estado Brasileiro saia da inércia quanto aos bolsões terríveis de miséria nas grandes cidades e se adiante ao capitalismo, incentivando e mesmo criando ( sozinho ou em parcerias) polos de desenvolvimento nessas regiões e não só serviços( que continuarão sendo essenciais, mas não geram desenvolvimento NEM EMPREGOS).
iMAGINO EMCAMPAR ÁREAS DENTRO DAS FAVELAS E IMPLANTAR INDÚSTRIAS, COMÉRCIOS, ATIVIDADES BOAS GERADORAS DE EMPREGOS.
vEJAM A POSTAGEM ANTERIOR.

domingo, 28 de novembro de 2010

socialismo?

Me veio uma ousadia, resolvi perder o medo de falar, escrever sobre o que pensei. O desafio de tirar milhões de pessoas da miséria, nas grandes cidades. A ação do estado tem sido tímida, para não dizer que se limitam à questão policial. É preciso pensar na questão social, formular estratégias de saída, mesmo que os projetos levem décadas para se realizarem. Por isso me veio a palavra "socialismo". Não, não quero voltar ao passado, ao chamado "socialismo real" que naufragou principalmente pela idéia de ditadura para implantar as medidas de transformação da sociedade. Faço parte de uma geração de esquerda que aprendeu a importãncia da democracia, assumida como "valor universal". O que eu penso é em ações nas bordas, loalizadas,mesmo que temporárias. Ações em que o Estado pudesse asumir funções privadas de investimento, construções de complexos comerciais e industriais, geração de empregos em áreas carentes. Não basta só a paz, paz que sempre será temporária, se persistirem as condições sociais para um ressurgimento do banditismo. Incluir aí projetos avançados de ensino, informatização, elaboração de projetos audaciosos capazes de dar oportunidades para muitos, principalmente jovens e crianças. Não projetos paternalistas, tipo orquestras de crianças, etc, que mais comovem os patrocinadores ( e são usados por eles em seu marketing) do que resolvem qualquer coisa.
Enfim, joguei a bomba. Agora, antes de avançar mais, preparar-me para receber as críticas...

sábado, 27 de novembro de 2010

policia e questão social

Bom dia, amigos. Como sempre, na crise corremos todos a apoiar as ações policiais. Eu sou um deles, rapidinho, pois não vejo outra coisa a fazer. Mas o fato é que, de emergência em emerg^}encia, as questões sociais vão sendo vistas como problemas policiais. Contra quadrilhas é preciso mesmo uma guerra. Mas o Brasil não pode continuar com essas gigantescas ilhas de miseria e abandono

Ontem revi meu filme "Wilsinho Galiléia", proibido p/ militares em 1978 e super elogiado quando exibido 24 anos depois. Garoto de 18 anos, com várias mortes nas costas, perigoso, Wilsinho é assassinado pela polícia.Começara sua carreira com 9 anos, preso porque roubou... uma maçã na feira. Dois dias depois comecei a filmar a pergunta: o que fez daquele garoto de 9 anos um facínora aos 18? A sociedade cria o bandido, a polícia o mata. E os militares proibem o filme que, muito antes dessa aguda crise de violência se propunha a discutir a questão (como filme era um longametragem seria exibido em dois programas do Globo Repórter, o anúncio da proibição, depois da Globo tentar todas as instâncias, veio do próprio Palácio do Planalto).

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cinema Brasileiro 2

Muito bom o artigo da Folha em
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/830739-apos-anos-de-exclusao-classes-c-e-d-lotam-os-cinemas-de-periferia.shtml

Ali vemos a volta do público "popular" às salas de cinema de bairros.
Excelente notícia, pois o problema de nosso cinema é esse: ter ficado confinado aos shopping-centers e, portanto, a uma classe média consumista. E aliaa disputar com o cinema norte-americano que continua dominando este mercado com um percentual perto de 90% (na América Latina, 95%)
Mas faltam políticas eficientes que possam impulsionar essa tendência, ajudando empreendedores a abrir novas salas. O número de salas no Brasil, país continental, é ridículo e elitista.
Uma medida inicial seria criar carteiras de créditos a longo prazo e juros absolutamente subsidiados.
Outra é reduzir o custo-Brasil que o artigo estima encarece a criação de salas em 80% em relação ao custo no México.
Outra ainda é tocar o projeto de POPCINE que tentei implantar quando Secretário da Cultura em SP: fiquei muito pouco tempo e não deu, meu substituto não se interessou. Uma pena.
De qualquer maneira a informação do artigo da Folha SP é um ótimo sinal para o cinema brasileiro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

arte e política

Um amigo levantou uma questão sobre uma de minhas postagens, onde falo sobre o uma certa ausência do imaginário das lutas sociais na produção cultural. Segundo esse amigo, sou "muito político" e uma declaração aparentemente crítica sobre a produção cultural poderia pegar mal. Para começar, acho que é uma observação mais de tendência do que de crítica. Basta ver a postagem seguinte, sobre o cinema brasileirio atual, com uma visão otimista e de valorização da diversidade de propostas e sucessos que fazem bem. De qualquer maneira não acho que eu deva esconder idéias. Sempre cultivei o hábito de discutir o que fazemos no mundo da cultura e esse meu blog existe para isso. Não confundir com a visão que eu acho devem ter os dirigentes da política cultural, os que carregam a responsabilidade de zelar pelo todo, sem critérios pessoais de escolhas. Esses devem agir de forma imparcial, republicana e democrática, deixando para instâncias próprias da sociedade, povo, público, midia, críticos, a crítica e as preferências estéticas. Sempre tive essa peocupação e minhas claras preferências pessoais só se expressam quando me coloco exclusivamente como intelectual ou artista, produtor cultural. Uma outra observação: nunca fiz uma ligação mecânica entre o foco social ou politicamente crítico com qualidade artística. E vice-versa, nunca fiz a bobagem de condenar uma obra artística por seu viés ideológico não crítico. Nada a ver.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

cinema brasileiro hoje

Não há como não sentir um certo entusiasmo pelo que acontece agora com o cinema brasileiro. Vamos ganhando público e polêmicas, a produção vem se diversificando, cada um de nós, cineastas, vai se identificando com algumas das tendências que vão se firmando. É preciso pensar na própria carreira, nos gostos pessoais, nas correntes históricas a que nos filiamos, mas é preciso respeitar e admirar as vertentes que vão se firmando. Nada de donos, nada de narizes torcidos. Precisamos agora de uma efetiva política de expansão do mercado para tirar das multisalas o domínio completo e administrado de um pequeno mercado dentro de um imenso mercado potencial brasileiro

