sexta-feira, 13 de julho de 2012

Novo Olhar sobre O HOMEM QUE VIROU SUCO

Achei na Internet esse texto, da Conceição Oliveira (ou da Rosana Jatobá?).
Achei no blog DESCREMAR
Vale a pena ler:

O homem que virou suco, de João Batista de Andrade (1981)

(09 de março de 2011)

(Este é um pequeno comentário pessoal sobre o filme, nada acadêmico ou resenhístico)

Em primeiro lugar, todos os que falam besteiras sobre a migração nordestina(*) para São Paulo e defendem a paulistanidade, a "pureza" paulista, deveriam assistir a esse filme e, abraçados àquela estátua ridícula do Borba Gato, refletir sobre as questões que ele (o filme, não o Borba Gato) apresenta.

O homem que virou suco fala da migração nordestina para São Paulo no século XX, mais especificamente nas décadas de 1970/1980. Mostra uma São Paulo pulsante e decrépita, retrato e contraponto de um Brasil em crise. Pulsante e decrépita porque cresce, constrói metrô, amplia seu parque industrial e, ao mesmo tempo, ganha favelas, carros nas ruas, cinza na paisagem. Retrato e contraponto porque é rica em um país pobre e sua riqueza mostra características dessa pobreza.

Pobreza que move milhares de pessoas do Norte e Nordeste para esse planalto que as absorve com uma crueldade incrível. Pobreza que transparece na própria metrópole, nos rostos que aparentam fim de vida enquanto, na verdade, é só o dia que acaba.

Pobreza que constrói obras ricas, prédios para a classe alta. Pobreza que vira negócio para todos: desde o coronel da Paraíba até a dondoca da Pauliceia.

O homem que virou suco fala de um desencanto forçado, do condicionamento, do cabresto dos pensamentos e das ações. Fala de preconceitos, de cosmopolitismo grotesco e assassino. Lança a questão sobre o fim da crença na poesia.

O homem que virou suco aborda a loucura, o limite do ser-humano, a neurose da vida moderna. Aborda a cachaça, o sexo, a saudade. Aborda a vida e pergunta a ela, em estado febril e angustiado: "qualé a tua, porra?"

O homem que virou suco é um filme raivoso. Com esse título que parece comédia ou nome de livro infantil, ele engana todo mundo, baba de raiva e cospe na sua cara, seu idiota, e você fica pasmo, mas não indiferente.

---
Passou na mostra Radical 80, que está rolando no Centro Cultural São Paulo (programação aqui). Custa 1 real. O cinema lá era gratuito. Passou a ser pago após decreto promulgado na calada do ano passado, dia 28 de dezembro.

---

(*) Post de Maria Frô comentando o assunto e trazendo um bom texto de Rosana Jatobá: http://mariafro.com.br/wordpress/?p=18028

Nenhum comentário: