Achei na Internet esse texto, da Conceição Oliveira (ou da Rosana Jatobá?).
Achei no blog DESCREMAR
Vale a pena ler:
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Achei no blog DESCREMAR
Vale a pena ler:
O homem que virou suco, de João Batista de Andrade (1981)
(09 de março de 2011)
(Este é um pequeno comentário pessoal sobre
o filme, nada acadêmico ou resenhístico)
Em primeiro lugar, todos os que falam besteiras sobre a migração
nordestina(*) para São Paulo e defendem a paulistanidade, a "pureza" paulista,
deveriam assistir a esse filme e, abraçados àquela estátua ridícula do Borba
Gato, refletir sobre as questões que ele (o filme, não o Borba Gato)
apresenta.
O homem que virou suco fala da migração
nordestina para São Paulo no século XX, mais especificamente nas décadas de
1970/1980. Mostra uma São Paulo pulsante e decrépita, retrato e contraponto de
um Brasil em crise. Pulsante e decrépita porque cresce, constrói metrô, amplia
seu parque industrial e, ao mesmo tempo, ganha favelas, carros nas ruas, cinza
na paisagem. Retrato e contraponto porque é rica em um país pobre e sua riqueza
mostra características dessa pobreza.
Pobreza que move milhares de pessoas do Norte e
Nordeste para esse planalto que as absorve com uma crueldade incrível. Pobreza
que transparece na própria metrópole, nos rostos que aparentam fim de vida
enquanto, na verdade, é só o dia que acaba.
Pobreza que constrói obras ricas, prédios para
a classe alta. Pobreza que vira negócio para todos: desde o coronel da Paraíba
até a dondoca da Pauliceia.
O homem que virou suco fala de um
desencanto forçado, do condicionamento, do cabresto dos pensamentos e das ações.
Fala de preconceitos, de cosmopolitismo grotesco e assassino. Lança a questão
sobre o fim da crença na poesia.
O homem que virou suco aborda a loucura,
o limite do ser-humano, a neurose da vida moderna. Aborda a cachaça, o sexo, a
saudade. Aborda a vida e pergunta a ela, em estado febril e angustiado: "qualé a
tua, porra?"
O homem que virou suco é um filme
raivoso. Com esse título que parece comédia ou nome de livro infantil, ele
engana todo mundo, baba de raiva e cospe na sua cara, seu idiota, e você fica
pasmo, mas não indiferente.
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Passou na mostra Radical 80, que está rolando
no Centro Cultural São Paulo (programação aqui). Custa 1 real. O
cinema lá era gratuito. Passou a ser pago após decreto promulgado na calada do
ano passado, dia 28 de dezembro.
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(*) Post de Maria Frô comentando o assunto e
trazendo um bom texto de Rosana Jatobá: http://mariafro.com.br/wordpress/?p=18028
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