Republicando
Memórias de um combatente das imagens
Uma filmagem de ação policial: Em 1972,
estávamos começando nosso "Hora da Notícia" na TV Cultura (com Vladimir Herzog,
Fernando Jordão, Fernando Morais e outros bravos amigos). O "rádio escuta"
(fica escutando notícias para a pauta) me disse que haveria uma "Operação tira
da cama" naquele dia. Eu já havia visto: um horror facista: policiais armados
entravam nas favelas à noite, com holofotes, cães, arrebentavam as portas dos
barracos, tiravam todo mundo de lá, pedindo documentos. Onde estavam os
cinegrafistas filmando: entrando junto com a polícia.
Então eu chamei um cinegrafista que já havia participado dessa ação e disse: vai lá e filma do jeito que você sempre fez. Ele foi, filmou tudo ao lado da polícia. Eu fui com minha equipe no dia seguinte de manhã e passei a ouvir os moradores, os "invadidos". Eram relatos impressionantes inclusive de crianças, o medo das armas, dos cães, os holofotes nos olhos... Pois esses depoimentos, na montagem, cobriram as cenas de violência. Em 1972, com Médici no poder, ver isso na TV nos deixava arrepiados. Essa postura desenhava o que começávamos a elaborar, uma espécie de cartilha de oposição étuica e estética à ditadura: considerar que a autoridade na informação não era a autoridade institucional, mas aqueles que vivem a situação. Essa visão marcou nosso trabalho, todos os meus filmes, desde 1972 até a intervenção no programa, em 1974, quando saimos todos, expulsos da TV. Tenho muito orgulho do que fiz.
Então eu chamei um cinegrafista que já havia participado dessa ação e disse: vai lá e filma do jeito que você sempre fez. Ele foi, filmou tudo ao lado da polícia. Eu fui com minha equipe no dia seguinte de manhã e passei a ouvir os moradores, os "invadidos". Eram relatos impressionantes inclusive de crianças, o medo das armas, dos cães, os holofotes nos olhos... Pois esses depoimentos, na montagem, cobriram as cenas de violência. Em 1972, com Médici no poder, ver isso na TV nos deixava arrepiados. Essa postura desenhava o que começávamos a elaborar, uma espécie de cartilha de oposição étuica e estética à ditadura: considerar que a autoridade na informação não era a autoridade institucional, mas aqueles que vivem a situação. Essa visão marcou nosso trabalho, todos os meus filmes, desde 1972 até a intervenção no programa, em 1974, quando saimos todos, expulsos da TV. Tenho muito orgulho do que fiz.