Facebook 15Dez2017
Não vou deixar passar batido. Há 50 anos se realizava nas proximidades da Represa Billings, em São Paulo, na mais completa clandestinidade, o 6o. congresso do PCB. A reunião ocorreu em condições dramáticas, porque o Cenimar - serviço de inteligência da Marinha - havia infiltrado um agente entre os delegados de Pernambuco, que foi interceptado no Rio de Janeiro. O local do Congresso, na mata fechada, foi construído especificamente para isso, num esforço comandado por Dinarco Reis, responsável pela organização. Foi preciso fazer uma barragem para obter água para os banheiros; na cozinha, um forno de padaria, porque qualquer compra feita nas cidades próximas despertaria suspeitas, ainda mais porque o Jornal do Brasil havia noticiado que o Congresso estava em curso. Na véspera de começar, Salomão Malina, responsável pela auto-defesa, foi desativar uma granada defeituosa, que explodiu muito próximo da árvore que o protegia, lhe arrancou os dedos da mão direita e perfurou seu pulmão. Foi internado em coma, clandestinamente, operado de emergência e removido do hospital entre a vida e a morte. Mesmo nessas condições, o Congresso foi realizado concluído em segurança. Aprovou uma resolução política que orientou a atuação dos comunistas até a conquista de democracia e a legalização do PCB. A política de frente democrática -- "o centro da nossa tática é unir, organizar e mobilizar a classe operária e demais forças antiditatoriais na luta pela redemocratização do país" - apostava na resistência de massas, na participação nas eleições e na aliança com os liberais para derrotar a ditadura, rechaçando a luta armada como um instrumento eficaz de resistência ao regime. Foi a linha justa, a luta certa, cujo coroamento se deu por etapas, numa longa transição. Passou pelas vitórias eleitorais de 1974 e 1978, pela anistia em 1979, pela vitoria da oposição em 1982 e a eleição de Tancredo Neves, em 1985. Nesse processo, houve violenta repressão ao PCB, com prisões em massa em 1975, que culminaram na morte de Vladimir Herzog, depois do sequestro e desaparecimento de muitos dirigentes, entre os quais Orlando Bomfim, Luiz Maranhão, David Capistrano, João Massena, Itau Jose Veloso, Célio Guedes, Jose Montenegro de Lima, Jose Roman, Elson Costa, Valter Ribeiro, Hiran de Lima Pereira e Jayme Miranda. Mesmo depois da anistia, a perseguição prosseguiu. Coincidentemente, no dia 13 de dezembro de 1982, ou seja, há 35 anos, 89 dirigentes e militantes do ZoCB foram presos na Praça Dom Jose Gaspar, no centro de São Paulo, durante a abertura do 7o. Congresso, que foi interrompido, mas foi ali que se conquistou a legalidade, pois todos os participantes logo foram libertados. Apesar de processados com base na Lei de Seguranca Nacional, nunca fomos condenados ( eu era um dos delegados eleitos pelo Rio de Janeiro) , pois o julgamento foi suspenso e, logo depois, no dia 8 de maio de 1985, o PCB foi legalizado.
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