1- Pelo Facebook:
O Fisico que virou suco finalmente se encontrou pessoalmente com o Documentarista Quantico João Batista de Andrade. Diretor de filmes imperdíveis (tentei escrever o impacto que cada um teve na minha vida, mas a postagem teria km, vou escrever aos poucos) e autor de livros deliciosos, dono de um olhar critico e de uma habilidade em contar histórias abstraindo a realidade cotidiana para algo mais atemporal, J.B. é um heroi, dono de uma coragem impensável para os dias atuais, mesmo com sua fala mansa e firme. Uma coragem ainda hoje rara !
E ainda tive o privilégio de ver ao seu lado, o primeiro filme completo (e censurado): Liberdade de Imprensa de 1967. Filme onde sua linguagem já é bem definida.
J.B. obrigado por sua obra. Ela me comove, me guia, me faz ser um cidadão mais questionador.
2- E-mail 06Out 2015:
Entrevista
João
Batista de Andrade
Priscila
Sales e Guilherme Providello
Os
trabalhos do cineasta e escritor João Batista de Andrade – e aqui o plural não
é mera concordância gramatical – sempre estiveram presentes no cotidiano dos
entrevistadores que aqui escrevem. Seja por meio da imagem em movimento, dos
passeios pelas páginas de seus livros, das discussões na mesa do café sobre os
temas que seu trabalho provoca ou mesmo colhendo os frutos de suas políticas
culturais que ressoaram aqui, numa cidadezinha do interior. O contato, pouco
formal pelas redes sociais, permitiu-se avançar, e a receptividade generosa
pelo universo virtual nos levou ao Memorial da América Latina para uma
entrevista. Ou melhor, para um diálogo, porque observamos naquele momento manifestar-se
sua capacidade de intervenção: um roteiro de perguntas que vimos se desdobrar
em outras paragens. Não poderia ser diferente, estávamos diante de uma pessoa
cindida entre emoção e razão. Como nos contou: “sou uma pessoa essencialmente
emotiva e acho que essa racionalidade veio para me aguentar”. Dono de uma
trajetória marcada pela história política brasileira dos últimos 50 anos, suas
obras enunciam uma vontade de intervir e provocar a sociedade. Por meio de um
percurso criativo e distante de um discurso polarizador, elege o diálogo como
ferramenta para incitar a reflexão. Neste caso, pouco importa se tem em suas
mãos uma câmera ou uma caneta. Cineasta engajado – mas que não se importa em
vestir uma gravata para atuar na direção de instituições culturais – trouxe às
telas mais dúvidas do que certezas. Juntamente com outros cineastas, ousou
levar à TV documentários que mostravam “um Brasil não oficial”: um ruído que
versava contra a autoridade e o conformismo.
Uma vasta obra cinematográfica que não nos deixa esquecer a complexidade
de um passado de ditadura: não para nos lembrar que esse passado existiu, mas
para discutir esse passado em nossa atualidade. João Batista de Andrade
transitou por diversas esferas: da militância dos movimentos sociais na década
de 1960, criou produtoras e festivais, escreveu livros, seus filmes ganharam o
mundo e diversos prêmios, produziu documentários para TV, trabalhou na
Cinemateca Brasileira, foi Secretário da Cultura do Estado de São Paulo e
atualmente é presidente da Fundação Memorial da América Latina. Não por acaso, em 2014, recebeu o Prêmio Juca
Pato como “Intelectual do Ano” e o Prêmio de Direitos Humanos da OAB. Enfim,
uma trajetória intensa, multifacetada e cheia de inspirações tão cultivadas no
palco da arte e da política, ou da política e da arte, distinção realmente
difícil de mensurar. Sensível às questões sociais travestidas em imagens,
literatura e ações, João Batista de Andrade observa “tenho uma relação direta
com a vida”, axioma presente em cada linha desta entrevista.