terça-feira, 1 de janeiro de 2013

trocando de nome

O patrão teimava em chamá-lo de Leandro. E Castor corrigia, corrigia, corrigia. E de novo lá vinha o homem: "Leandro!". Um dia Castor resolveu por fim àquele incômodo. Enfrentaria o patrão, mesmo sob o risco de perder o emprego. Quando pensou que o patrão reagisse com fúria, deu-se o inusitado. O homem ficou silente, sentou-se sobre uma pedra e, com dificuldade, os olhos lacrimejando, definiu a situação. Sim, Leandro era outro, um ex-empregado. E despencou os elogios: era simples, trabalhador, honesto, de confiança. Tanto que o patrão foi aumentando seu salário para acabar propondo a ele que se tornasse seu... sócio! - Mas o pobre do verdadeiro Leandro não resistiu a tanta emoção: tombou ali mesmo, na hora, vitima de uma overdose de emoção. Pobre verdadeiro Leandro. Castor escutou, tenatando decifrar as lágrimas do patrão. Sim, entendeu finalmente: o patrão queria que ele substituisse o empregado perdido. "Chamar você de Leandro é uma honra poara você, Castor". Castor esperou, sabia que atrás dessa generosidade receberia uma proposta. "Seu coração, como é?"- "Meu coração é ótimo..."- "Então lá vai: quer ficar meu sócio?" Castor olhou em volta, tanto para fugir ao olhar insistente do patrão quanto para medir as consequências. Sócio de que? - o negócio não lhe parecia atraente, consertar velhos aparelhos de TV, muitos dos quais ultrapassados e que os donos nem apareceiam mais para buscar. O salário lhe parecia melhor, mais garantido. Mesmo que o patrão continuasse a chamá-lo pelo outro nome. E depois, mudar de nome? - o nome que sua mãe escolhera com tanto carinho, depois de ver uma repostagem na TV sobre aqueles animais construtores...Não...Até que seus pensamentos foram interrompidos por um grito irado do patrão: "E aí, Leandro, vai aceitar ou não?" Castor sentiu o peso da oferta. Talvez fosse melhor aceitar. E foi o que fez, achando até que "Leandro" não era um nome ruim.

Um comentário:

Maria Hilma Nery disse...

Gosto da suavidade com que João escreve.