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

desafio

Tenho dito que falta, no imaginário dos artistas e dos intelectuais brasileiros de hoje, as lutas sociais. Elas estiveram presentes num largo período de nossa história e nos principais movimentos culturais, mesmo os mais vanguardistas, como a Semana de Arte Moderna e o Cinema Novo. Não é o que se vê hoje. Os movimentos sociais ou se anularam pela cooptação do Estado ou foram demonizados pela opinião pública em parte por terem sido cooptados em parte por preconceito mesmo. Sem isso, estamos falando sempre de nós mesmos. Ou falando supostamente em nome de uma maioria silenciosa que nada mais quer do que a garantia de uma vida tranquila com seus privilégios contraditórios ( pois são bons mas excludentes. Assim, a cultura brasileira se mostra caudatária da utopia da classe média, o desejo de viver bem e sem culpa numa sociedade desigual e de tantas injustiças. Uma das diretrizes é culpar alguém. E a própria classe média arranja esse "alguém": os políticos, a maioria saida de seus quadros mal formados. Os intelectuais, saidos também dessa "mamma" classe média, desligados das verdadeiras lutas sociais, sonham seus próprios sonhos, falam de si mesmos, de sua falta de saída. Ou vendem o espetáculo dessa impossibilidade dde solução.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Blog só de cultura e opinião

Meus amigos. Como diria Guimarães Rosa, "ninguém muda de profissão".
Sou cineasta até a raiz do cabêlo, mas tenho uma ligação extra-forte com a política cultural e a política em geral.
Nesses dias, após eleições, comecei a achar que abusei desse BLOG, colocando nele idéias sobre as eleições, esclarecendo minhas posições políticas.
Cheguei à conclusão que, para isso devo criar um outro blog.
A partir de agora, vou tentando "limpar" o conteúdo das mensagens nesse bvlogo.
Esse blog, então retorna à ideia primitiva: colocar minhas idéias de cinema, cultura em geral e filosóficas ( na medida de minha precariedade na área...). E dar notícias sobre meus projetos, filmes, críticas, etc.
Criando outro blog, informarei e passarei as mensagens exclusivamente político-eleitorais para o outro.
Obrigado
João Batista de Andrade

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

oposição

Oposição tem mesmo que esquentar os motores, devagar, sem pressa. Democracia pede isso, não quer dizer guerra. O importante agora é aprender a identificar nos gestos, ações, palavras, os rumos e os significados da política governista, ver onde esses rumos se chocam com propostas da oposição ou, na visão desta, se choca com os iunteresses do país ou da maioria da população. Quase metade do país está na oposição mas isso pode ser passageiro: tendência precisa ser alimentada com idéias mais claras, sem recaídas para o conservadorismo e preconceitos. Apesar da fragilidade no Congresso Nacional, é importante ir esquentando os motores com propostas, apaoios, projetos. Isso marcará positivamente a oposição, impedindo sua caracterização simples de negatividade pura.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

pós-derrota eleitoral 2010

Postei hoje, no Facebook essas duas mensagens que revelam um certo desconfôrto diante dos caminhos e descaminhos da aliança PSDB/DEM/PPS. Na verdade eu gostaria de uma discussão ampla a respeito dessa aliança e dos retrocessos forçados ou intencionais da campanha presidencial. E nítida falta de um projeto político em contraponto ao projeto da aliança em torno do PT e do lulismo.
A meu ver há muito de emocional, raiva, misturado com as justas razões de uma ruptura com o lulismo/petismo. Mas vejo que também essa "corrente"(?) carece de clareza sobre ela mesmo, apegando-se, aliás como todo mundo, a um projeto de poder que, no caso governista, tem ao seu lado o que vem sendo feito ou apregoado como tal.
Eis os textos postados hoje no Facebook:
02Nov10 .
17:40 hs Fernando Henrique fala bem, mas acho que falta uma análise maior do que acontece hoje. Só a continuidade do governo Lula quanto à economia não explica tudo mais. E as idéias que movem ou deveriam mover o PSDB ainda estão obscuras. Também se mover tocado por alguma "ameaça" ( não o FHC, mas muitos) é furada: não vejo ameaça alguma nesse momento.
17:45Hs Complementando: Como cidadão de esquerda não posso sucumbir às alianças. Também aqui digo que as diferenças de minha corrente política, pela luta democrática, com as opções de luta armada já não explicam nada. A questão é elucidar, agora, em que trajetória se colocou a política do PT com seus aliados e o lulismo. Haverá, num futuro próximo, possibilidade de recomposição da esquerda? Ou seguiremos divididos?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

opção eleitoral pró-Serra

Texto de e-mail aos companheiros da cultura brasileira ( em 13/Out/2010)

Caros amigos
Dentro do espírito de companheirismo que sempre marcou minha atuação política pela cultura, peço que leiam esse texto.
Não é segredo que tenho apoiado a candidatura Serra para Presidente.
Seria longo demais explicar a origem histórica desse apoio, desde antes de 64, quando fui colega e companheiro de Serra na política estudantil (eu do PCB, Serra da AP) até a eleição de Serra para a UNE (de que participei ativamente, articulando o apoio nacional do PCB).
Por outro lado, fui um dos cineastas que documentaram a greve de 79, que elevou Lula à condição de lider nacional. Nossos filmes foram fundamentais na divulgação do movimento e do próprio Lula, na medida em que as TVs não exibiam as imagens da greve.
Acentuo que conheci Lula bem antes, fiz o que penso ter sido sua primeira entrevista para a TV, em 1972, no programa "Hora da Notícia" ( com Vlado Herzog e Fernando Pacheco Jordão).
Mas a visão que eu tinha da abertura política e dos rumos da democracia era divergente da que foi encaminhada por Lula e pelas correntes da esquerda que o acompanharam na formação do PT.
Simplificando minha visão, acho que a ascensão de Lula se dando como um oposto à política de FHC, criou uma dicotomia que precisa ser pensada e digerida apela História.
Um desafio a ser pensado sem preconceitos e sem ódio.
Não admito pensar FHC e Serra como direita, da forma como a paixão tem levado muitos a se expressarem.
Não há perigo algum de "retrocesso", se haá alguém com esse temor: o cerne da oposição é o PSDB, moldado na luta democrática, com líderes como Fernando Henrique, Serra, Mário Covas, Alckmin, Aécio Neves, Aloysio Nunes, e os históricos Mário Covas, Franco Montoro, etc.
Eu também gostaria de mais, de uma radical libertação da humanidade, mas entre esse ideal e a realidade está a política.
E estou falando de política.
Aprendi na vida, na militância anti-ditadura, a fazer política na adversidade. Recusei a idéia de luta armada por julgá-la incapaz de enfrentar a ditadura e apelo risco de um massacre da juventude brasileira ( nunca vou deixar de lamentar a morte de tantos amigos levados pela enganosa opção de "derrubada" da ditadura). Fiquei ao lado dos que acreditaram que era necessário retomar a política, rearticular nossa ligação com os movimentos populares, ajudar esses movimentos a renascerem. E foi assim que a ditadura brasialeira foi, não "derrubada", mas "derrotada".
Com esse mesmo espírito, em 1972 fui para a TV, com Vlado e Fernando Jordão, mesmo sendo a TV Cultura do governo biônico da ditadura em SP sob o govêrno mais violento da ditadura, o giovêrno Médici. . Áli pudemos, conscientes de nossas limitações mas também certos da importância do que faziamos, desenvolver um belo e reconhecido trabalho de revelação da real situação do povo brasileiro sob a ditadura. É verdade, um trabalho que custou a vida do melhor de nós, justamente o Vlado.
Com essa mesma disposição fui para TV Globo onde, em SP, criei o Setor de Especiais (Globo Repórter, etc), onde fiz documentários que hoje são saudados, como "Caso Norte"(77) e o proibido ( pelos militares) "Wilsinho Galiléia"(78).
Pois bem, é assim que me coloco hoje.
Acho que a vitória da oposição fará bem ao país, à democracia.
Pois é claro para mim que nenhum partido, nenhuma corrente tem condições, E NEM DEVE, conduzir eternamente os destinos políticos do país.
É preciso renovar, cultuar a alternância.
E, sem ilusões, saber que sempre teremos que lutar muito pela cultura brasileira, como agora.
Aí estão, de forma sucinta, as razões de meu apoio a Serra.
Nem preciso dizer que não dedico, nem em meu espírito e nem nas minhas ações, qualquer critica negativista a companheiros que atuam no governo atual, às suas ações políticas. E muito menos críticas aos que pensam e optam de maneira diferente.
Eis, para terminar, as razões pelas quais não assinarei o manifesto pró-Dilma.
Assinaria um pró-Serra.
Um abraço a todos, com espírito aberto e companheirismo,
João Batista de Andrade

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cineclubistas: Resposta a JB Pimentel

Cineclubistas: Resposta de JBAndrade a Pimentel
Mensagem de JB pimentel (cineclubista
E Resposta de João Batista de Andrade
On Qui 7/10/10 13:28 , João Batista Pimentel Neto pimentel@cineclubes.org.br sent:


