quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Arte e Vida

Postado no FB em 20Nov13

a- em minha página
Bom dia a todos.
Tenho tentado escrever meu quinto romance e não consigo.
Os personagens de "Confinados" ainda povoam minha imaginação.
Tudo tem seu tempo, toda dor, todo desejo, todo amor.
Ando pensando muito nisso, no tempo, na memória. 
Perto de meus 74 anos, bem perto, acho que as lembranças se amontoam em meus sonhos, - são tantas, quase me levam à loucura.
E muita gente sonha com a ampliação contínua dos tempos de vida, - até mesmo com a imortalidade.
Em meu filme "O cego que gritava luz" o personagem principal (Tonico Pereira), já bem velho e perturbado com as lembranças de tantos erros na vida, diz que a cada instante vamos acumulando nós de desafios não resolvidos, erros, frustrações, como um rabo a cada instante maior e mais difícil de arrastar...
Claro, eu fiz esse filme em 2005,depois de ficar 8 anos sem filmar por causa do plano Collor. Nesses oito anos vivi auto-exilado no Brasil central, tentando esquecer do passado, das perdas, - principalmente a perda da esperança e do futuro.
A volta ao cinema foi a volta de minha vida, seguindo os rastros de minha memória, a busca de recompor a ligação com meus filhos e com o próprio cinema.
Fui aprisionado de novo pelos sonhos.
E aqui estou eu, um pouco angustiado, arrastando meu imenso rabo, esperando o dia dos meus 74 anos.


COMENTÁRIOS:


b) na página do grupo CONFINADOS
Para que serve a arte, para que serve um livro?
Amanheci tomado ainda pelas perturbações de sonhos, a memória efervescente atirando passagens de minha longa vida. Os personagens de "Confinados" ainda me pedem soluções, caminhos, parecem pessoas comuns de meu cotidiano. Embora eu os tenha criado, eles são, na verdade, criações do mundo a partir de minha vivência em sociedade. Por isso sempre que penso que são meus eles se rebelam, não, não são meus, são da humanidade. 
Não sei por que, saio da cama cantarolando Caiymmi, "no abaeté tem uma lagoa escura, arrodeada de areia branca; de manhã cedo quando a lavadeira passa bem perto do abaeté, vai se benzendo por que diz que ouve, ouve a zoada do baucajé...". Eu me entusiasmo com minha própria voz grave, imito Caymmi. E percebo o que é essa "lagoa escura arrodeada de areia branca" em minha vida. Isso me leva para outros pensamentos, a reflexão do que fazem os artistas, de como são importantes para nos ajudar a enfrentar os enigmas da vida.

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