quinta-feira, 4 de julho de 2013

reflexões sobre as passeatas e consequências

"Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar..." , na música do genial Paulinho da Viola.

As manifestações de rua, com todas as suas incertezas, bordas de violência, marcaram profundamente a vida política brasileira. Não falo só da perplexidade dos dirigentes, governantes, politicos em geral, que batem cabeça em busca de respostas e da saia-justa em que repentinamente se viram. Falo também da corrida de todos nós no sentido de buscar uma compreensão dessa inesperada avalanche que liquidificou conceitos e certezas. E ainda sabemos pouco. Tenho lido textos interessantes do Marco Aurélio Nogueira, da Marilena Chauí, muitos outros de orientações ideológicas distintas. Eu mesmo arrisquei, logo no início das manifestações, uma análise política, usando o termo "substituição", mostrando como a ascensão de um partido de esquerda ( então de esquerda), com viés de esquerda tradicional, praticou a absorção dos movimentos sociais para dentro do Governo/estado, esvaziando os sentidos e a independência desses movimentos. Escrevi há mais de cinco anos um artigo com essa visão, o "Deixa Comigo", onde imagino um governante que, saído dos movimentos populares, não precisa ouvir nada desses movimentos, pois sabe tudo deles e também por que levou para o governo os líderes desses movimentos. Essa "substituição" se esgota, deixa os movimentos sem lideranças, -até o momento em que a sociedade se vê aprisionada por essa lógica que não resolve, de fato, os entraves da vida social. E então, usando o melhor instrumento disponível, setores massificados da sociedade se rebelam contra essa submissão que, além de tudo é ineficaz e corrupta. Em outras eras poderia ter sido o boca-a-boca, o jornalzinho de poste, a panfletagem, etc. Hoje, a internet, que parece de fato um poder mágico mas  cujo uso vai deixando um rastro de realismo, a compreensão de que ali nada mais temos do que uma nova forma de comunicação e que as idéias ali pegam quando encontram eco entre os usuários. Penso que hoje, quando o mundo da política se movimenta no sentido de sua própria preservaçao e riscos de todos os lados, o desafio é o de enriquecer a atividade política. É preciso clareza de que os movimentos de massa não são nem serão capazes de dirigir o país. Sem os partidos, o risco enorme é entregar de bandeja essa função a qualquer ideia totalitária, como a de "democracia direta", que já alimentou ditaduras de esquerda e de direita. Penso que o fundamental agora é dirigir os movimentos no sentido de garantirem uma boa reforma política e o surgimento de uma nova democracia, principalmente a partir das eleições de 2014.

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