1- JB Pimentel
Companheir@s cineclubistas,
Todos sabem meu posicionamento contrário à utilização desta lista para pregações de caráter político/partidário.
Diante das declarações do candidato José Serra, publicadas na Folha de São Paulo de ontem, na qual informa que sua proposta para a área de cultura se resume a implantar em todo o país o “É Vento” Virada Cultural, museus e centros culturais. E ainda como paulista e conhecedor da gestão da cultura que vêm sendo praticada pelos seguidos governos do PSDB no Estado de São Paulo, decidi que era hora de me manifestar e tornar público meu apoio e total empenho à eleição da candidata Dilma Roussef à Presidência da República.
Tomei tal decisão, por entender e mais que isso, ter a certeza de que a eleição de SERRA significará um imenso retrocesso, colocando em risco todos os inegáveis (mesmo que ainda insuficientes) avanços ocorridos nos últimos oito anos em relação às políticas públicas de cultura implantadas pelo Governo Federal.
Não, não podemos correr este risco de trocar tudo o que construímos (sim construímos, porque nós da sociedade civil fomos convidados a participar, fomos ouvidos e tivemos muitas de nossas demandas atendidas) por um projeto, que coloca em sua centralidade a visão de cultura como mero evento (ou como diriam alguns pela cultura do "é vento"), como é o caso da tal VIRADA CULTURAL.
Aliás, não podemos nos conformar e nos omitir diante da ameaça de que todos os avanços obtidos, sejam virados pelo avesso, desconstruídos e paralisados. Não podemos compactuar com propostas que resultarão numa MARCHA A RÉ em todo o projeto cultural, que as duras penas, vêm sendo implantado no país .
Não podemos nos omitir, compactuar e permitir com a demolição de todo este processo que se baseia na implantação de políticas públicas estruturantes, permanentes, federativas e republicanas, para que se coloque no lugar a velha e conhecida política que vê a cultura como mera distribuição de PÃO e CIRCO, aliás, mais CIRCO e PÃO para poucos, como ocorria nos anos FHC.
Enfim, resumidamente não podemos nos omitir, compactuar e permitir retrocessos e a volta das práticas e da visão de cultura praticada pelo PSDB durante os anos Fernando Henrique Cardoso, quando as políticas culturais se virão reduzidas ao bordão e ao balcão do CULTURA É UM BOM NEGÓCIO
Novamente como paulista, informo a todos que infelizmente desde que os tucanos assumiram o Palácio dos Bandeirantes, a cultura e as entidades culturais de meu Estado vêm sendo cada vez mais maltratadas e recebendo menor atenção dos Governadores ocupantes do Palácio dos Bandeirantes, sofrendo um processo de continuo esvaziamento e retrocesso. Em especial no que se relacionam as políticas de descentralização e regionalização e de participação da sociedade civil.
Prova disso é que ainda neste ano e ainda na gestão Serra no Governo do Estado, foram fechadas as 13 Oficinas Regionais da Cultura que funcionavam na capital e no interior do Estado.
Por outro lado, logo no início da gestão Serra/Saad foram extintas todas as Comissões que funcionavam junto a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, que há décadas funcionavam como canais e instrumentos através dos quais as entidades e a sociedade civil participavam do processo de elaboração das políticas e gestão.
Já como cineclubista, o que tenho a informar é de que apesar de todas as gestões feitas pelo movimento junto a Secretaria de Estado da Cultura, há mais de uma década, não se logrou do governo, nem mesmo a mínima disposição ao diálogo. Saibam por exemplo que o Estado de São Paulo é um dos poucos e raros estados que não se dispôs a realizar um edital estadual dentro do Programa Cine+Cultura.
Fica, portanto este meu alerta.
Para mim quem vota SERRA, vota contra a cultura e contra o cineclubismo brasileiro.
Portanto companheir@s, agora, como cineclubista, militante cultural e filiado ao PV – Partido Verde, torno público meu apoio e disposição de luta para que no próximo dia 31 elejamos a candidata DILMA ROUSSEF, para a presidência da República Federativa do Brasil, garantindo desta forma a continuidade de um projeto que ajudamos a construir e que tem sido bom para o Brasil e para todos os brasileir@s.
Agora é DILMA. 13.
Pelo cineclubismo, pela cultura, pelo povo brasileiro! Avança Brasil!
João Baptista Pimentel Neto
PS. Estarei a partir de hoje organizando um MANIFESTO DE APOIO de cineclubistas à candidatura DILMA ROUSSEF e conto com a participação e manifestação de tod@s os companheir@s.



--
João Baptista Pimentel Neto
Diretor de Articulação e Comunicações do CBC - Congresso Brasileiro de Cinema
Secretário Geral do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
Relações Institucionais do Festival de Atibaia Internacional do Audiovisua

2- Resposta de JOÃO BATISTA DE ANDRADE ( 07/10/2010)<

Caro Pimentel
Em primeiro lugar, nada contra qualquer tipo de manifestação de opção, afinal estamos mesmo em época de escolhas.
Quero, no entanto, fazer dois reparos:
1- Me sinto ofendido quando se generaliza : "gestão da cultura que vêm sendo praticada pelos seguidos governos do PSDB no Estado de São Paulo". Não sou filiado nem militante do PSDB, mas Fui Secretário de Cultura do Estado entre 2005 e 2006, no governo PSDB. Posso dizer que foi um período altamente democrático, com as diversas comissões funcionando ( e exercendo também sua função de ligar a Secretaria aos diversos movimentos culturais e diferentes pensamentos a respeito da cultura)
2- Comissões: quando assumi a Secretaria, em 2005, já não havia Comissões. EU AS RECRIEI
3- Quanto ao cineclubismo, fiz o que pude para ajudar em minha gestão, inclusive patrocinando a proposta do Popcine que só não foi avante porque não tivemos tempo de deixar, para meu sucessor, o projeto implantado e com a questão da forma de patrocínio bem determinada.
4- Sobre as declarações de José Serra: melhor seria ouvir dos dois candidatos, agora de forma mais clara, quais seriam, de fato seus compromissos com a cultura. E não apressar posições como reação a declarações soltas e fora de contexto. Isso, ouvir dos dois, seria uma coisa excelente. E mostraria o movimento agindo de forma independente, sem partidarismos mas exigindo de todos os candidatos o maior empenho para nossa causa.
Como ex-cineclubista, mas principalmente como um ativista cultural, sou bastante crítico a esse tipo de proposta que vincula as entidades ou movimentos a uma candidatura.
Sei bem a fragilidade da cultura E DE NOSSAS ENTIDADES.
Sei bem o significado dessa luta.
Acho saudável que militantes de causas sociais tenham suas escolhas e as explicitem.
Mas uma entidade ou um movimento não podem se tornar prisioneiros das opções ideológicas de quem quer que seja.
Espero ser compreendido.
Tenho uma ligação histórica muito forte com o movimento cineclubista e com as lutas culturais nesse país. E sei que é preciso cuidar de nossa luta como quem cuida de um objeto muito delicado e sensível.
Um abraço
João Batista de Andrade

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sinopse do filme

Nas primeiras eleições do novo município VILA DOS CONFINS, na metade dos anos 1950, defrontam-se um velho coronel, CHICO BELO, matreiro e violento; e um Deputado com idéias mais urbanas e progressistas: PAULO SANTOS. A disputa entre os dois revela as traições, as manobras, as compras de apoios e de votos, as pressões políticas e até militares. E as dificuldades culturais daquele povo do sertão brasileiro na metade dos anos 50, quando o Brasil ensaia a passagem de um país rural, dominado pelas oligarquias, para um país urbano, progressista, com a eleição de JK. Em meio à campanha, Paulo é atraído pela bela e provocante MARIA DA PENHA, filha de seu maior apoiador, o fazendeiro SEBASTIÃO e que tendo se separado do marido, acabara de voltar também da Capital, saudosa daquela vida urbana. Dividido, Paulo tenta se livrar da tentação que ela representa, temeroso de que uma aventura amorosa destruísse sua campanha e sua carreira.

terça-feira, 20 de julho de 2010

perdas do cinema latino-americano 3

A proibição do roteiro do filme "OS DEMÔNIOS" (JBA e Lauro César Muniz/1981).
Com o roteiro proibido, não pude filmar "Os demônios" como eu queria, em 1982.
Leiam, depois o texto abaixo, enviado por mim para Maria do Rosário Caetano.
Mas reforço um sentimento: o de mais uma perda irreparável: Em 1982 eu estaria falando não somente da ditadura ( em sua fase de "retirada") mas das debilidades da abertura política. Para os que muitas vezes nos cobram ("argentinos falaram mais das ditaduras") anoto que "Os Demônios" teria sido realizado muito antes do argentino "A história Oficial", marco do cinema atual de "los hermanos").
TRECHO DA CARTA A MARIA DO ROSÁRIO:
Tentei de todas as formas filmar o “Vlado” (ficção inviabilizada em 1990 pelo plano Collor) e o roteiro de "Os Demônios" (meu e do Lauro César) que fora proibido em 1981 e não consegui apoio nem na Petrobrás, nem no BNDES, nem no Fomento. O filme teria um caráter impressionantemente revelador, pois o foco seria a luta pela abertura política e os limites dessa abertura, tal como se discute hoje: o personagem principal, Paulo,(teria sido o Othon Bastos!) chega do exílio, sente que não entende mais o país, não se entende com sua filha adolescente (geração do "milagre", shopping centers, etc.). Sua ex-mulher (Vera Fischer!) está casada com um homem de publicidade (Paulo descobrirá depois que ele teria feito uns filmezinhos institucionais fascistas para o governo militar). Apesar de estar desconcertado com as mudanças do país, seu grupo de esquerda o obriga a lançar mão de idéias que ele considerava superadas. Ele encontra seu torturador, na rua e tenta denunciá-lo. Isso causa uma reação entre os militares ("revanchismo"). Com isso as lideranças do projeto de abertura o isolam, temendo um golpe de estado. Paulo não vê outra saída, volta para o exílio. Quem me comunicou a proibição, em 1981, foi o Roberto Parreira, diretor da Embrafilme, que disse que não poderia me explicar nada, só informar.

perdas do cinema latino-americano 2

Continuando relato sobre a "mesa" de debates sobre meus filmes no 5º Festival Latino Americano de SP.
A fala de Jean Claude Bernardet buscou apresentar o que ele via como essencial em minha obra, a vertente documentária que, de fato, "contamina" todos os meus filmes. Essa visão já vinha sendo elaborada desde sua análise de meu primeiro filme, "Liberdade de Imprensa", infelizmente também proibido pela ditadura ( apreendido no Congresso da Une, Ibiuna/1968) quando se preparava sua distribuição nacional a ser feita prelos estudantes: o filme só voltou a ser exibido publicamente quando restaurado pela Cinemateca, com apoio da Petrobrás em 2008, 40 anos depois...). No filme, Jean Claude aponta uma ruptura com os cânones da época: o respeito à realidade "tal e qual ela se nos apresentava, sem interferência". Pois eu pregava, -e praticava-, o inverso: a realidade como tal é um fetiche: a presença da equipe e da câmera muda a cena e era preciso aprender a fazer isso para captar o resultado dessa "intervenção" de modo mais revelador, menos passivo, mais crítico. (Posso aqui lembrar que fui bastante criticado na época por causa disso; hoje, é uma postura já incorporada pelos documentaristas).
Mas a novidade, para mim, foi a visão de Jean Claude sobre a proibição do filme "Wilsinho Galiléia" (1978)(VEJAM POSTAGEM ANTERIOR). Jean Claude ligou essa proibição à proibição de outros filmes como idéias semelhantes, de busca de uma dramatização do filme documentário, com atores: "Cabra marcado para morrer" (1964), "Iracema" e "Wilsinho" . Segundo ele é preciso refletir sobre essa perseguição a esse tipo de cinema (feroz e popular, acrescento eu).Jean Claude terminouaa dizendo que essa sequ~encia deproibições fez muito mal à história do documentário brasileiro.
NA PRÓXIMA POSTAGEM, uma continuação: a proibição de meu projeto "Os Demônios", roteiro proibido pela ditadura e, por isso, não filmado.

perdas do cinema latino-americano

A mesa de discussão sobre minha obra, como parte da homenagem do 5º Festival Latino-americano não podia ser melhor: Maria do Rosário Caetano, responsábvel pela minha biografia editada pela Imprensa Oficial ("Alguma solidão e muitas histórias"). E Jean Claude Bernardet, nossa melhor cabêça e responsável pelas mais agudas análises sobre meus filmes e minha trajetória como cidadão/cineasta. Em sua primeira fala, Rosário deu a deixa, lendo um texto seu sobre meu filme "Wilsinho Galiléia", proibido pelos militares (Palácio do Planalto mesmo)em 1978 e que estava programado, por ser longa, em dois programas do Globo Repórter ( para quem não sabe, o Globo Repórter nasceu como um programa de cineastas: Paulo Gil Soares, Eduardo Coutinho, Walter Lima, Maurice Capovilla, eu mesmo e outros mais eventuais como Hermano Penna, Gregório Bacic, etc. Nós fomos saindo do programa com o desgaste político provocado por nosso espírito crítico: a gota d`´agua foi a proibição de Wilsinho Galiléia.
Wilsinho Galiléia é um precoce filme sobre a origem da violência social no Brasil: a história do garoto que, tendo sido preso aos 9 anos por razões fúteis, transformou-se num assassino frio, assaltante a mão armada, fuzilado numa emboscada pela polícia assim que completou 18 anos. O filme ( mesclando personagens da vida real com atores, refaz sua trajetória de menino pobre (periferia de SP)mostrando a carga social na formação de sua trajetória de mortes e violência.
NA PRÓXIMA POSTAGEM FALO DO ENFOQUE DE JEAN CLAUDE BERNARDET e sua visão sobre a proibição do "Wilsinho"

terça-feira, 13 de julho de 2010

Festival Latino Americano de SP

Eis matéria da FAPESP com minhas posições politicas sobre o cinema latino-americano em 2007:
HUMANIDADES
| FESTIVAL DE CINEMA
Contra o peso do passado
Novos talentos devem se tornar protagonistas do cinema latino-americano
Mariluce Moura
Edição Impressa 139 - Setembro 2007
© EDUARDO CESAR


Protótipo em aço do troféu entregue aos ganhadores
Quando em 2005, ainda na posição de secretário da Cultura do Estado, o cineasta João Batista de Andrade pensou num festival de cinema latino-americano em São Paulo e começou a desenvolver o projeto junto com Fernando Leça, presidente do Memorial da América Latina, duas idéias rondavam sua cabeça: contribuir para uma leitura nova do cinema que se produz agora nesse subcontinente e investir contra um culto ao passado que quase se tornara opressão para permitir que os novos talentos assumam o papel que lhes parece devido, ou seja, o de protagonistas da cena contemporânea.
“Continuávamos ali com o viés do cinema marcado pela ditadura e pelas lutas contra a ditadura dos anos 1960, 70 e 80 e isso me preocupava”, diz João Batista, que, como secretário, viu se materializar em 2006 o 1º Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo (leia Pesquisa FAPESP nº 127) e em 2007, já distante da secretaria, assumiu a curadoria do segundo. Realizado, como o primeiro, no Memorial da América Latina, entre os dias 22 e 27 de julho, o festival deste ano incluiu a exibição de 120 filmes de 16 países, vistos por 15,6 mil pessoas, muitos debates e a concessão de três prêmios, além da promessa de Fernando Leça de trabalhar pela montagem de uma sala para exibição permanente de filmes latino-americanos no Memorial.
Esclareça-se que João Batista, como ele enfatiza, nada tem contra o passado do cinema latino-americano em si, “excelente em vários momentos”, nem contra os belos frutos que indiscutivelmente produziu. “Mas para construir um gesto político conseqüente hoje, que contribua para tornar viável o novo cinema, é fundamental livrar-se do peso excessivo do passado e ver com os olhos do presente o que se passa”, diz. E em seu entendimento, o que está em curso é, primeiro, “uma globalização perversa”. Sinteticamente, trata-se de um fenômeno que produz a visibilidade e mesmo o sucesso internacional de alguns cineastas, técnicos e atores de diferentes países da América Latina, “sem que isso tenha qualquer conseqüência efetiva para as cinematografias nacionais no subcontinente”.
O diretor de O homem que virou suco (1981) cita Héctor Babenco, Fernando Meirelles, Iñarritu e Walter Salles, entre outros, cita filmes como Machuca, Cidade de Deus, Amores perros, Central do Brasil e Como água para chocolate, para ilustrar sua visão sobre uma espécie de coleta de produtos de valor que o mercado internacional tem feito nesse subcontinente. É algo “nos velhos moldes da coleta do pau-brasil”, exagera ele, com um resultado que “é bom para os cineastas, é bom para os filmes eleitos, mas é nulo para as cinematografias nacionais – elas permanecem do mesmo jeito”. João Batista observa, entretanto, que há que se preservar cineastas e filmes nessa crítica, para analisar de fato e a fundo as contradições da situação presente. Essa internacionalização de certas personagens e filmes, ele acrescenta, acontece sem nenhuma espécie de paternalismo em relação aos cineastas e se dá no âmbito da indústria e do comércio segundo seus interesses. E já hoje “vários produtores e exibidores passaram a trabalhar em nossos países com a idéia do cinema industrial. Eles são os novos executivos do cinema, cujos escritórios estão sendo abertos em Nova York, Xangai ou Paris
Em paralelo a esse modelo de internacionalização, o que se passa hoje, segundo João Batista, é uma ocupação brutal do mercado exibidor do Brasil e de seus vizinhos pelo cinema norte-americano. E o reconhecimento dessa condição, diz, é vital para qualquer novo gesto político conseqüente no âmbito do cinema latino-americano. “Não é possível tornar viável esse novo cinema que produzimos enquanto o cinema norte-americano continuar ocupando 90% do mercado exibidor. Temos que fortalecer a idéia de que queremos dar um basta nisso. Recentemente, em dado momento, apenas três filmes norte-americanos ocupavam 70% do mercado de exibição em São Paulo”, protesta João Batista.
A sua visão relativamente à indústria cultural é de que ela não pode ser gerida como uma indústria qualquer, porque não o é. “Assim, incentivo financeiro aos exibidores, reserva de dias para a produção local nas salas de cinema, medidas similares às que foram tomadas na França para ampliar a cadeia de cinema comprometida com essa produção, tudo é válido”, ele argumenta. Alguma saída, insiste, “temos que encontrar politicamente”, e João Batista promete se empenhar para difundir em outros festivais, como os de Guadalajara e Mar del Plata, as idéias de ação política já debatidas em São Paulo. De todo modo, ele pensa que é tempo de os governos nacionais encararem a questão sem medo dos Estados Unidos. “Essa idéia de que o exibidor deve ser livre para exibir o que quer corresponde a uma falsa noção de liberdade. Não decorre da liberdade o poder de uma indústria cultural sufocar outras.”

sábado, 26 de junho de 2010

máquina de escrever

Olá.
Pode parecer (eu mesmo fico com essa sensação...) uma pretensão ou uma paranóia:
é uma observação sobre o filme "Flores Partidas" de Jim Jarmusch. O filme trata de uma busca de alguma coisa do passado, uma história prossivelmente vivida pelo personagem do Murray no passado, com uma mulher e um filho fruto dessa aventura. O lembrete dessa história é um texto escrito por alguma máquina de escrever antiga e, portanto seria importante, nessa volta ao passado, encontrar a máquina de escrever. Claro, nós estamos na era dos computadores.
Pois bem, o filme é de 2005 e o roteiro foi escrito em poucas semanas.
E meu filme "Rua seis sem número?" -- filmado em 2001 e exibido em Berlim em 2003, portanto dois anos antes do filme do Jim Jarmusch.
O filme começa com uma centena de máquinas velhas de escrever enfileiradas na poeira do chão de Brasília. E logo com um delírio de uma prensa esmagando uma máquina e um computador substituindo a que foi destruida.
De que trata o "Rua seis..."?- uma busca de uma história pessoal do personagem do Marco Ricca que recebeu uma mensagem, de um velho, para procurar uma tal mulher que, veremos depois, teria tido um caso com o Marco e um filho com ele (!!!). Onde o Marco esconde a mensagem: dentro de uma velha máquina de escrever dentre as várias que ele coleciona, com sua rebeldia anti-computadores (!!!!!!!!!!!!!!!)
Fico com esse enigma...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

filmes brasileiros

Tenho visto muitos filmes brasileiros, sempre com uma curiosidade grande. Há, sem dúvida, uma questão de gerações em nosso cinema. Em meu filme "Rua seis, sem número", tentei retratar um mundo sem ilusões: o personagem, incomodado com o mundo como está, extremamente insatisfeito,- mas ha essa altura (2001) sem a alternativa da utopia social-, se deliga do mundo real e tenta, não mudar o mundo, mas mudar sua própria história de vida, criando um passado para si próprio. O belo escritor português Agualusa escreveu, dois ou três anos depois, o livro "O vendedor de passados", com idéia bem semelhante. Pois bem, o que tenho visto em muitos filmes é o desencanto, a falta de sentido das vidas: personagens que perambulam, lutam por pequenas coisas, passam um sofrimento tristonho e silencioso. Não há lugar para eles no mundo. Ou o lugar a que podem almejar é irrisório. Sobre o belíssimo "Viajo por que preciso..." eu disse à Revista de Cinema que é claro ali: "na solidão, o que está fora de nós é paisagem". Há uma crise da intelectualidade, dos artistas, talvez uma crise de classe, como nos velhos tempos:numa sociedade emergente como a brasileira, qual nosso papel?- o que as classes emergentes enxergam em nós?- na verdade eestamos fora desse processo e sendo substituidos pela idéia das Casas Bahia: o importante é poder comprar, poder ter as coisas desejadas e isso é poder, é afirmação social.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Nouvelle Vgue

Nunca fui verdadeiramente fã da Nouvelle vague.
Era sim, vidrado no neo-realismo italiano, particularmente em sua vertente política.
Mas fui ver o filme "Godard e Truffaut, a Nouvelle Vague" e me emocionei bastante.
Por que alí vi, e me identifiuei demais com isso, dois cineastas lutando paara abrir os caminhos de seus cinemas e de afirmarem suas personalidades artísticas. Godard era um filhinho de papai, Truffaut mais classe média, o filme torna isso claro, nós, os espectadores, ficamos buscando ilações dessa sociologia improvisada. Mas nada disso marca os dois líderes da Nouvelle vague.
O que marca é a rigidez da busca de Godard, em contraste com seu cinema completamente quebrado e anti rigidez.
E a emoção de Truffaut diante do cinema dominante, justamente o cinema que julgavam quebrar com suas propostas iniciais.
O delicioso é ver que, ao final, nada disso importava, alí estavam dois grandes cineastas exercitando seus sonhos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

QUEM SOU EU

Eu e meu cinema

Como acontece muitas vezes, amanheci com o amontoado de perguntas sobre mim mesmo. Sou um sujeito difícil, auto-centrado e descontente. Descontente com a vida, com o mundo e comigo mesmo. Um traço marcante é a impaciência que me persegue pelo menos desde a adolescência. Uma impaciência que me impulsiona sempre para a frente quando ainda estou aprendendo o presente. Impaciência de ouvir, de ver, de esperar. Isso pode explicar muito de minha formação intelectual, cujos traços mais modernos foram plantados num só pulo, o mergulho nos livros e filmes e músicas logo que entrei na faculdade e onde percebi minha ignorância, o desconhecimento do que era considerado básico culturalmente: os clássicos da literatura, da música, o cinema moderno. Digeri tudo aquilo com muita voracidade e até hoje não sei bem o que ficou e o que expeli sem digestão alguma. Sempre tive uma imaginação delirante, ler sempre foi um exercício de persistência pois em pouco tempo minha imaginação voava por outros caminhos, como que instigada pela leitura mas deslocando-se dela. Isso explica o que sempre me intriga: a dificuldade de saber o que é mesmo que o livro está contando, como é a história. Ficava sempre um saber impressionista, o tom do texto, a linguagem, o clima da história contada. Dificilmente a trama. No cinema a mesma coisa, a mesmíssima coisa. Engraçado que só não acontecia isso com a música: passei a gostar dos clássicos e memorizava as músicas com facilidade, tendo dificuldade para gravar letras das músicas populares...
Meu cinema, acho, nasceu dessa inquietação e dessa impaciência, características que me distanciavam de todas as propostas, de todas as tendências, gostasse eu ou não delas. Era uma impaciência com o mundo, com as pessoas, com o próprio cinema. Acho que antes de falar da imaginação eu deveria falar do desejo. É verdade que minha imaginação é delirante, irrefreável. Mas acho que ela é conduzida pelo desejo. Sempre me senti mal no mundo e acho que por isso me tornei comunista, a esperança inconsciente de chegar a um mundo perfeito, não agressivo, igualitário, onde eu pudesse me sentir bem. E do mundo imperfeito para esse paraíso minha imaginação escapava sem controle. E minha impaciência registrava que tudo era devagar demais, que esse mundo confortável não chegaria jamais se dependesse dos outros. Acho que isso me levava a ser, além de impaciente, crítico com relação a tudo, às opiniões, às ações de todos. E me fazia vibrar com gestos longínquos, chegados a mim livres de suas próprias contradições, como a luta do povo vietnamita, dos cubanos. Ali sim, a ação era transformadora, vista assim pelos noticiários que só nos traziam o aparente, os fatos, a guerra, sem o cotidiano e as dificuldades terríveis daqueles povos em sair, eles também, do marasmo do cotidiano e da subserviência.
O cinema para mim, me parece agora, funcionava um tanto como um aguilhão sofisticado, usado para insuflar o real, faze-lo andar, questionar os erros de visão, - é preciso ver bem as coisas para acertar!-, provocar, questionar erros de interpretação e erros de táticas, de formulações políticas.
É importante dizer que eu não fazia isso calcado em qualquer manual, pois embora lesse com freqüência a literatura marxista, tinha com ela a mesma dificuldade que com os romances: saber exatamente o que os textos estavam dizendo. O que eu apreendia do marxismo era então fruto das leituras, das conversas, discussões, tudo isso elevado a um nível de tensão provocado por minha imaginação, como se de tudo aquilo eu só apreendesse o essencial, a dialética que me permitia perceber que no mundo nada é eternamente como se apresenta a cada instante, que é possível mudar e que essa mudança se dá dialeticamente, o novo questionando o velho em busca de uma síntese.
Me vejo hoje, como desde jovem, questionando quixotescamente o mundo com minha câmera e com meus gestos, com meu desejo de que tudo andasse e de que as pessoas entendessem melhor o mundo para muda-lo e que errassem menos, que acertassem.
Por isso não é um cinema tradicionalmente militante, de pregação de “minhas idéias”. Eu queria que todos tivessem suas idéias e que essas idéias servissem mesmo para mudar o mundo. Queria que as pessoas agissem, que as dissimulações fossem denunciadas, aclaradas, que os erros fossem expostos e banidos. Queria que minha câmera surpreendesse o mundo com suas revelações que despertassem a consciência e a crítica.
Teria assim, meu cinema documentário, um direcionamento didático?
Não acho. Nem Grierson nem Dziga Vertov. Nem o cinema da elite, revelador e belo mas que passava ao largo das mudanças do primeiro e nem o cinema de propaganda confiante de Dziga Vertov, com toda sua criatividade. A verdade é que gosto dos dois, mas não me sinto ligado a nenhum deles. Pois meu cinema desdenha dessas formas elaboradas, a conquista do espectador pelo espetáculo das coisas, incluindo aqui o próprio homem. É também um cinema que não crê que haja um “homem novo” no mundo. A rigor, sempre achei que havia sim, o “homem errado”, contra o qual era preciso lutar.
Por isso, por essa visão, QUE SÓ AGORA ASSINALO, de um “homem errado”, é que devo ter exercitado todo o tempo a desmistificação do olhar, do belo, das opiniões pessoais e públicas, da mídia. Basta ver em meus filmes, desde o “Liberdade de Imprensa” ( a desmistificação da imprensa livre), passando pelo “Migrantes” ( a desmistificação da opinião pública e da mídia), “Buraco da Comadre” ( a desmistificação da política), “Caso Norte” e “Wilsinho Galiléia” ( a desmistificação da violência), “O Caso Matteucci”(a desmistificação da justiça), etc.
Basta ver o gosto pelo cinema errático, sem acabamento, improvisado, desesperado atrás de uma revelação capaz de provocar a consciência. Basta ver alguns títulos que parecem desdenhar do sóbrio, do digno, da soberba elitista: “Buraco da Comadre”, “O homem que virou suco”, títulos que parecem desdenhar de si mesmos.
Pode ser que seja eu o “homem errado”.

João Batista de Andrade
25/junho/2007

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Confira os filmes do João Batista que serão exibidos durante o Festival

RETROSPECTIVA JOÃO BATISTA DE ANDRADE
15 programas / 20 títulos

1 - FILMES DE FICÇÃO

A- Ditadura e Abertura

Doramundo
O homem que virou suco
A próxima vítima
O tronco

B - A história

O país dos tenentes

C - Dilacerado/anos 60

Gamal
O filho da televisão

D- A retomada

O cego que gritava luz

E- O mundo sem ilusões

Rua seis sem número

H - O documentário substitui a ficção

Vlado. 30 anos depois

2 - DOCUMENTÁRIOS

A - HISTÓRIA / O INÍCIO

Greve!
Liberdade de imprensa
Portinari, um pintor de Brodósqui


B- Cinema de rua e televisão

Migrantes
Wilsinho Galiléia
O buraco da comadre
Restos

C - Falando de Cinema com Jean claude Bernardet

Paulicéia Fantástica

D- O cineasta e sua câmera

Travessia

sexta-feira, 28 de maio de 2010

João Batista é o homenageado do 5° Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

Atenção fãs do cineasta João Batista de Andrade.

Quem quiser conferir as melhores obras do diretor, que possui uma vasta filmografia, poderá assistir gratuitamente alguns de seus mais premiados filmes durante o 5° Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo.

O Festival ainda não tem data marcada, mas acontecerá, como todos os anos, no mês de julho no Memorial da América Latina.

A Imprensa Oficial já está preparando uma versão atualizada da Filmografia do cineasta, que será lançada durante o Festival.

Todos os anos a curadoria do Festival elege um cineasta do cenário latino-americano para ser homenageado e neste ano de 2010 o escolhido foi o cineasta João Batista de Andrade.

Aguardem mais informações aqui no blog oficial do diretor.